Por Adilson Carvalho

É compreensível que uma franquia tão longeva quanto “Star Trek” esbarre em um misto de entusiasmo e desconfiança a cada produto novo relacionado. São quase 56 anos desde o primeiro vôo da Enterprise, e o lançamento de “Star Trek Strange New Worlds” na Paramount Plus consegue injetar novo fôlego e restaurar o espírito da série original. A ideia de entregar o protagonismo à tripulação da Enterprise sob o comando do Capitão Pike (Anson Mount) já não era sem tempo. O personagem esteve presente em “The Cage“, o primeiro piloto rejeitado da série e sua presença foi relevante tanto na série original, no reboot de J.J Abrams e na série “Star Trek Discovery“, ainda em produção.

Os eventos que servem de gatilho para a série do Capitão Pike estão enraizadas em “Star Trek Discovery” e nos cânones que fazem a franquia tão popular. O Capitão Pike de Anson Mount consegue ter identidade própria, se distinguindo de Kirk e Picard, mas trazendo de volta aquele olhar reflexivo e questionador que Jeffrey Hunter imprimiu em “The Cage“. O ator inicia seu arco de aventuras com um elenco de apoio que traz de volta personagens icônicos como Spock (Ethan Peck), a enfermeira Christine Chapel (Jess Bush) e Uhura (Celia Rose Gooding). A primeira oficial “Number One”, vivida por Majel Barret em “The Cage” é vivida por Rebecca Romjin (a Mística da primeira geração de “X-Men” no cinema). Entre os personagens novos o episódio piloto destaca a oficial L’ann Noonien Sing (Christine Chong) cujo nome desperta a lembrança do vilão Khan (Ricardo Montalban / Benedict Cumberbatch), embora essa ligação não seja inicialmente explorada.
O roteiro de Akiva Goldsman, Jenny Lumet e Alex Kurtzman consegue trazer de forma bem equilbrada ação, humor e construção de personagens. Goldman (Uma Mente Brilhante) faz um excelente trabalho na direção restaurando a natureza episódica mas deixando aquele gostinho de “quero mais”, e ainda nos fazendo lembrar por que a ficção científica é um gênero tão apaixonante, não pelos efeitos especiais tão somente, mas pela criatividade em falar de questões relevantes seja a mortalidade humana ou questões filosóficas que permeiam nossa história. Nisso, a escolha do clássico “O dia em que a terra parou” (1951) foi perfeita para iniciar esse novo ciclo de aventuras baseado nas ideias de Gene Roddenberry (1921-1991) , e restaurar sua visão de que nossa maior força é trabalhar em conjunto, explorar, conhecer, ir audaciosamente onde poderíamos, ao menos na ficção. Os episódios de “Star Trek Strange New Worlds” serão lançados na Paramount Plus toda semana. Eu já subi à bordo, agora faltam vocês !
