CLÁSSICO REVISITADO – 60 ANOS O SOL É PARA TODOS

Por Adilson Carvalho

Os recentes ataques racistas sofridos pela atriz Halle Bailey, que interpreta a personagem Ariel no novo filme live action A Pequena Sereia“, vem reacendendo uma onda de ódio e intolerância que se reproduz rapidamente pela internet onde comentários negativos atacaram a escolha de negros e latinos como elfos. O sonho de Martin Luther King parece se distanciar demais da realidade. Por isso, muito apropriado lembrarmos de “O Sol É Para Todos” (To Kill a Mockinbird), uma belíssima lição que não deveríamos esquecer.

O romance “To Kill a Mockingbird“, escrito por Harper Lee(1926-2016),foi publicado em 11 de julho de 1960 e foi um sucesso de público e crítica vendendo mais de 40 milhões de cópias. No ano seguinte, o romance recebeu o Pulitzer, principal prêmio literário americano e deu origem a um filme homônimo, vencedor do Oscar de melhor roteiro adaptado em 1962. A história se passa em uma cidade cheia de preconceitos no sul dos Estados Unidos na década de 30., sendo contada sob a perspectiva de duas crianças cujo pai, o advogado liberal Atticus Finch (Gregory Peck) defende o lavrador negro Tom Robinson (Brock Peters 1928-2005) que é acusado de estupro. Atticus foi escrito por Harper Lee tendo se próprio pai, o advogado Amasa “A.C.” Lee como modelo. O pai da autora também defendeu cliente negro em 1923 e ao morrer aos 82 anos durante as filmagens de O Sol É Para Todos. A autora deu a Gregory Peck o relógio de pulso que pertencera a seu pai e o ator o usou na noite de abril de 1963, em que ganhou o Oscar pelo papel. A Obra é, sendo assim, autobiográfica e a autora usa suas memórias para narrar os fatos que se sucedem em sua pequena localidade em uma época de grande violência racial. O diretor Robert Mulligan (1925-2008) consegue desenvolver as cenas de tribunal com vigor, sem abandonar os dramas dos personagens periféricos como a pequena Scout (Mary BadhamSra. Dubose (Ruth White 1914-1969), Calpurnia (Estelle Evans 1906-1985), a vítima, a jovem branca Mayella Ewell (Collin Wilcox Paxton) ou o albino Boo Radley (Robert Duvall). Este em sua estreia nas telas embora não tenha falas. Todos tem seu tempo em tela bem desenvolvidos.

O personagem de Atticus Finch foi o favorito do astro Gregory Peck ( 1916-2013), com quem o ator mais se identificou, e não à toa figurou como o número um na lista 100 Years…100 Heroes and Villains promovida pelo AFI (American Film Institute) com os 100 maiores heróis e vilões do cinema americano em junho de 2003. Também foi o papel que lhe deu o Oscar de melhor ator dentre suas cinco indicações ao prêmio da academia. A consagração do filme no Oscar se deu quatro meses antes da história marcha em Washington, liderada por Martin Luther King, que reuniu mais de 250 000 pessoas clamando por liberdade, trabalho, justiça social e pelo fim da segregação racial contra a população negra do país. No ano seguinte King foi laureado com o Prêmio Nobel da Paz e cinco anos depois o grande líder foi assassinado em um quarto de motel em que se hospedara para mais um de seus atos públicos. Hoje 60 anos do lançamento de “O Sol é Para Todos“, ainda nos encontramos divididos pelo ódio e intolerância. Que possamos lembrar das palavras de Atticus em seu discurso no tribunal, de que somos criados iguais perante Deus. Ou das palavras de Martin Luther King cujo sonho era viver em nação onde as pessoas não sejam julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter.

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