Por Adilson Carvalho

Nada mais justo que, falando de Halloween, tratemos dos próprios seres que batizam a data. No imaginário popular, as bruxas são retratadas como mulheres velhas, narigudas, que voam em vassouras vestidas de preto e com um chapéu pontiagudo. Sua existência já foi contada em livros e filmes das mais variadas formas, ora como as vilãs ou até mesmo no papel de heroínas. Em tempos medievais, a tradição oral fez notória a história de João e Maria (Hansel & Gretel) nas florestas germânicas em que uma bruxa que os aprisiona e os alimenta com intenção de devorá-los. Os Irmãos Grimm escreveram a versão escrita que veio a ser publicada no início do século XIX. Em 1937, o escritor Monteiro Lobato incluiu a história no livro de contos “Histórias de Tia Anastácia”. O próprio autor paulistano deixou sua imaginação fluir e criou a Cuca, uma feiticeira em um corpo de Jacaré que se tornou a vilã nas histórias do “Sitio do Pica-pau Amarelo” escritas entre 1920 e 1947. No cinema, em tempos recentes tivemos “João & Maria – Caçadores de Bruxas” (2013) com as crianças já adultas e em clima de filme de ação. Sete anos depois uma reaproximação do conto original gerou “Maria & João – O Conto das Bruxas” (2020) mais voltado para o terror.

Também da era medieval, uma das bruxas mais notórias é Morgana, também uma das personagens centrais nas lendas arturianas transpostas da tradição oral para o papel por Sir Thomas Mallory no livro “Le Morte d’Arthur” de 1947, um dos primeiros livros publicados na Inglaterra com o advento da imprensa. Que não fique, no entanto, a impressão de que a era medieval foi o berço desses personagens mágicos. A antiga Grécia já relatava a ação de bruxas junto a grandes eventos como Circe, uma poderosa feiticeira presente na “Odisséia” de Homero. O dramaturgo William Shakespeare as retratou como profetizas na obra clássica “Macbeth”, escrita no século XVII. A história registra um episódio particular ocorrido por volta de 1692 em Salem, Massachussets, o lendário julgamento de bruxas. Movidos pela ignorância e pela superstição os regentes do povoado acusaram mais de 100 mulheres de práticas ligadas à magia negra, incluindo curandeiras e qualquer uma cujo comportamento indicasse algum desvio de comportamento. Vinte pessoas, na maioria mulheres, foram submetidas a torturas até que confessassem e morreram, executadas pelos dirigentes de Salem. O excelente “A Bruxa” (2016) de Robert Eggars revisita esse período e constrói uma atmosfera de terror invejável para muitos exemplares do gênero.

Muitos séculos depois, a cultura pop viria a mostrar as bruxas sob um aspecto diametralmente oposto: O seriado “A Feitiçeira” (Bewitched) trazia Elizabeth Montgomery no papel de Samantha Stevens, uma bruxa que abdicara de uma vida de mágica para ser dona de casa, mas seus poderes e a presença de seus familiares tumultuava a paz de de seu marido, o publicitário James Stephens (Dick York). O seriado durou 8 temporadas e a bruxaria serviu como metáfora para um casamento entre classes sociais opostas. Na década de 90, a atriz Melissa Joan Hart, e décadas depois Kiernan Shipka interpretaram a bruxa adolescente “Sabrina” em dois seriados. Bruxas vem sendo tema de filmes de super heróis como “Wandavisão” (2020), comédias românticas como “Da Magia à Sedução” (1998) ou fábulas clássicas como “Oz – Mágico & Poderoso” (2013) e ainda personagens divertidas e atrapalhadas como em “Abracadabra” (1993) e “Abracadabra 2” (2022). Certamente estaremos sempre vendo e revendo essas mitológicas criaturas que são pura macumba ou pura diversão.