POLTRONA 3 BEM VINDO À VIZINHANÇA

Por Adilson Carvalho

Bem Vindo À Vizinhança (The Watcher). Criação: Ryan Murphy & Ian Brennan. Com Naomi Watts, Bobby Carnavale, Jennifer Coolidge, Richard Kind, Margot Martindale, Mia Farrow, Terry Kinney. (Disponível na Netflix)

Naomi Watts & Bobby Carnavale

Uma bom história de suspense é sempre um agradável exercício para uma mente atraída por desvendar mistérios. Depois de explorar a mente de um psicopata na bem sucedida “Dahmer – Um Canibal Americano“, Ryan Murphy (junto de Ian Brennan) resolveu enveredar pelo suspense urbano, nos tornando cúmplices da simpática família Brannock. Nos primeiros episódios, o casal Dean (Bobby Carnavale) e Nora (Naomi Watts) compra a casa dos sonhos na idílica Westfield, em Nova Jersey. Para lá mudam com os filhos Ellie (Isabel Gravitti) e Carter (Luke David Blumm), e a partir daí seguem uma série de incidentes insólitos, com a família Brannock sendo espionados, ameaçados e tendo a casa invadida por um inimigo invisível; sem que consigam, no entanto, provar qualquer coisa para o o cético detetive Chamberlain (Christopher McDonald), chefe de polícia. Segredos e mentiras proliferam entre os aparentemente inofensivos vizinhos Mo (Margot Martindale) e Mitch (Richard Kind) ou os irmãos idosos Pearl (Mia Farrow) e Jasper (Terry Kinney). A tensão resultante se soma à frustração profissional e financeira do casal que empenhou todas suas economias na vida nova, ou as complicadas relações familiares afetadas por conflitos com a filha que deixa a adolescencia ou com o filho que tem seu furão de estimação morto por um invasor.

Mia Farrow & Terry Kinney

Murphy consegue nos primeiros três episódios apresentar os personagens e mergulhar em seus perfis psicológicos construindo um eficiente thriller seguindo os passos hithcockianos. O ponto fraco é que ela se estende demais, melhor se coubesse dentro de um número menor de episódios ou no formato de um longametragem já que os constantes plot twists chegam a um momento que confundem e diluem a trama que mistura toques sobrenaturais à velha fórmula do whodunit tradicional. Compensa o fato do elenco segurar todos esses altos e baixos com talento e carisma. O casal formado por Bobby Carnavale (O Irlandês, Pai em Dose Dupla) e Naomi Watts (King Kong, O Chamado) desperta simpatias, atrai identificação para seus personagens, seus medos e conflitos alimentados por uma teia de segredos e mentiras. Impossível não destacar Mia Farrow (O bebê de Rosemery, Hannah & suas Irmãs) como Pearl, tão adoravelmente inofensiva como assustadoramente ameaçadora. A presença da ex senhora Woody Allen preenche a tela e faz a trama insólita girar. As personagens de Jennifer Coolidge (American Pie) como a corretora de imóveis que foi amiga de escola de Nora (Watts) e de Noma Dumezueni como a detetive que investiga a autoria de misteriosas cartas endereçadas à família Brannock, de conteúdo assustadoramente voyeuristico.

Richard Kind & Margot Martindale

Incrível é o fato de que tudo isso de fato aconteceu com a família Broaddus em 2014 e até hoje ninguém descobriu o que aconteceu, ou quem era o misterioso Vigia. Ryan Murphy se consolida assim como um escritor criativo capaz de transitar por gêneros distintos com uma marca de criatividade notável, e no caso dos 7 episódios de “Bem Vindos à Vizinhança” fletar com o sobrenatural e o whodunit tradicional para trazer nesta adaptação de fatos verídicos uma curiosa representação do inusitado em nossos cotidianos.

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