ENTREVISTA COM A DUBLADORA EVIE SAIDE

Por Equipe CCP

Apresentação: Atriz, cantora e dubladora, a voz de Evie Saide embala nossas emoções. Como heroína é a voz da Capitã Carter no recente “Dr.Estranho no Multiverso da Loucura”, personagem que também viveu nos filmes do Capitão América e dos Vingadores. Na DC é a voz da Arlequina (Margot Robbie) do Esquadrão Suicida e de Aves de Rapina. Em “Águas Rasas“, é sua a voz da atriz Blake Lively. Sua versatilidade é tanta que emprestou sua voz para animações como a Genómica de “Monstros e Alienígenas“, a Safira Estrela de “Justiça Jovem”, a Penélope Charmosa de “Corrida Maluca” e a boneca Barbie. Temos muito orgulho em encontrar a talentosa Evie Saide, uma das vozes mais bonitas do Brasil.

CCP: Você desde pequena já tinha vontade de atuar e dublar? Como foi para você iniciar sua carreira? Desde pequena eu queria ser atriz e participava de tudo na escola. Eu sempre gostei de fazer as vozes de personagens, e quando aos 8 anos meu pai comprou um videocassete, assisti “A Pequena Sereia” umas três vezes. Contei a história para minha mãe com todos os detalhes, fazendo as vozes. Minha mãe disse que tinha a sensação de que havia assistido ao filme diversas vezes devido à riqueza de detalhes que eu dei. Eu nem sabia na época que criança podia dublar e quando cresci fui fazer artes cênicas pois todo dublador precisa ser ator. No último ano da faculdade passei a fazer curso de dublagem e comecei a dublar já aos 21 anos. Meu ex professor de dublagem me chamou então para dublar a Dahlia na animação “Skyland“. Foi minha primeira vez em um estúdio de dublagem, o Double Sound, e já com um personagem fixo

CCP: Você tem alguma referência que lhe inspire na arte da dublagem? Um ídolo ou profissional do ramo que muito você vem a admirar?

Sempre gostei muito do trabalho da Miriam Fischer (a dubladora da Nicole Kidman), mas também há vários outros que admiro. Gosto também do trabalho do Sergio Stern (o Mike Wazowski de “Monstros S.A“), o Márcio Simões (o Gênio do “Aladim“) entre outros que têm vozes muito marcantes. São muitos os colegas que são ótimos profissionais e pessoas. As pessoas que acompanham o trabalho de dublagem costumam dizer que quando um dublador fala, ele parece que está sendo dublado. Tive uma noção disso quando minha filha dublou o Homem de Ferro em “Vingadores : Ultimato” (Te amo mil milhões !). Meu marido conseguiu gravar um vídeo com ela antes de dormir no qual ela fazia a cena. Quando postamos, muitos disseram que ela parecia que estava sendo dublada.

CCP: Como é para você conciliar o trabalho de atriz, cantora e dubladora, bem como também a relação com os fãs?

Hoje em dia sou dubladora mais do que qualquer outra coisa. Já trabalhei no teatro, mas atualmente minha vida de atriz vem do meu trabalho na dublagem. Tenho muito prazer também de meu trabalho aqui no coral da escola (Colégio Imaculado Coração de Maria) e dou aula de dublagem para crianças. A dublagem é muito instável, tem épocas que aparecem muitos trabalhos para conciliar, e em outras você vive o oposto pois a dublagem é um trabalho muito sazonal. Eu trabalho para mais de 20 estúdios de dublagem no Rio de Janeiro e São Paulo. Cada dia meu trabalho é diferente do outro por conta disso.

Te amo mil milhões !!

CCP: Você acha que existe diferença no espaço dado pelo mercado às dubladoras de hoje quando comparadas às dubladoras do passado?

Hoje em dia os dubladores já tem seus nomes incluídos nos créditos finais, mas depois dos atores e membros da equipe técnica. Para assistir tem que ficar até o final, quando a equipe de limpeza das salas já está a postos e olhando para o público. Antigamente nem isso tínhamos, e só percebíamos a voz dos dubladores quando apareciam em alguma novela da TV. Quando um personagem era dublado por algum ator famoso da TV, ele recebia o maior destaque, mas o cara que dublava há 30 anos e fazia um trabalho maravilhoso não. Isso já vem mudando graças ao interesse do público que curte o trabalho da dublagem. O público quer as vozes que eles gostam e acompanham pelas redes sociais. Em um cinema de Cuiabá, um cartaz do filme “O Esquadrão Suicida” trazia o nome do elenco americano e logo abaixo dos dubladores. O meu aparecia logo abaixo da Margot Robbie. Que coisa bacana esse reconhecimento para todos os colegas da área. Hoje em dia tem muito mais reconhecimento que antes. Na TV também aparece no final dos filmes exibidos a relação dos dubladores “Com as vozes de …. “.

CCP: Como você avalia o papel das mídias digitais para os dubladores no mercado atual?

As mídias sociais ajudam muito a movimentar os fãs e a expressar sua preferência pelas vozes dos personagens que acompanham.

CCP: Qual é a maior dificuldade para o profissional da dublagem?

Como em toda área profissional existem alguns obstáculos. Na dublagem muitas vezes alguém não qualificado pega um papel porque é indicado por alguém influente, tirando o trabalho de dubladores profissionais. Por isso muitas vezes, determinados filmes chegam à televisão com uma dublagem pobre e mal feita. Às vezes também vozes de bonecos (personagens) são trocadas e nenhuma satisfação é dada. Como em qualquer área profissional, coisas acontecem e nem todas são agradáveis.

CCP: A tecnologia melhorou ou dificultou o trabalho do dublador?

Antigamente os dubladores gravavam reunidos em uma mesma sala, mas hoje (Já antes mesmo da pandemia) gravamos sozinhos no estúdio e em diversos canais que a tecnologia permite serem depois editados e reunidos. Também gravamos juntos faixas de diálogo de fundo (chamamos de vozerio) onde há pessoas em uma cena gravada um restaurante ou sala de aula, e que compõem uma cena de pano de fundo. Depois da pandemia até o vozerio passamos a fazer sozinhos. Quando gravávamos todos juntos, se um de nós errasse uma fala, todos teriam que refazer toda a cena, mas agora como gravamos sozinhos conseguimos fazer e refazer editando tudo depois sem precisar que todo um elenco faça repetidas vezes a mesma cena. A tecnologia melhorou muito a dublagem.

CCP: A dublagem é mais valorizada fora do Brasil que em nosso país?

Não sei responder, pois não tenho muito contato com a forma com que a dublagem acontece em outros países.

Agradecimentos à Evie Saide e ao Colégio Imaculado Coração de Maria que tornou possível esse agradável encontro.

Créditos – Equipe CCP 
⦁ Adilson Carvalho (Editor Chefe)
⦁ Paulo Telles (Colunista “Cine Retro Boa Vista”)
⦁ Sérgio Cortez (Colunista “Prelo & Película”)

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