Por Adilson Carvalho

A Adaptação – Ian Fleming, na verdade, já havia recebido várias propostas para levar Bond para o cinema, inclusive um roteiro co-desenvolvido junto com o produtor irlandês Kevin McClory e que se tornaria, tempos depois, o livro “Thunderball” (007 Contra a Chantagem Atômica”) – gerando um incidente legal que demoraria anos para se resolver, já que Fleming não deu crédito a McClory. Quando, em Abril de 1961, Harry Saltzman procurou Fleming para lhe propor adaptar as aventuras de Bond de forma seriada, com um contrato para vários filmes, este convalescia, em uma clínica londrina, de um ataque cardíaco. Depois de cinco meses, Saltzman, ainda, não havia conseguido fechar com nenhum estúdio, pois estes temiam financiar um projeto tão longo, mantendo um mesmo ator sob contrato. Explica-se: o risco de um fracasso significaria um compromisso, a longo prazo, e um prejuízo enorme em uma época na qual a indústria cinematográfica não se voltava para franquias. Ao fim do prazo que obteve para desenvolver o projeto, Saltzman teve contato com o produtor Albert Broccoli, igualmente interessado em explorar o potencial das aventuras de 007. Unindo suas forças, ambos conseguiram – em Junho de 1961- convencer os executivos, dos estúdios da United Artists, a assumir um orçamento inicial estimado em US$1,000,000,00.

O livro escolhido para inaugurar a cine-série foi, na verdade, o 6º livro de James Bond. A ideia inicial havia surgido em um roteiro que Fleming desenvolvera para uma série de TV intitulada “Commander Jamaica” – que nunca chegou a ser realizada. A escolha se deu por motivos financeiros, já que o filme se passa todo em uma única locação, a Jamaica (que era lar de Ian Fleming, onde este tinha uma enorme propriedade batizada de “Goldeneye”, curiosamente, nome da 1ª aventura protagonizada por Pierce Brosnan, nos anos 90), com poucas cenas que exigiam efeitos especiais, como o uso do Tanque Dragão e a destruição do laboratório do Dr. No, ao final do filme. O investimento, relativamente baixo, serviria de consolo, caso o filme fosse mal sucedido nas bilheterias. A escolha de Sean Connery, para interpretar Bond, desagradou aos executivos da United Artists, que o rejeitaram de início, sendo depois convencidos, por Brocolli e Saltzman, que encontraram nele o tipo físico ideal para um papel de ação, capaz de segurar um copo de Martini (batido, nunca mexido) com o mesmo charme e garra com que empunharia sua pistola Wather PPK. Connery, também, precisou enfrentar a resistência do próprio criador do personagem. Ian Fleming desejava ver seu super agente secreto na pele de James Mason ou David Niven. Também, houve a cogitação de Richard Burton, Steve Reeves, Rex Harrisson e até Cary Grant, nenhum deles com a idade, ou a vitalidade, necessária para o papel de Bond. Connery conseguiu o papel recebendo US$20,000,00 de salário, além de pequena participação nos lucros, começando a filmar, em Janeiro de 1962.

Curiosamente, a famosa cena inicial dos filmes de Bond, com o personagem seguido pela lente de uma câmera, e atirando em sua direção, foi feita depois de encerrada as filmagens, por Bob Simmons, dublê de Connery, e só foi refeita, já com Connery, por ocasião do quarto filme “007 Contra a Chantagem Atômica”. O famoso tema musical, atribuído a John Barry, também, não é uma composição original. Barry utilizou a canção “Good Sign, Bad Sign”, composta por Monty Norman para um musical não realizado, mudando o arranjo para a forma que se tornou, mundialmente, conhecida. Depois de muitos contratempos, “Dr. No” foi finalizado. Desacreditado pelos executivos da United Artists, que não apostavam no sucesso de um filme estrelado por “um estivador” (se referindo ao, então, desconhecido Sean Connery) e decididos a não produzir nenhuma sequência. No entanto, antes de ser distribuído nos Estados Unidos – onde foi mal recebido na região centro-oeste do país – o filme foi bem recebido na Europa, impulsionando a arrecadação de bilheteria e convencendo a United Artists a seguir adiante com novos filmes. Não perca na semana que vem a terceira e última parte desse artigo.