Por Adilson Carvalho
#5. Os Aeronautas (Prime Video)

Mesmo quando os obstáculos parecem intransponíveis, pessoas de coragem chegam para mudar o horizonte diante de nós. Lançado no final de 2019, pelo Amazon Studios, Os Aeronautas, trata exatamente desse espírito audaz e aventureiro que impulsionou grandes feitos na história. Adaptado do livro “Talking upwards: how we topo the air” de Richard Holmes, o filme mostra a conquista dos céus por um casal de balonistas em plena Inglaterra Vitoriana. James Glaisher (Eddie Redmayne) acredita que é possível prever o tempo mas, desacreditado em suas teorias climáticas, só encontra apoio na inquieta Amelia Wren (Felicity Jones), que desafia as convenções de sua época para acompanhar Glaisher a uma altura impressionante, à mercê dos perigos oferecidos pela atmosfera rarefeita, pela temperatura e as intempéries. Amélia é um personagem anacrônico, à frente de sua época na qual mulheres não embarcavam em balões nem eram levadas à sério pela comunidade científica. Ainda assim, é sua presença em cena que impulsiona a narrativa e conduz o determinismo de Glaisher em chegar acima da atmosfera para realizar seu experimento. Se por um lado é ele a mente científica, é Amelia seu motor propulsor e também sua salvadora quando a morte parece eminente.

A personagem de Felicity Jones não existiu na vida real, mas foi fortemente inspirada na figura de Sophie Blanchard (1778-1819), a primeira mulher a ter se tornado uma balonista profissional, e que chegou a ser condecorada por Napoleão Bonaparte. Esta, porém, nunca conheceu James Glaisher, que entre 1862 e 1866 fez vários avanços que desenvolveram a meteorologia, subindo em um balão com seu co-piloto Henry Tracy Coxwell, omitido no filme, tendo ambos quebrado o recorde mundial de altitude em 5 de setembro de 1862. O nome de Amelia certamente evoca a aviadora Amelia Earhart que foi a primeira mulher a cruzar a Atlântico na década de 30, e que desapareceu misteriosamente. Os caminhos dela e de Glaisher se cruzam guiados pela ambição em cruzar uma nova fronteira e marcar seus nomes na história, o que fazem em tempo real já que uma vez a bordo do balão, os personagens passam mil perigos como tempestades, raios e outros até sua volta segura à Terra sem imaginar como seriam testados até o limite de sua resistência. Os efeitos especiais são perfeitamente integrados ao roteiro de Jacob Thorne (Extraordinário) conseguindo, mesmo que na tela da Tv, nos fazer sentir medo, tensão, ansiedade e a medida da coragem e do pioneirismo ainda que fato e ficção estejam minuciosamente costurados para promover entretenimento. Se por um lado, a sequência em que Amelia sobe no topo do balão sozinha a centenas de pés de altitude bebe do heroísmo cinematográfico; a cena em que o cão, no começo do filme, é atirado de paraquedas do alto de um balão fez parte de experiências realizadas por Jean-Pierre Blanchard (1753-1809), marido de Sophie, no final do século XVIII. As cenas que reproduzem o horizonte londrino são belíssimas, triunfo da fotografia de George Steel (Black Mirror, The Son) que consegue imprimir na tela a beleza do firmamento e o perigo das forças naturais, uma impressionante dicotomia de cores e formas que envolve o espectador. A química entre os atores é perceptível, repetindo o que ambos fizeram em cena em A Teoria de Tudo (The Theory of Everything) de 2014.

O filme dirigido por Tom Harper é interessante, aventura envolvente que eleva o casal Amelia-Glaisher ao patamar de heróis literários como Phileas Fogg (A Volta ao Mundo em 80 Dias, de Jules Verne) ou pioneiros da história como Benjamim Franklin ou o nosso Santos Dumont conseguindo equilibrar bem momentos de ação e emoção. Talvez o grande achado de assistir Os Aeronautas seja brindar o espírito humano seja testado pelos limites da natureza ou no cenário atual de pandemia, reafirmando que tudo podemos superar, movidos pelo esforço e a vontade de superar adversidades.