31 FILMES PARA VER NO STREAMING … ANTES DO FIM DE ANO

Por Adilson Carvalho

#8 ENTRE FACAS & SEGREDOS (NETFLIX)

Um dos gêneros literários mais populares é o romance policial, nascido em fins do século XIX com Edgar Allan Poe, requintado pela narrativa Sherlockiana e, em paralelo, chegando à rainha do crime, alcunha de Dame Agatha Christie (1980 – 1976), uma das autoras mais lidas no mundo, adaptadas várias vezes para outras mídias e que conquistou a admiração do roteirista e diretor Rhian Johnson.

     Já houve vários títulos que prestaram devida e merecida homenagem ao “whodunit”, narrativa de mistério centrada em um detetive que investiga uma lista de suspeitos de um crime intricado. Lembro de Assassinato por Morte (1976), Os Sete Suspeitos (1985) e da franquia A Pantera Cor-de-Rosa (1964/2006) que brincam com a figura do investigador genial capaz de enxergar entre fumaças e espelhos de uma investigação, em um jogo de gato e rato nada elementar. Johnson presta tributo ao gênero reunindo um elenco all-star com Daniel Craig (007 Sem Tempo Para Morrer) à frente deste como o famoso Benoit Blanc, um amálgama cinematográfico das personas de Hercule Poirot e Columbo com olhar clínico para entrevistar os membros da família de Harlan Thombley (Christopher Plummer), um escritor de mistérios milionário que é encontrado com a garganta cortada em seu estúdio.

      O filme é entrecortado por vários depoimentos e flashbacks de uma família moralmente disfuncional onde a mentira e a dissimulação é regra vital para garantir interesses financeiros. Plummer, o Capitão Von Trapp do clássico “A Noviça Rebelde”, aparece pouco mas ganha a atenção sua cumplicidade e amizade com a enfermeira Martha Cabrera (Ana de Armas do recente Blonde). Esta faz um papel chave, mas o roteiro é tão bem escrito que as cenas são bem distribuídas para que Jamie Lee Curtis (Halloween Ends) , Michael Shannon (O Homem de Aço), Tony Collete (O Sexto Sentido) e Chris Evans (Capitão América) tenham passagens muito bem inseridas no mistério que se desenrola em três atos. Primeiro o crime cometido e os interrogatórios de Benoit Blanc seguem a estrutura de histórias como Assassinato no Expresso do Oriente e Morte no Nilo até a primeira hora quando Johnson subverte a estrutura narrativa e revela o assassino. A partir daí o filme mistura o suspense hitchcockiano com o clima da tele série Columbo, onde o criminoso, revelado somente aos olhos do público, procura apagar seu rastro, sendo implacavelmente perseguido pelo detetive. A medida que essa segunda parte se desenrola, temos uma mudança brusca de rumo quando Rhian Johnson retoma o clima das novelas de Agatha Christie em um criativo plot-twist que exalta a capacidade do cinema de ainda ser criativo não por romper com os clichês, mas por justamente não negá-los, brincando com estes. Assim, Johnson conseguiu resultado superior ao seu trabalho atrás das câmeras em Star Wars: O Ultimo Jedi (2017), que dividiu opiniões.

        O filme está merecidamente ganhando seu valor conquistando 3 indicações aos Globo de Ouro 2020, 3 indicações ao Critics Choice Award, além de outras honrarias. Dificil é imaginar quando poderíamos reencontrar Benoit Blanc já que uma segunda aventura seria bastante pertinente, bem vinda, e a prova que na literatura e no cinema o crime não apenas compensa, como diverte. Benoic Blanc, a propósito, está de volta em poucas semanas na Netflix na sequência Glass Onion – A Knives Out Mystery. Só aguardar.

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