STAN LEE 100 ANOS PARTE II – O INCRÍVEL HULK

Por Leo Banner

Dando continuidade ao nascimento da Era Marvel das HQs capitaneada por STAN LEE, temos duas grandes criações no ano de 1962, a saber: O Incrível Hulk no título THE INCREDIBLE HULK #1 e o Espetacular Homem-Aranha, na derradeira edição do título AMAZING FANTASY #15 (não, eu não me esqueci do Homem-Formiga que surgiu também em 1962 nas páginas de TALES TO ASTONISH, mas o foco no momento são as principais criações, e nosso querido Doutor Pym só foi ganhar maior relevância depois que se juntou aos Vingadores, ok?😁😉). O Hulk partiu da ideia que Stan desejava ter um monstro como protagonista, inspirado em clássicos como o filme Frankenstein de 1931 (estrelado por Boris Karloff) e o livro “O Estranho Caso do Dr. Jekyll e do Sr. Hyde” de Robert Louis Stevenson (chamado por aqui de “O Médico e o Monstro”), uma vez que Lee desejava conferir ao personagem a “identidade secreta” (entre outras características), um dos recursos mais essenciais e indispensáveis aos quadrinhos na época! A partir dessas premissas, Stan Lee acompanhado do “Rei dos Quadrinhos” JACK KIRBY, nos apresentam o doutor Bruce Banner, renomado físico nuclear de uma base militar que lidera um teste supervisionado pelo Exército norte-americano com sua maior criação, a Bomba Gama! Inadvertidamente, um adolescente chamado Rick Jones fura o cerco de proteção do exército e adentra a área de testes pouco tempo antes da detonação da bomba! Ignorando a própria segurança, Banner ordena a suspensão da contagem regressiva e corre para tentar salvar Jones! No entanto, a ordem de suspensão da contagem é ignorada pelo assistente do cientista (que na verdade era um espião russo (!) que desejava obter os esquemas de construção e montagem do dispositivo) e a contagem prossegue! Banner só tem tempo de jogar Rick Jones numa vala de proteção num segundo, e no instante seguinte, com a explosão da bomba, tem seu corpo bombardeado com uma dose maciça e mortal de radiação gama que, ao invés de matá-lo, o amaldiçoou com a sina de se transformar num grotesco, poderoso e monstruoso ser de pele CINZA (na primeira edição, pelo menos) que os soldados logo apelidam de “HULK”! As primeiras histórias do personagem vão definindo suas bases, como o elenco de coadjuvantes (Betty Ross, Rick Jones e General Ross) e algumas características que apenas futuramente serão melhor detalhadas! A princípio o Hulk só aparecia à noite, depois as mutações passaram a ser induzidas pelo próprio Banner a partir de um projetor Gama, em casos de necessidade! A mudança na cor da pele do Hulk surgiu porque existiam muitos problemas técnicos de impressão com a cor cinza, então Lee optou pelo verde a partir da segunda edição do título, tendo permanecido assim até meados da década de 1980 (mas isso é conversa pra outro post)!

Transformação noturna

Em agosto do mesmo ano de 1962, chegava às bancas a derradeira edição da revista AMAZING FANTASY, que trazia a história de um personagem cuja ideia havia sido praticamente demonizada pelos chefões da Marvel Comics na época porque, onde já se viu criar um personagem adolescente, paparicado pela titia, um nerd de carteirinha cheio de problemas e conflitos, com a identidade “heróica” que remetia a um artrópode pelo qual a maioria das pessoas sentia grande repúdio? Sim, a essa altura você já deduziu que falo do Espetacular Homem-Aranha, com conceito de STAN LEE e visual criado pelo grande STEVE DITKO (ainda que existam histórias de bastidores que Jack Kirby também houvesse participado dessa criação, mas não vamos nos aprofundar nisso agora, senão, haja espaço pra esse texto, né??😖😝)! E, pasmem, a história do Aranha só foi colocada nessa revista porque seria seu último número, porque NINGUÉM acreditava que um personagem como esse pudesse fazer sucesso ou chamar a atenção de alguém! Quando vieram os relatórios de vendas de AMAZING FANTASY #15 meses depois, juntamente com as milhares de cartas exigindo, implorando, suplicando por mais daquele personagem totalmente desacreditado, a Marvel teve uma das maiores surpresas de sua história, e a partir dali ela teria seu principal e mais rentável herói!
Na época, os títulos de antologias e histórias fechadas como Tales to Astonish, Journey Into Mystery, Tales Of Suspense e o título do Quarteto Fantástico vendiam razoavelmente bem, e o do Hulk, ainda que não tivesse vendas tão expressivas, também NÃO ia mal das pernas no quesito vendas, mas por conta de detalhes contratuais de distribuição em bancas, a Marvel não tinha naquele momento como criar mais um título – dessa vez específico – para o Homem-Aranha! Então, THE INCREDIBLE HULK #6 (ilustrado por Steve Ditko) do início de 1963 fechou o primeiro ciclo de histórias do gigante verde e foi descontinuado para dar lugar ao título THE AMAZING SPIDER-MAN #1, de Lee & Ditko, nova publicação bimestral da Marvel que se mostrou um sucesso arrebatador! E o sucesso foi tão grande que a partir da edição #4, o título passou a ser mensal, e mesmo com o sucesso das criações que vieram depois (Thor, Homem de Ferro, Vingadores, X-Men), o aracnídeo se manteve no topo da preferência do público que consumia quadrinhos (e, verdade seja dita, não obstante seus altos e baixos o Aranha permanece como principal personagem da Marvel até os dias atuais)!

Gigante, Hulk e Homem Aranha

Stan Lee estava no auge de sua onda criativa, e daí foram surgindo novas criações ao lado de vários artistas nos já mencionados títulos TALES TO ASTONISH, JOURNEY INTO MYSTERY, TALES OF SUSPENSE, como Poderoso Thor, Homem de Ferro, Doutor Estranho, Sargento Fury, bem como tivemos também o resgate de personagens da Era de Ouro como Capitão América e Namor! A revista do Aranha era um verdadeiro sucesso, e isso ajudou para que pouco tempo depois as restrições de distribuição dos títulos nas bancas fossem superadas, possibilitando a criação de alguns novos títulos, dentre os quais podemos mencionar o do DEMOLIDOR, O HOMEM SEM MEDO (por Stan Lee & Bill Everett) e os X-MEN (por Stan Lee & Jack Kirby)! Mas e o Hulk nisso tudo? Desapareceu? Escafedeu-se? Não, meus caros! O Hulk passou a fazer aparições especiais nos títulos dos demais heróis (sempre quebrando o pau com o Coisa em FANTASTIC FOUR), além de JOURNEY INTO MYSTERY, nas histórias do Thor, e até mesmo em THE AMAZING SPIDER-MAN), e se tornou elemento fundamental na formação dos Vingadores, em AVENGERS #1, por Stan Lee & Jack Kirby! No entanto, por conta de seu temperamento, o Hulk acabou caindo fora na segunda edição do título, e como solução para preencher essa lacuna, LEE & KIRBY resgatam o Capitão América para os dias atuais (nesse caso, era a década de 1960)na histórica AVENGERS #4, e a partir daí o Capitão se torna presença constante nesse título e também em TALES OF SUSPENSE (dividindo espaço com o Homem de Ferro) onde passa a ter suas aventuras solo e o preenchimento de várias lacunas de sua história, também por LEE & KIRBY!

Jack Kirby – a outra metade de Stan Lee

Mas mais uma vez os fãs do Hulk ficariam sem seu personagem favorito?? Como atender aos clamores dos fãs do gigante esmeralda que ansiavam por novas aventuras com o personagem? A solução foi novamente trazer o Hulk numa série regular com histórias solo, mas dessa vez ele iria dividir espaço com o Homem-Formiga e a Vespa no título TALES TO ASTONISH a partir da edição #59! Foi nessa nova leva de histórias que Stan Lee definiu o mecanismo que disparava as transformações de Banner no Hulk, criou novos e poderosos inimigos como o Líder, Abominável, Bumerangue, fortaleceu as relações entre Banner e Rick Jones, fez o mundo descobrir que Banner e o Hulk eram a mesma pessoa, entre várias outras situações memoráveis! Em Tales to Astonish Lee contaria com Steve Ditko, Jack Kirby, Bob Powell, Mike Esposito, Gil Kane, John Romita, Bill Everett, John Buscema e Marie Severin para ilustrar todas essas histórias extremamente dinâmicas e cheias de reviravoltas! Curioso notar que a grande “Dama dos Quadrinhos”, Marie Severin, se tornaria desenhista regular das histórias do gigante verde a partir da edição #92 de Tales To Astonish, que acabaria na edição #101, para que, finalmente, em abril de 1968, ressurgisse nas bancas THE INCREDIBLE HULK #102, com o Hulk voltando a ter seu próprio título, mas com a numeração seguindo a partir da última edição de Tales To Astonish! Por conta de compromissos em convenções e outras coisas mais, Lee deixou os roteiros das edições #102 a 107 de INCREDIBLE HULK a cargo de nomes como Gary Friedrich, Roy Thomas, Archie Goodwin e Bill Everett, retornando com tudo na edição #108, permanecendo no título até a edição #120, a partir da qual cedeu o posto de roteirista regular a Roy Thomas! Curiosidade digna de nota é que Stan Lee retornaria a escrever o Hulk (em parceria com seu irmão Larry Lieber) em histórias para as tiras diárias de jornal, baseadas na série de tv estrelada por Bill Bixby e Lou Ferrigno! Parte dessas histórias foi publicada no Brasil no jornal O Globo no suplemento infantil O Globinho a partir do final da década de 1970 e nos ALMANAQUES HULK #4 a 6 da editora RGE.

Hulk no Globinho, pela EBAL e pela RGE

Olhando em retrospecto, a fase de Lee à frente do Hulk foi uma das mais duradouras, ficando atrás apenas (salvo engano) das de Bill Mantlo e Peter David, e suas histórias, ainda que não fossem nada geniais, tinham muito apelo e um dinamismo que não se vê atualmente! Não obstante a simplicidade das tramas, essas histórias foram essenciais para definir os alicerces do que é o Hulk hoje em dia, e ainda que provavelmente sejam histórias difíceis para o leitor dos tempos atuais consumir, são histórias que valem a pena ser conhecidas! A bem da verdade, vale dizer que TUDO feito por Stan Lee para seus personagens merece ser lido e conhecido, pois dessa forma é possível ter conhecimento de como ele criou os personagens originariamente, de como estabeleceu suas bases e fundamentos, e é muito provável que eu repita isso em todos os textos dessa série que estou fazendo em parceria com o Adilson, até porque se tratam de detalhes e curiosidades que interessam a todos que verdadeiramente amam quadrinhos! Para quem não sabe – e acho isso meio difícil 😖😝 – o Hulk é meu personagem preferido de todos, e posso dizer com alguma segurança que conheço razoavelmente bem quase tudo feito com o personagem até meados da década passada, e a fase de Stan Lee é uma fase extremamente relevante e divertida de se ler, não por serem histórias “engraçadas” (no sentido de comédia) mas porque devemos levar em conta a linguagem característica da época. Se eu fosse ranquear o trabalho de Lee para o Hulk, talvez eu o colocasse entre seu segundo ou terceiro melhor trabalho – na minha opinião, obviamente – alternando entre essa segunda e terceira colocação com o Quarteto Fantástico.

No próximo post vamos falar um pouco mais sobre Stan Lee e suas fases em O ESPETACULAR HOMEM-ARANHA ARANHA, X-MEN e DEMOLIDOR!

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