REENCONTREMOS A FAMÍLIA ADDAMS

Por Adilson Carvalho

Se você já ouviu alguém te dizer que você é esquisito, o que dirá os Addams, uma das famílias mais divertidas da ficção. O mundo mudou, mas esquisitices não. Afinal, quem é verdadeiramente normal? Os Addams sempre viveram esse contraste, pois apesar de todas as excentricidades fúnebres, são marido e mulher apaixonados além de pais dedicados a seus rebentos Pugsley e Wednesday. Aproveitando a estreia da série Wednesday na Netflix, vamos lembrar de todas as encarnações anteriores dessa divertida família.

Essa família deliciosamente macabra surgiu em 1938 nos desenhos de Charles Addams, cartunista norte-americano que trabalhava para a revista “The New Yorker”, para a qual já colaboraram Road Dhal (autor de “A Fantástica Fábrica de Chocolate”) e Woody Allen. O curioso é que os personagens não tinham nome, o que só viriam a ganhar quando David Levy os levou para a Tv na primeira adaptação live-action. Era um seriado transmitido pela ABC entre setembro de 1964 e setembro de 1966, e que competia a atenção dos telespectadores com outra série similar, “Os Monstros” da CBS. A série trazia John Astin, Carolyn Jones, Ted Cassidy, Lisa Loring, Ken Weatherwax e Jackie Coogan. Este era a criança prodígio que contracenara com Charlie Chaplin no clássico “O Garoto” (The Kid) de 1925 e que foi roubado pela mãe e o padastro. Seu caso foi levado à corte judicial e Coogan teve o nome atrelado a uma emenda constitucional existente até hoje, e que zela pelos direitos de crianças. O seriado entrou para o imaginário popular embalado pela trilha sonora de Vic Mizzy usando sua própria voz, gravada e regravada com o acréscimo dos estalos de dedos. Os Addams, assim como “Os Monstros”, eram personificações de arquétipos da literatura gótica com Tropeço (Lurch) sendo um mordomo frankensteniano. O próprio Ted Cassidy fazia a Mãozinha, uma espécie de mascote da família. Claro, sem esquecer do Primo Itt (Felix Silla) cuja voz esguiniçada só os Addams entendiam.

        Após o cancelamento da série, a família teve uma série animada produzida pelos estúdios Hanna Barbera em 1973, que durou 16 episódios. Foi no início da década de 90 que os personagens ressucitaram em dois filmes dirigidos por Barry Sonnefield. No elenco de “A Família Addams” (1991) Raul Julia, Angelica Houston, Christopher Lloyd, e Cristina Ricci recriaram a família gótica para uma nova geração, com uma mudança: Fester deixava de ser o Tio de Morticia e passava a ser o irmão desaparecido de Gomez. O sucesso foi enorme e em 1993 tivemos A Familia Addams 2 (Addams Family Values) na qual Gomez e Mortícia estão comemorando a chegada de um bebê. Porém os irmãos Wednesday e Pugsley não estão muito felizes com a novidade e tentam eliminar o bebê. Quando a babá Debbie Jelinsky (Joan Cusack) aparece para cuidar das crianças na linha, as coisas tomam outro rumo já que Debbie planeja casar com Fester (Lloyd) e matá-lo para ficar com sua fortuna. Só não houve um terceiro filme porque Raul Julia faleceu pouco depois de gravar o segundo filme. O Cartoon Network logo exibiu uma nova série animada que durou duas temporadas e 39 episódios ganhando um Emmy. Ainda houve mais duas reencarnações live action dos Addams nos anos seguintes. O filme “O Retorno da Familia Addams”, feito para a TV em 1998 com Daryl Hannah e Tim Curry como o casal Gomez-Mortícia, e a segunda série “The New Addams Family” com Ellie Harvie e Glenn Taranto com 65 episódios e exibida pela Fox. Em 2019 e 2021 ainda tivemos os longas em animação 3D A Família Addams e A Família Addams Pé na Estrada com as vozes de Oscar Isaac, Charlize Theron, Chloë Grace Moretz, Finn Wolfhard, Nick Kroll, Bette Midler, Elsie Fisher e Allison Janney.

Séries de TV, filmes, animação, jogos e até espetáculo da Broadway. Não há dúvida de que existe vida depois de cancelamentos, depois da morte de seu criador em 1988, depois de tantas mudanças no mundo, mas uma coisa é certa, em um estalar de dedos, a diversão é a única garantia.

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