Por Leo Banner

Depois de falar um pouco sobre os processos criativos que envolveram o Hulk e o Homem-Aranha, e um pouquinho mais sobre o Hulk e suas histórias de STAN LEE, hoje vamos falar um pouco mais sobre o aracnídeo sob a batuta de Lee! De personagem desacreditado com sua história de origem publicada na derradeira edição de um título condenado à consagração como maior e mais rentável personagem da Marvel Comics Group de todos os tempos! Ninguém na época jamais poderia imaginar que depois da história em AMAZING FANTASY #15, aquele personagem fosse se tornar aquela sensação que se refletiu nas vendas e nos incontáveis pedidos clamando por mais histórias dele! Por conta de tudo isso, estreou em 1963 o título THE AMAZING SPIDER-MAN, por STAN LEE & STEVE DITKO, trazendo as histórias de Peter Parker, o Espetacular Homem-Aranha, que mostravam as aventuras do adolescente com poderes aracnídeos que descobriu da pior forma que “grandes poderes trazem grandes responsabilidades”! A partir daí, Lee & Ditko foram estabelecendo as bases que definiram o Aranha e que o transformaram no grande sucesso que é até os dias atuais (a despeito das péssimas fases dos últimos anos)! Além de uma extensa galeria de vilões exóticos, excêntricos e cruéis como Abutre, Consertador, Doutor Octopus, Homem-Areia, Lagarto, Elektro, Kraven O Caçador, Duende Verde e vários outros, a dupla Lee & Ditko nos apresentou também os coadjuvantes mais marcantes das HQs, como J. Jonah Jameson, tia May Parker, Flash Thompson, Liz Allen e etc, bem como as situações mais inovadoras e inesperadas que se podiam esperar de um herói adolescente por algumas vezes atormentado pelos mais variados problemas, cheio de conflitos existenciais e dúvidas acerca de suas próprias convicções! E era exatamente na sucessão de problemas e crises que vivia nosso bom e velho Peter Parker que residia seu maior apelo junto ao público, o fato de ele ter problemas e preocupações que todas as pessoas comuns possuem! Conhecedor desse detalhe, Stan Lee e Steve Ditko souberam explorar como poucos todo esse potencial, mas sem deixar de lado algumas vitórias pessoais na vida de Parker, e não apenas suas vitórias da sua persona heróica, mas também, por exemplo o fato de Peter ter conquistado não apenas o coração de Betty Brant em sua juventude, mas também o de Liz Allen, sua colega de classe no ensino médio que passou a perceber que Parker era mais do que apenas um “rato de biblioteca”, como Peter era chamado por seu colega de colégio Flash Thompson! Mas não se engane, pois esse não foi o único “triângulo amoroso” em que nosso adolescente nerd garanhão esteve envolvido! Por conta de suas atividades como Homem-Aranha e as dificuldades em estar presente quando ela precisava, Betty Brant acabou se encantando pelo repórter Ned Leeds, que por algum tempo foi considerado um rival por Parker! Mas dando também mostras de maturidade, Peter acabou percebendo que, com sua vida dupla , não era uma boa opção para Betty e os dois decidiram ser apenas bons amigos!
As histórias escritas por Lee e corroteirizadas e ilustradas por Ditko continuavam a levar nosso herói a patamares cada vez mais elevados, e com isso, veio o término do colegial e o início da vida acadêmica. Um fato hilário é que Flash Thompson também ingressou na Universidade Empire State junto com Peter e as picuinhas entre os dois estavam longe de acabar! Mas foi na vida acadêmica que Peter também conheceu seu futuro melhor amigo Harry Osborn e a também caloura Gwen Stacy, uma das personagens mais essenciais e fundamentais na mitologia do aracnídeo, e que acabaria vivendo com Peter um dos mais belos e marcantes romances das histórias em quadrinhos de todos os tempos!

Um fato digno de nota é que outra personagem essencial na vida do Aranha também começou a figurar a partir de THE AMAZING SPIDER-MAN #25, que foi Mary Jane Watson, outra personagem essencial no cânone do Aranha, mas a curiosidade interessante é que ela só apareceria efetivamente pela primeira vez na edição #42 do título. E mesmo com a relação de Peter e Gwen Stacy se consolidando com o passar dos tempos, a presença de Mary Jane sempre foi uma constante na vida do casal com boa parte do público, inclusive, torcendo pela ruiva estonteante (lembra do “triângulo”???😁😁)! Mas não nos adiantemos nem atropelemos os fatos!
Um dos momentos mais memoráveis de toda a saga do Aranha acontece entre as edições #32-33 de THE AMAZING SPIDER-MAN, onde temos a tia May Parker internada em estado grave sofrendo de envenenamento radioativo; o doutor Curt Connors (alter ego do Lagarto, um dos inimigos do Aranha) sintetiza um soro capaz de curá-la, mas há dois grandes detalhes na história: o soro é altamente volátil e sua efetividade compreende um curtíssimo espaço de tempo, e no momento que seu preparo é concluído, o Homem-Aranha é derrotado pelo Doutor Octopus num combate de tirar o fôlego e fica soterrado sob toneladas de escombros, impossibilitando o aracnídeo de levar o soro para sua tia! São CINCO páginas de uma das melhores, mais brilhantes e tensas sequências de histórias do Aranha de todos os tempos! Particularmente figuram entre meus momentos favoritos de todos os tempos nas HQs! Quem conhece certamente se lembra desse momento memorável; quem não conhece e deseja conhecer, não perca as edições da Coleção Clássica Marvel do Homem-Aranha atualmente publicadas pela Editora Panini porque é um momento que merece ser conhecido pelos fãs do personagem!
Infelizmente o grande STEVE DITKO decide sair do título na edição #38 em busca de novos desafios profissionais; mas, por incrível que possa parecer, não é algo a se lamentar totalmente, pois o Aranha, com a saída de Ditko, ganha um de seus mais marcantes e influentes artistas a partir da edição #39: o não menos genial e talentoso JOHN ROMITA, cuja história de estreia já é um grande marco em si mesma, tendo em vista que revela um grande segredo desconhecido do público até aquele momento: a identidade do DUENDE VERDE, um dos mais cruéis e mortais inimigos do Homem-Aranha! A partir daí, Romita Sênior se lança de cabeça no título do aracnídeo, não apenas corroteirizando boa parte das histórias ao lado de STAN LEE (ainda que muitas vezes não tenha sido creditado por isso), mas também – e principalmente – adotando um padrão visual para o Escalador de Paredes que praticamente definiu seu visual e que permanece como referência essencial em grande medida até os dias atuais! Romita Sr. com seu estilo clássico, elegante e expressivo nos traz um Peter Parker mais robusto que o retratado por Ditko, e se alinha perfeitamente com aquela fase transitória entre a adolescência e a maturidade! Foi também Romita que retratou pela primeira vez MARY JANE WATSON na memorável última página de AMAZING SPIDER-MAN #42! Além da LEE & ROMITA introduzirem novos vilões como Shocker, Rhino, trazerem os antigos (Octopus, Abutre, Kraven, Elektro etc), a dupla produziu uma das mais emblemáticas histórias na edição #50 da revista, com o singelo título de “HOMEM-ARANHA NUNCA MAIS”, na qual Peter Parker desiste de ser o Homem-Aranha e reflete sobre todos os dissabores e perdas na sua vida que foram causadas pela sua vida dupla! Stan Lee revelou certa feita que na época da publicação dessa história, a redação da Marvel foi inundada por cartas de estudantes de Psicologia revelando que essa história foi alvo de vários debates nas salas de aula por várias semanas! Essa trama é importante por muitos motivos, dentre os quais podemos destacar que serviu de inspiração para a crise de Peter Parker no filme HOMEM-ARANHA 2, dirigido por Sam Raimi (para este escriba, um dos melhores filmes baseados em HQs de todos os tempos) e também por trazer pela primeira vez outro grande vilão que ganharia grande destaque a partir do final da década de 1970 no título do Demolidor: O REI DO CRIME!

As histórias, que já eram muito boas, só melhoravam; a inspiração de STAN LEE para as histórias do Aranha parecia não ter fim nem limites, abordando, inclusive, temas sensíveis e controversos para a época, como consumo de drogas por parte de um relevante personagem coadjuvante do cânone aracnídeo! John Romita, que também era diretor de arte da Marvel, não conseguiu permanecer ininterruptamente em todas as edições dessa época, mas contribuiu com planejamentos ao lado de Stan Lee, assim como esboços e arte-final em algumas edições para desenhistas como John Buscema, Jim Mooney, Ross Andru e Gil Kane. Na edição #100 de THE AMAZING SPIDER-MAN, Lee apresenta uma história especial em que Peter tenta se CURAR dos seus poderes aracnídeos, mas que as consequências dessa tentativa tem resultados no mínimo catastróficos e inesperados, resultando numa deformidade física que confere a Parker dois pares extras de braços!
Em função de compromissos FORA da Marvel, Stan Lee decide delegar ao seu “sucessor natural” ROY THOMAS a continuidade e conclusão da história envolvendo o Aranha com seis braços! Thomas não ficou nada contente com a tarefa pois, ainda que gostasse de ler as histórias do personagem, jamais cogitou escrevê-las sob nenhuma hipótese! Mas vale mencionar que nas poucas edições que ficaram sob sua responsabilidade, Roy Thomas deixou sua indelével marca no cânone aracnídeo ao criar MORBIUS O VAMPIRO na edição #101, além de nos ter brindado com uma bela homenagem ao clássico filme KING KONG nas edições #103-104! Em AMAZING SPIDER-MAN #105, Stan Lee retorna para sua última sequência de histórias como roteirista regular do Aranha, que durou até a edição #110 de julho de 1972! Vale mencionar que Stan ainda retornou apenas como coargumentista nas edições #116-118 ao lado do então novato GERRY CONWAY, sucessor de Lee nas tramas aracnídeas que também cuidava do SEGUNDO título protagonizado pelo Aranha, chamado MARVEL TEAM-UP com histórias fechadas do teioso sempre com a participação especial de outro personagem da Casa das Ideias!

Certamente o título principal do HOMEM-ARANHA foi um dos trabalhos mais longevos, duradouros e influentes de Stan Lee; e ainda que se possa dizer isso praticamente de todas as suas criações, suas histórias do Aranha foram MUITO superiores em relação às demais, porque Lee sempre fez questão de salientar que o aracnídeo era seu personagem favorito! Não importam as quantidades de retcons ou até mesmo o quanto tentem mudar ou alterar o Aranha, as bases do personagem criadas por STAN LEE (principalmente acompanhado de STEVE DITKO e JOHN ROMITA SR) permanecem até os dias atuais! Ainda que as histórias possam parecer datadas em alguns pontos, citando fatos que ocorriam no mundo à época, pode-se dizer que as tramas envelheceram muito bem e não perderam nem um pouco de seu vigor e de sua originalidade! Para mim, as histórias de STAN LEE no Homem-Aranha são, sem sombra de dúvida, seu MELHOR trabalho, e sua passagem pelo título, além de ser a fase inicial, foi uma das melhores e mais deliciosas de se ler! Histórias que valem muito a pena ser lidas, apreciadas e conhecidas! Portanto, caso haja alguém lendo esse texto que nunca teve essa oportunidade – e eu acho isso muito difícil – corra atrás dessas histórias maravilhosas que vem saindo em ordem cronológica na coleção O ESPETACULAR HOMEM-ARANHA – EDIÇÃO DEFINITIVA (que podemos considerar como se fossem “meio” Omnibus), com ótimo acabamento e papel couchê, ou as sequências da COLEÇÃO CLÁSSICA MARVEL – HOMEM-ARANHA, com capa cartão, papel offset e preço bem mais acessível e convidativo (todos da Editora Panini)!

Vida longa e próspera e até a próxima!🖖🏻