Por Adilson Carvalho

Stan Lee não criou o universo Marvel sozinho, mas foi a mente idealizadora desses 60 anos de aventuras, em colaboração de nomes como Jack Kirby, Steve Ditko, John Buscema, Don Heck entre outros. Stan foi figura central nisso tudo, criando as palavras que marcaram gerações, as personalidades de personagens que povoam a cultura pop e trabalhar a noção de continuidade que fez das hqs um universo coeso e fascinante. Stanley Martin Lieber nasceu em Manhattan, Nova Iorque, em 28 de dezembro de 1922, filho do casal Jack e Celia Lieber, ambos judeus imigrantes da Romênia. Seu pai, um alfaiate, e sua mãe, uma dona de casa, tiveram mais um filho, Larry, em 1931, que veio a colaborar com Stan em vários trabalhos na Marvel. A família de Stan Lee era relativamente pobre. Ele morou boa parte da infância e da adolescência em um quarto e sala no Bronx, na periferia de Nova Iorque. Ele e o irmão dividiam o diminuto e único quarto do apartamento, e os pais dormiam em um sofá-cama na sala.

Desde pequeno, Lee gostava de ler e escrever. Em seus primeiros trabalhos, escreveu obituários em jornais e entregou sanduíches para escritórios no Rockefeller Center, além de servir como office boy em uma fábrica manufatureira e lanterninha do Teatro Rivoli, na Broadway. Com a ajuda de seu tio Robbie Solomon, Lee tornou-se assistente em 1939 na editora Timely Comics, uma divisão de revistas pulps e histórias em quadrinhos que, na década de 1960 seria rebatizado como Marvel Comics. Stan Lee, cuja prima Jean era a esposa de Martin Goodman, o chefe da Timely Comics, foi formalmente contratado pelo editor Joe Simon. Seu primeiro trabalho publicado foi um conto ilustrado por Jack Kirby intitulado Captain America Foils the Traitor’s Revenge, publicado em Captain America Comics #3 em maio de 1941, usando pela primeira vez o pseudônimo Stan Lee, pois pretendia deixar o nome Stanley Lieber, seu nome real, para trabalhos literários. Lembremos que naquela época, não existia ainda o prestígio na área de quadrinhos. Quando Joe Simon e Jack Kirby saíram da Timely Comics no final de 1941, após uma discussão com Martin Goodman, o editor nomeou Lee, aos 18 anos, como editor interino. Seu talento para o negócio o levou a permanecer como editor-chefe da divisão de histórias em quadrinhos, bem como diretor de arte durante boa parte desse tempo — até 1972, quando sucederia Goodman como publisher.

Depois de uma rápida passagem pelo exército entre 1942 e 1945, retornando para a Timely Comics, que passou a ser conhecida como Atlas Comics, Stan Lee escreveu histórias de romance, faroeste, humor, ficção científica, aventura medieval, horror e suspense. No final da década, Lee ficou insatisfeito com sua carreira e pensou em abandonar o ramo. Naquela época, em uma campanha moralizadora realizada pelo psiquiatra Fredric Wertham e pelo senador Estes Kefauver, estes acusaram as revistas em quadrinhos de corromper as mentes dos jovens leitores com imagens ambíguas de violência e sexualidade. Em 1954, Wertham publicou A Sedução do Inocente, um livro sobre suas teorias. Isso fez com que o Subcomitê sobre Delinquência Juvenil do Senado dos EUA começasse a investigar os efeitos da mídia de massa publicada pela indústria dos quadrinhos. Em abril e junho daquele ano, os senadores organizaram audiências públicas em Nova York.No final dos anos 50, o editor da DC Comics, Julius Schwartz, reviveu o arquétipo do super-herói e experimentou um sucesso significativo com sua versão atualizada do Flash e com a Liga da Justiça da América. Em resposta, o editor Martin Goodman designou Stanley Lieber para criar uma nova equipe de super-heróis. Joan, sua esposa, sugeriu que Stan Lee criasse histórias que — sobretudo — o agradassem, uma vez que ele planejava mudar de carreira e não tinha nada a perder.

Lee aceitou o conselho de Joan, dando aos seus super-heróis uma humanidade defeituosa, uma mudança dos arquétipos ideais que eram tipicamente escritos para pré-adolescentes. Antes disso, os super-heróis eram representados como perfeitos ou sem problemas sérios. Entretanto, Stan Lee introduziu personagens complexos que poderiam ter falhas morais e sofriam de melancolia e vaidade. Seus personagens discutiam, se preocupavam em pagar suas contas e em impressionar garotas e ficavam doentes e entediados. Seus super-heróis capturaram a imaginação dos jovens e dos adultos, aumentando drasticamente a venda de quadrinhos da Marvel.

Os primeiros super-heróis criados pela união de Stan Lee e Jack Kirby foi o Quarteto Fantástico — baseado nos Desafiadores do Desconhecido, uma equipe de super-heróis de Kirby publicada pela DC Comics. A popularidade imediata da equipe levou Lee e os ilustradores da Marvel a produzirem uma série de novos títulos. Com Jack Kirby, Stan Lee co-criou Hulk, Thor, Homem de Ferro e X-Men. Com Bill Everett, fez o Demolidor. com Steve Ditko, fez o Doutor Estranho e o Homem-Aranha, até hoje o mais popular da editora. Todos eles viviam em um universo compartilhado e a eles se juntaram Os Vingadores, Pantera Negra, Capitão Marvel e os renascidos Namor e Capitão América, heróis dos anos 40. A revolução de Lee se estendeu além dos personagens e enredos até a maneira como os quadrinhos engajaram os leitores e construíram um senso de comunidade entre fãs e criadores. Ele introduziu a prática de incluir regularmente um painel de crédito na página inicial de cada história, nomeando não apenas o roteirista e o desenhista, mas também o arte-finalista e o letrista. Notícias regulares sobre os membros da equipe da Marvel e as próximas histórias foram apresentadas na página Bullpen Bulletins que (como as sessões de cartas que apareceram em cada título) foi escrita em um estilo amigável e tagarela. Lee comentou que seu objetivo era que os fãs pensassem nos criadores de quadrinhos como amigos. Ao longo da década de 1960, Lee roteirizou, dirigiu e editou a maioria das séries da Marvel, moderou as sessões de cartas, escreveu uma coluna mensal chamada Stan’s Soapbox e inaugurou um sistema que era usado anteriormente por vários estúdios de história em quadrinhos, mas devido ao sucesso obtido, ficou conhecido como o “Método Marvel“. Tipicamente, Lee debatia uma história com o artista e então preparava uma breve sinopse ao invés de um roteiro completo. Com base na sinopse, o artista preenchia o número de páginas atribuído determinando e desenhando a narrativa de quadro a quadros. Depois que o artista desenhava as páginas a lápis, Lee escrevia as palavras balões e legendas e depois supervisionava as letras e as cores. Com efeito, os artistas foram corroteiristas, com os primeiros rascunhos colaborativos que Lee construiu. Lee também apoiou o uso de histórias em quadrinhos para fornecer alguma medida de comentário social sobre o mundo real, muitas vezes lidando com racismo e intolerância, fazendo de sua carreira a materialização de suas palavras “Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades“. Com as sucessivas adaptações de seus personagens para a Tv e cinema ao longo das décadas seguintes, Stan Lee tornou-se a face da Marvel. Com suas sucessivas aparições nos filmes, uma nova geração passou a tê-lo como uma referência onipresente (aguardem matéria a respeito). Sem dúvida, um ídolo cuja marca na cultura pop é indelével e cujo efeito vai além de seu centenário, o que faz dele também um personagem, um arquiteto de todo um universo. Continuem acompanhando aqui no CCP a série Stan Lee 100 anos escrita por Leo Banner e Adilson Carvalho cobrindo os bastidores das criações de seus personagens favoritos. A cada semana uma matéria nova. Excelsior !!!!!!!!!