Por Adilson Carvalho
Prosseguindo com o ciclo de matérias sobre Steven Spielberg, preparando para a estreia de The Fabelmans, vamos voltar aos anos 80 com um visitante de outro planeta.

Vamos voar novamente em nossas bicicletas pois ET retorna às salas de cinema em comemoração aos 40 anos de seu lançamento. Lançado no Brasil em 25 de dezembro de 1982, o filme de Steven Spielberg havia sido exibido no encerramento do Festival de Cannes iniciando sua bem sucedida projeção e ficando em exibição por um ano, um recorde. O encanto do filme reside na mensagem de amizade entre o garoto Elliott (Henry Thomas) com um pequeno alienígena inofensivo que está bem longe do seu planeta. Ele decide manter a adorável criatura em segredo e em casa após apresentá-la aos irmãos, enquanto são caçados implacavelmente pelo governo.

Na época alienígenas eram sempre representados como ameaças, invasores malvados saídos da literatura de H.G.Wells e Jules Verne ou da imaginação de roteiristas de filmes e séries de TV. Com a raríssima exceção de Klaatu (Michael Rennie) em O Dia em que a Terra Parou, a figura do extraterrestre era sempre tomada como um perigo à sobrevivência da raça humana, como visto em clássicos como Guerra dos Mundos (1952), INvasores de Marte (1953) ou Vampiros de Almas (1957). Spielberg decidiu ir na direção contrária mostrando um ser de outro planeta pacífico e inocente perdido no planeta terra.

Carlo Rambaldi, que projetou os alienígenas de Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1978), foi contratado para projetar os animatrônicos criando uma criatura um pescoço extensível e rosto inspirado nos de Carl Sandburg, Albert Einstein e Ernest Hemingway. Dois anões e um menino de 12 anos, que nasceu sem pernas, se revezaram na fantasia, dependendo da cena que estava sendo filmada. Spielberg dirigiu E.T ao mesmo tempo em que produzia Poltergeist, dirigido por Tobe Hopper. O roteiro de Melissa Mathison foi escrito a partir de uma ideia do próprio Spielberg depois de finalizar Contatos Imediatos do Terceiro Grau, e imaginar como seria se um visitante de outro planeta ficasse ilhado na Terra. O visual das naves usadas em ambos os filmes são de fato muito semelhantes. A pequena Drew Barrymoore, então com 12 anos, destacou-se bastante na história mas a jovem atriz acabou precocemente caindo no mundo das drogas e somente na década de 90 a atriz conseguiria superar e retomar sua carreira.

A trilha sonora de John Williams foi marcante principalmente no momento mais lembrado do filme quando as crianças fogem do governo levando E.T nas bicicletas que voam à luz do luar em pura poesia cinética. Para compor o score final, o veterano John Williams (usual colaborador de Spielberg) recebeu carta branca do diretor para compor sua trilha primeiro e depois adequá-la à cena da perseguição final. Isso foi o contrário do que costuma acontecer na pré-produção de filmes. O projeto foi muito pessoal para o diretor que faz referência à sua infância em cenas como a que Elliott falsifica a sua doença segurando um termômetro perto da lâmpada de seu abajur enquanto cobre o rosto com uma almofada de aquecimento, um truque frequentemente empregado por Spielberg quando criança. Um filme inesquecível, sempre citado em qualquer lista de melhores do cinema americano, uma obra que mantem 40 anos depois sua magia intacta, e que agora as plateias atuais terão oportunidade de rever na tela grande, e quem sabe depois olhar para uma luz no céu e se deixar tomar por aquele sentimento de quem não estamos sozinhos.
Na próxima matéria do ciclo vamos caçar tesouros perdidos com um certo arqueólogo.