Por Adilson Carvalho

O projeto de adaptar o livro de Thomas Keneally já existia desde 1983, mas o cineasta de E.T e Indiana Jones não se achava em condições de falar de assunto tão delicado na época. Dez anos depois decidiu produzir o filme através da AMBLIN Entertainment, tendo convidado Roman Polanski para dirigir. Este declinou do convite na ocasião, e anos mais tarde fez ele próprio seu retrato do holocausto em O Pianista (2002). Assim, Spielberg decidiu dirigí-lo ele mesmo, e o fez com sensibilidade. O alemão Oskar Schindler viu na mão de obra judia uma solução barata e viável para lucrar com negócios durante a guerra. Com sua forte influência dentro do partido nazista, conseguiu as autorizações para abrir uma fábrica. O que poderia parecer uma atitude de um homem não muito bondoso, transformou-se em um dos maiores casos de amor à vida da História, pois este alemão abdicou de toda sua fortuna para salvar a vida de mais de mil judeus em plena luta contra o extermínio alemão.

A princípio o diretor convidou Harrison Ford, mas este recusou pois temia que sua persona lembrando a figura de papéis heróicos como Han Solo e Indiana Jones não convenceria o público, e poderia prejudicar o filme e sua belíssima mensagem de humanismo. Assim, o irlandês Liam Neeson foi contratado. Ao seu lado, o britânico Ben Kingsley (Gandhi) como o contador Itzak Stern, que funciona como a consciência de Schindler, muitas vezes dando voz aos milhares de judeus que gritaram contra o holocausto, que na época da produção do filme, já confrontava o negacionismo de muitas pessoas que ecoava nas mídias jornalísticas. O filme de Spielberg foi como um jato d’água no rosto para um despertar da memória adormecida. O próprio diretor tinha muito a sentir e dizer do assunto sendo ele próprio judeu, cujo avô foi combatente no conflito. Outro nome no elenco que deve ser lembrado é o de Ralph Fiennes no papel do nazista Amon Goeth, que na vida real era ainda mais cruel do que o vilão mostrado no filme. Embora tenha recebido permissão do governo alemão para filmar em Auschwitz, o diretor preferiu recriar o campo de concentração em estúdio em respeito às milhares de vítimas que morreram no local. As próprias filmagens foram pesadas emocionalmente. Spielberg costumava assistir os episódios da sitcom Senfield todo dia após o fim do dia como forma de restaurar seu estado de espírito. O diretor chegou a conseguir que Robin Williams fizesse aparições no estúdio, mesmo que fossem ao telefone, com som canalizado para todo o estúdio ouvir as piadas de Williams, e assim suavizar o pesar de várias tomadas extremamente difíceis.

Na cena final, Spielberg conseguiu reunir os sobreviventes do holocausto salvos por Schindler para que visitassem o túmulo de Oskar Schindler, incluindo Emilie Schindler, a viúva dele que primeira vez visitava o local. O filme foi importante não apenas pela mensagem antibelicista, mas também para mudar a visão que o público tinha do diretor, associado a espetáculos de aventura e fantasia. A Academia finalmente se rendeu ao seu talento premiando – o com sete Oscars incluindo melhor filme e direção. Um filme magnífico que nos mostra a importância de que jamais devemos esquecer do que houve ou a história se repetirá. Uma obra prima em todos os sentidos.
No próximo artigo Spielberg e o adeus a Audrey Hepburn
Sempre que assisto me emociono do mesmo jeito.
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