STAN LEE 100 ANOS PARTE VII DOUTOR ESTRANHO & PANTERA NEGRA

Por Adilson Carvalho

Stan Lee não criou o primeiro herói místico das HQs e segundo o próprio Lee, foi de Steve Dikto (co- criador do Homem Aranha) a ideia para criação do personagem místico, um herói não saído da pseudociência de Lee, mas da magia. Antes do bom doutor, no entanto, outros heróis já demonstravam habilidades sobrenaturais como o “Dr.Oculto” (Doctor Ocult), criado em 1935 por Jerry Siegel e Joe Shuster (os criadores do Superman) ou o mágico “Mandrake” de Lee Falk de 1934. Estes, no entanto, agiam em suas histórias como um detetive com habilidades mágicas. Ainda houve em 1940 o “Senhor Destino” (Dr. Fate) , criado pela dupla Gardner Fox e Howard Sherman, um feiticeiro super poderoso que se aliou a outros herois para combater as forças do mal. Contudo, ao lapidar a ideia de Dikto, Stan Lee buscou inspiração mesmo em “Chandu – o Mágico”, programa de rádio que, por volta de 1932 , seria transformado em seriado interpretado pelo hoje desconhecido Edmund Lowe,  e depois, por Bela Lugosi. Chandu era um ilusionista que age em segredo como espião fazendo uso de suas habilidades.mas sem dúvida seu toque de Midas se fez sentir em Junho de 1963, quando foi publicado o título “Strange Tales #110”. A estreia do mago supremo do universo Marvel não teve alarde, dividindo as páginas da revista com o já popular Tocha Humana. A história de 8 páginas, contudo, não mostrava sua origem. Esta só foi publicada 4 meses depois: Stephen Vincent Strange era um conceituado e arrogante neurocirurgião que sofre um terrível acidente que incapacita o movimento de suas mãos. Inconformado com a situação e relutante em se tornar um mero clínico, Strange busca um tratamento alternativo para reverter sua condição, quando descobre no Tibet a figura do Ancião, um homem sábio com poderes sobrenaturais. A visita abala a visão de mundo de Strange, que descobre que o Barão Mordo, discípulo do Ancião, planeja matá-lo depois de ter sido seduzido pelo poder maligno de Dormammu, senhor absoluto de uma dimensão do mal. Strange é enfeitiçado para não poder revelar o que descobriu, e por gratidão ao Ancião, pede que este o treine. Assim começa o caminho de Strange pelas artes místicas, tudo maravilhosamente diagramado pela arte de Steve Dikto.

Lee adicionou frases de efeito para dramatizar os encantamentos do mago que, em suas histórias, frequentemente invocava as faixas escarlates de Cyttorak, os sete anéis de Raggadorr ou o olho de Agamotto, um poderoso amuleto que amplia os poderes do mago. O herói também usa o livro de Vishanti que contem vários feitiços que o Dr.Estranho conjura e o manto da levitação que lhe permite voar. A principio as histórias de Estranho eram secundárias, contadas em breves páginas, já que o Tocha Humana era a estrela de “Strange Tales”. O personagem ainda nem mesmo usava seu manto de levitação. Lee e Ditko ficaram juntos por três anos explorando roteiros dramáticos, diálogos bem conduzidos em cenários e cores psicodélicas para retratar limbos, universos paralelos e até o próprio inferno. A arte de Dikto explorava tons surrealistas que, de acordo com o historiador Bradford Wright, lembra as pinturas de Salvador Dali. Com a saída de Dikto, e posteriormente do próprio Stan Lee, substituído por Roy Thomas, o personagem foi desenhado por Bill Everett (criador de Namor), Marie Severin e Gene Colan que assume o título solo do herói (renomeando a antiga “Strange Tales” a partir de Fevereiro de 1969), que dura apenas 15 edições. As histórias do período refletem todo um interesse por misticismo que se seguiu ao final dos anos 60, e as aventuras de Strange envolvendo divindades egípicias ou sumérias ecoavam o interesse do ocidente pelas religiões orientais. Na edição “Doctor Strange #177” Thomas & Colan, em uma tentativa de estimular as vendas do título colocam uma máscara no herói feiticeiro fazendo sutis modificações em seu uniforme, que perdurariam por sete edições. Na década de 70, o personagem perdeu seu primeiro título solo passando a ser publicado em dois títulos : “Marvel Premiere” (entre 1972 e 1974) e na “Marvel Feature” onde o herói se juntou ao Hulk e Namor e formaram a equipe dos Defensores, criado por Roy Thomas. Mas, diferente dos populares Vingadores, os Defensores pareciam se hostilizar e sua união só se justificava pela conveniência de uma ameaça em comum, sem o espírito de camaradagem da equipe do Capitão América. Mais tarde, o roteirista Steve Englehart assumia o título da equipe e escreveria um confronto clássico “Vingadores X Defensores”. No Brasil, o herói foi rebatizado de “Dr.Mistério” quando publicado pela Editora M&C, mas a revista só durou duas edições. Quando ressurgiu pela primeira vez com seu nome corrigido foi no título “Os Defensores” (The Defenders) #1 da Editora Bloch. Em Abril de 1979, a RGE trouxe o personagem ao Brasil em aventuras solo, primeiro no título “Almanaque Marvel #1”, da Editora RGE, em uma aventura conjunta com o Homem-Aranha extraído de “Marvel Team Up #21” originalmente publicada em 1974. O curioso dessa história é que os dois heróis encontram … Xandu, o mágico. No mês seguinte a RGE publicou a clássica “Dr.Strange #169” em “Almanaque Marvel #2”. O material da “Marvel Premiere” veio a ser publicado pela Editora Abril em 1982 no título “Superaventuras Marvel” a partir da segunda edição desta. A origem do herói, no entanto, apareceu nas páginas da edição comemorativa “Herois da TV #100”(segunda série), da Editora Abril. O mesmo título publicou na década de 80 as elogiosas histórias escritas por Roger Stern.

Já a criação do Pangera Negra por Stan Lee remonta a época da luta pelos direitos civis, um ano depois do histórico discurso “I have a dream” de Martin Luther King, nove anos depois da costureira Rosa Parks ousar dizer não a um ato de segregação racial, e um ano antes do assassinato do ativista Malcom X. Se esses representaram a luta pela igualdade racial no mundo real, faltava um símbolo que trouxesse a questão para o campo da ficção. Coube a Stan Lee e Jack Kirby a criação do Pantera Negra, primeiro super herói negro das HQs. É verdade que antes do Pantera Negra, já existia o Lothar, braço direito do mágico Mandrake (1934) de Lee Falk, mas a imagem era por demais estereotipada. Em 1947 foi publicado a revista “All-Negro comics” com os personagens Ace Harlem e Lion Man, mas esta ficou restrita ao numero um. Em 1954 ainda houve “Waku, Príncipe dos Batu”, da Timely Comics (Antecessora da Marvel), mas poucas histórias do personagem foram publicadas no título “Jungle Tales”. O Pantera Negra quebrou essas barreiras, pois mostrava um homem negro com super poderes e inteligência extraordinária, herdeiro do trono da fictícia nação africana de Wakanda. Sua primeira aparição foi na edição #52 do “Quarteto Fantástico”, de Julho de 1966, na qual somos apresentados ao príncipe T’Challa, um homem culto (foi educado nas melhores escolas da Europa e América) que precisou superar o desejo de vingança quando seu pai, o Rei T’Chaka foi morto pelo vilão Garra Sônica, que planeja se apoderar do valioso metal Vibranium, existente apenas em Wakanda. Dois meses depois da criação do personagem foi fundado o Partido dos Panteras Negras, grupo extremista que por causa 20 anos confrontou a polícia e demais instituições na luta contra atos racistas. Temendo qualquer associação inicial Stan Lee chegou a rebatizar o personagem de “Black Leopard”, mas não demorou muito para reverter para o nome original. Depois de sua aparição inicial, o personagem ingressou nos Vingadores, levando a ganhar o título “Jungle Action featuring The Black Panther” a partir de 1973.

Em 1969 Pelé marcou seu milésimo gol pelo Santos derrotando o Vasco no Maracanã marcando 2 a 1. Era um negro alcançando um marco nos esportes, no mesmo ano em que Grande Otelo venceu como melhor ator no Festival de Brasília por seu papel em “Macunaíma”. Em meio a essas conquistas chegou a nossas bancas a revista “Homem de Ferro & Capitão América” #19 trazendo a história “The Claws of the Panther” originalmente publicada em “Tales of Suspense” #98. Foi o primeiro contato do leitor brasileiro com o príncipe T’Challa. Somente em 1974, a clássica história publicada originalmente no título do Quarteto Fantástico chegaria no Brasil na revista do “Homem Aranha” # 66, pela editora Ebal. Muitos anos depois, o personagem ganhou maior destaque no Brasil quando os heróis Marvel começaram a ser publicados pela Editora Abril a partir de “Superaventuras Marvel” #7 (Janeiro 1983). A Princesa Shuri, a irmã do Pantera Negra só seria conhecida a partir de 2005 quando o escritor Reginald Hudlin e o desenhista John Romita Jr assumiram um novo título para o heroi. Nos quadrinhos T’Challa é voltado para a ciência enquanto Suri é mais voltada para as crenças espirituais de seu povo. No filme os papeis foram invertidos fazendo de Shuri uma inventora e levando T’Challa a dimensão espiritual onde se comunica com seu pai falecido. Outro momento marcante do personagem no Brasil é a história do casamento do herói com a Tempestade dos X Men nas páginas de “Marvel Action” #8 (Agosto de 2007). Mais tarde, a Marvel reverteria tudo separando os personagens. Com o caminho aberto pelo Pantera, outros super heróis negros seriam lançados: Em 1969 Sam Wilson, o Falcão tornou-se o parceiro do Capitão América, chegando a substituí-lo recentemente. Em meio a Blackexplotation (série de filmes com elenco e equipe essencialmente com artistas negros) surgiu o icônico detetive Shaft, interpretado por Richard Roundtree em 1971, e revivido por Samuel L.Jackson em 2000. Em 1972 a Marvel publicou “Luke Cage Hero For Hire”, que chegou ao Brasil um ano depois pela editora Górrion.

Stan Lee cumprimenta Chadwick Boseman

Na semana que vem Leo Banner traz o arauto favorito de Galactus.

Deixe um comentário