PRELO & PELÍCULA A LAGOA AZUL

por Sérgio Cortêz

Henry de Vere Stacpoole: Uma Lagoa Da Cor Do Amor

Lançada no início da década de 1980, a terceira versão cinematográfica do clássico “A Lagoa Azul” tornou-se um grande sucesso de sua época, marcadamente entre os mais jovens – que mesmo hoje se encantam com a incrível história dos náufragos Richard e Emmeline. Baseado no romance escrito por Henry de Vere Stacpoole, “A Lagoa Azul” teve outras duas adaptações em película: a primeira, rodada em 1923, e outra produzida em 1949 que, diferente da versão anterior, saiu-se muito bem nas bilheterias. No entanto, foi possivelmente a versão de 1980 aquela que conquistou o maior número de corações, mentes e suspiros – mais apaixonados e profundos ao longo das incontáveis reprises levadas ao ar pelo Cinema Em Casa ou nas Sessões da Tarde.

* O Autor

A mente por trás da lagoa: Henry de Vere Stacpoole

Henry de Vere Stacpoole nasceu na Irlanda a 09 de abril de 1863. Foi autor de diversos romances e novelas, porém o livro “A Lagoa Azul” (1908) se tornou seu trabalho mais conhecido. Stacpoole tinha um pseudônimo, Tyler de Saix, usado em algumas de suas publicações.

Antes de consagrar-se como escritor, Henry de Vere Stacpoole teve uma carreira célere como médico de navio – atividade que lhe permitiu conhecer lugares exóticos espalhados pelo Pacífico Sul. Quando pôde se dedicar ao trabalho literário em tempo integral, graças em grande parte ao sucesso de “A Lagoa Azul”, inspirou-se em tais paragens como cenário para alguns de seus textos.

* O Livro

Antiga capa da edição nacional do romance “A Lagoa Azul”

“A Lagoa Azul” se passa no período vitoriano e conta a história de duas crianças, Richard (ou Dick) e Emmeline que, após um naufrágio, crescem juntas numa ilha paradisíaca sobrevivendo com a ajuda de Paddy Button, um velho marinheiro que fazia parte da tripulação. Porém, após a morte do marinheiro, elas precisam se virar sozinhas e, com o passar do tempo, acabam inevitavelmente descobrindo o amor.

No livro, a história é um pouco mais longa e menos romântica que as versões levadas às telas. Estruturada por capítulos curtos e narrada em terceira pessoa, apresenta Richard como um menino audacioso e inteligente, enquanto Emmeline mostra-se uma menina dócil e cuidadosa, que carrega uma caixinha misteriosa para todos os lugares.

Através de sua obra, Henry de Vere Stacpoole constrói o conceito de que uma vida afastada da sociedade e próxima a um estado selvagem pode, na verdade, ser um privilégio. Por isso, as crianças parecem ser mais felizes diante da liberdade proporcionada pela ilha onde vivem, adaptando-se facilmente ao lugar. “A Lagoa Azul” não apresenta um texto profundo ou enriquecido por menções filosóficas, mas sim uma leitura leve e descompromissada, capaz de entreter e, ao mesmo tempo, estimular a imaginação de seus leitores.

* Versões Para o Cinema

A lagoa nas telonas em três diferentes momentos: 1923, 1949 e 1980

– A Lagoa Azul (1923)

Adaptação dos tempos do cinema mudo e em preto/branco, que segue a premissa original do romance de Henry De Vere Stacpoole: duas crianças crescem enquanto estão presas numa ilha tropical, um lugar paradisíaco onde descobrem o amor. Essa primeira versão trazia Molly Adair como Emmeline, Val Chard como Richard e Dick Cruikshanks (que também dirigiu o filme) como Paddy Burton. Infelizmente a película não se saiu muito bem nas bilheterias e assim seu desempenho ficou aquém do esperado.

Cena da primeira versão cinematográfica do romance de Vere Stacpoole

– A Lagoa Azul (1949)

Dirigido e produzido por Frank Launder e Sidney Gilliat, a segunda versão do livro foi estrelada por Jean Simmons, como Emmeline Foster, e Donald Houston interpretando Michael Reynolds (o nome Richard ou sua contração “Dick” não foram usados pelos roteiristas).

A produção havia sido planejada na década anterior, mas fora adiada por mais de uma vez, tanto em razão da Segunda Mundial quanto pelas dificuldades financeiras do pós-guerra. Finalmente, após três meses de filmagens em Fiji e todo o trabalho de finalização, chegou às telonas em 1949 e se tornou o sétimo filme de maior sucesso nas bilheterias britânicas daquele ano.

A bela Jean Simmons como Emmeline Foster na versão de 1949

– A Lagoa Azul (1980)

Cena da picante versão que chegou às telonas em 1980

Randal Kleiser foi o diretor da versão de maior sucesso do romance de Henry de Vere Stacpoole. Estrelado por Brooke Shields como Emmeline e Christopher Atkins no papel de Richard, é um filme que funciona muito bem ao misturar aventura, drama e romance em doses corretas. Não obstante, ficou assaz conhecido por suas cenas de nudez e sexo – embora em menor quantidade quando comparado ao livro. Outra relevante diferença é que, no romance de Stacpoole, o choque cultural entre os povos da polinésia e os estrangeiros ingleses tem maior evidência.

Inevitável não mencionar toda a controvérsia envolvendo Brooke Shields – que, na época das filmagens, somava apenas 14 anos de idade – e as cenas de nudez da personagem Emmeline. Porém, de açodo com os produtores, tais cenas contaram com Kathy Troutt, dublê de corpo que, por sinal, era maior de idade. A despeito das críticas negativas, o filme chegou ao nono lugar no ranking das maiores bilheterias de 1980.

Brooke Shields em sua polêmica interpretação de Emmeline Foster

* Uma Ilha Para Descansar

Henry de Vere Stacpoole viveu no interior de Essex, na Inglaterra, antes de se mudar para a Ilha de Wight na década de 1920, onde permaneceu até sua morte, a 12 de abril de 1951. Seu corpo foi enterrado na Igreja de São Bonifácio, Bonchurch, na bucólica Ilha de Wight, também na Inglaterra.

Local de sepultamento do escritor Henry de Vere Stacpoole

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Nota do Colunista: e com o presente artigo faço minha despedida da coluna “Prelo e Película”, que em breve passará às mãos do crítico e escritor Paulo Telles. Agradeço aos meus colegas de site, Paulo Telles e Adilson Carvalho, pela confiança em mim depositada quando, a cerca de um ano, convidaram-me para assinar “Prelo e Película”. Continuarei colaborando com Cinema Com Poesia através de participações ocasionais na coluna Poltrona 3.

S.C.

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Para saber mais sobre o filme “A Lagoa Azul”, visite Bloguinho:

https://bloguinho2022.blogspot.com/2022/05/a-lagoa-azul.html

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