Por Adilson Carvalho

O ano passado foi marcante pelo revisionismo de grandes ícones da cultura americana. Primeiro foi “Elvis“, de Baz Luhrmann e depois Marilyn Monroe. Mas não espere ver uma cinebiografia tradicional, pois o filme dirigido por Andrew Dominik, adaptado do livro de Joyce Carol Oates, não é um filme sobre a vida de Marilyn Monroe, mas uma reimaginação de sua trágica vida. Não é sobre o que foi, mas sobre o pode ter sido. O próprio diretor alegou que seu filme explora pouco os diálogos, preferindo conduzir sua narrativa através do impacto de imagens do que a estrela supostamente teria vivido e que a levaram para o fundo de um poço emocional. Para isso, a atuação de Ana de Armas (Entre Facas & Segredos, 007 Sem Tempo para Morrer, O Agente Oculto) como Marilyn Monroe foi notável, mas eclipsada por um roteiro extremamente sensacionlista. A atriz cubana, passou vários meses aperfeiçoando sua voz para reduzir seu sotaque latino e convencer no papel, que já havia sido oferecido a Jessica Chastain e Naomi Watts. A atriz foi aplaudida por longos minutos quando o filme foi exibido no Festival de Veneza de 2022, ainda assim despertou uma forte reação daqueles que se incomodaram com o fato que Ana é uma atriz cubana interpretando um ícone americano. Bobagem, sua composição de personagem é boa, mas o difícil é equilibrar a sensualidade à flor da pele que a atriz tinha, com sua fragilidade emocional, seus conflitos e seus medos ao longo de vários relacionamentos tóxicos não nomeados mas percebidos como o ex atleta (Joe Dimaggio vivido por Bobby Carnavale), ou o dramaturgo (o escritor Arthur Miller vivido por Adrian Brody). É na liberdade narrativa que se segue que o filme peca.

Qualquer elogio à atriz se perde na apelação exagerada que o filme O filme ainda carrega na polêmica das cenas de sexo impactantes como a do estupro no início de carreira, que nunca aconteceu oficialmente. A Netflix pediu que o diretor suavizasse as cenas “quentes”, mas isso não impediu que o filme fosse classificado N-17, ou seja, proibido para menores de 17 anos, a primeira desta faixa para uma produção de streaming. Ainda no elenco temos Chris Lemmon, vivendo o ator Jack Lemmon, seu pai na vida real, com quem Marilyn fez o clássico “Quanto Mais Quente Melhor” (1959). A releitura de Dominik certamente não será a última vez que veremos uma representação da icônica atriz que por anos foi o pecado que morava na imaginação de homens, mas que nunca deixou de ser uma deusa no panteão de Hollywood. O filme Blonde está indicado ao Oscar de melhor atriz para Ana de Armas. O filme está disponível na Netflix. Assista ao Oscar 2023 em 12 de março.