TERRITÓRIO NEUTRO: HULK NA NETFLIX

Por Leo Banner

Bill Bixby e Lou Ferrigno

Se já é extremamente prazeroso escrever e falar sobre cinema, séries, quadrinhos e tudo mais que se refira à arte e à cultura pop de uma maneira geral, imagina a satisfação que me dá falar sobre meu personagem preferido, o INCRÍVEL HULK! Tudo bem que esse post não será exatamente sobre os quadrinhos, mas, sim sobre o piloto da famosa série de televisão de 1977 que guarda pouquíssima relação com as HQs, e que estreia na NETFLIX na quarta-feira, dia 01 de março! Pode parecer estranho falar isso hoje em dia, mas o Hulk já foi um personagem de sucesso e uma referência de poder e força das histórias em quadrinhos! Então, ainda que não desfrutasse do sucesso e da preferência do grande público em relação a personagens do calibre do Homem-Aranha ou do Superman, a verdade é que o gigante verde tinha um público fiel e cativo que garantia ao seu título uma vendagem razoavelmente boa! Por conta disso, a Marvel cedeu os direitos de adaptação do Hulk para a Universal (não apenas do Hulk, a bem da verdade, mas não vamos nos perder do foco, não é mesmo???😉) que designou Kenneth Johnson como responsável pelo projeto que, a princípio, seria de dois filmes para a televisão! Dependendo do retorno dos filmes, quem sabe não poderia surgir uma série….😁

Sr.McGee não me irrite.

Para resumir e contextualizar um pouco, antes do resultado final, Johnson teve umas ideias no mínimo excessivamente “inovadoras”! Não bastassem as limitações orçamentárias e de recursos tecnológicos para retratar o Hulk de forma fidedigna, Johnson pensou em fazer um Hulk VERMELHO (!!!)! Sim, pode parecer absurdo, mas ele cogitou isso na época. Considerando que o fator que desencadearia as transformações do Hulk seria a RAIVA, Johnson pensou que a cor vermelha seria mais condizente com essa proposta! Como sabemos – felizmente – essa ideia foi refutada! A outra grande alteração foi no nome do personagem que se transformaria no Hulk! E sobre isso existem duas teorias. A primeira diz que Johnson detestava aliterações do tipo Lois Lane, Peter Parker, John Jones e… Bruce Banner; então, decidiu mudar o nome do cientista de ROBERT BRUCE BANNER para DAVID BRUCE BANNER, valendo mencionar que o nome “Bruce” só aparece mesmo no piloto de forma bem rápida, sendo o personagem chamado mesmo de DAVID BANNER ! Anos mais tarde Johnson revelou que seu objetivo era fazer um paralelo entre a dualidade BANNER e HULK com a de DAVID e o GOLIAS, razão pela qual optara pelo nome “David”! Vai saber…😆 Outra mudança necessária foi em relação à origem do Hulk; sai a explosão da bomba gama num campo de testes do exército e entra uma contaminação decorrente de uma experiência de laboratório malsucedida! Para o papel de Bruce Banner – ops, DAVID Banner – chamaram o excelente e saudoso Bill Bixby, famoso por séries como “Meu Marciano Favorito” e “O Magico”; e para fazer o Hulk… escalaram a princípio RICHARD KIEL, o gigantesco ator de 2,18m que ficou conhecido por interpretar o vilão “JAWS” nos filmes 007 – O ESPIÃO QUE ME AMAVA (1977) e 007 CONTRA O FOGUETE DA MORTE (1979)! Kiel gravou cenas como o gigante verde, mas o resultado não agradou, pois, ainda que fosse realmente (muito) alto, não possuía a compleição física que o personagem necessitava! Para substituí-lo, escalaram o fisiculturista LOU FERRIGNO, então sob os holofotes do mundo por ter ficado em quarto lugar no concurso de MISTER UNIVERSO daquele ano de 1977, uma vez que além do porte avantajado, Ferrigno possuía a boa altura de 1,96m! Fechando o elenco principal, temos Susan Sullivan como a doutora Elaina Marks e Jack Colvin como o repórter de tabloide Jack McGee!.

A história gira em torno da obsessão do doutor David Banner em descobrir o mecanismo de acesso à força oculta que todos os seres humanos possuem dentro de si em momentos de desespero e grande necessidade, uma vez que o próprio Banner não foi capaz de acessar essa mesma força quando do acidente automobilístico que vitimou sua esposa! Banner trabalha em conjunto com a também cientista Elaina Marks visando descobrir as circunstâncias que disparam o acesso à essa grande força! Os cientistas são constantemente assediados pelo repórter Jack McGee, que procura insistentemente obter uma entrevista para seu jornal sobre a pesquisa em questão.
Depois de várias semanas de pesquisas infrutíferas, Banner conclui que todos os casos em que pessoas acessaram essa grande força oculta aconteceram em momentos de maiores emissões solares contendo radiação gama, e que no momento em que teve o acidente com sua esposa, essas emissões radiativas estavam com BAIXO nível de radiação gama, o que, a princípio, o privara de acessar essa força dentro de si para salvá-la! Exultante com a descoberta, tenta contatar sua parceira que se encontrava ausente, mas sem sucesso naquele momento; então, por conta própria, Banner decide se dirigir ao laboratório a fim de aplicar em si mesmo uma dose de radiação gama para comprovar sua teoria! O que Banner não sabia naquele momento era que o projetor gama estava sendo recalibrado, e a quantidade máxima programada pelo cientista no experimento era na verdade milhares de vezes maior do que ele pensava! Após essa tremenda injeção de radiação gama, Banner não experimenta nenhuma mudança aparente, e deixa o laboratório tomado por uma raiva crescente! Uma tempestade desaba na hora que o cientista entra em seu carro e parte! No caminho passa por um detrito que estoura o pneu de seu carro! Cada vez mais enfurecido e frustrado, Banner começa a trocar o pneu do automóvel! A chuva intensa faz a chave de roda escorregar duas vezes da mão do cientista que, extremamente frustrado, começa a sofrer uma surpreendente mutação que o transforma num gigantesco ser esverdeado que destrói o carro à sua frente! No dia seguinte, o gigante verde se depara com uma criança e seu pai que pescavam na beira de um rio! O gigante tenta ser gentil com a criança, que se assusta com sua aparência grotesca, e grita pelo pai, que atira no monstro!

Susan Sullivan e Bill Bixby

Depois de arremessar o pescador a metros de distância, o gigante verde se afasta e reverte à sua forma humana! Ciente de que algo na sua experiência não correu como deveria, Banner procura Elaina Marks para lhe contar o ocorrido, e ambos decidem se estabelecer num laboratório isolado a fim conduzir um experimento controlado para estudar a transformação que ocorrera com o cientista! Isolando-se no interior de uma potente câmara de pressão, Banner tenta reproduzir, com o auxílio da amiga, as mesmas condições da noite anterior que o fizeram mudar, mas sem sucesso! Após uma breve ida ao complexo principal, Elaina retorna ao laboratório isolado e revela a David a verdade sobre a recalibração do projetor de raios gama! Atemorizado, o cientista aconselha a amiga a trancá-lo completamente dentro da câmara de pressão enquanto tentam conduzir os experimentos! Depois de mais uma tentativa frustrada de ocasionar a mutação, Elaina aconselha a David que descanse um pouco enquanto ela atualiza algumas anotações! Sem tirar os olhos dos monitores, Elaina vê que David adormece mas que suas ondas R.E.M. revelam q ele tem um sonho intenso naquele momento! De fato, Banner tem um pesadelo com o acidente que vitimou sua esposa e começa a se transformar, enquanto que, do lado de fora da câmara de pressão, Elaina percebe que as medições param subitamente! Preocupada, a cientista se dirige para a câmara de pressão para verificar seu amigo, no momento em que uma enorme mão verde destroça o visor de vidro reforçado! Elaina começa a fazer registros acerca da enorme e furiosa criatura em que David Banner se transformara! Após tensos minutos, o gigante arrebenta a câmara de pressão e se põe cara a cara com a cientista que, dando mostras de enorme auto controle, consegue recolher amostras de sangue e acalmar o incrível gigante que, logo depois, reverte para Banner!

Capa de revista da Bloch (à esquerda) e foto promocional da série (à direita)


Até esse momento, falei de praticamente dois terços do filme, e deixarei o terço final para que vocês vejam por si mesmos na estreia da Netflix, fazendo apenas o acréscimo que, depois desse episódio envolvendo a câmara de pressão, Banner e Marks concluem que o comprometimento emocional (raiva, medo, angústia, frustração etc) dispara a transformação! Como podem ver a história é BEM diferente das HQs, mas sendo sincero, é uma história que funciona muito bem! Kenneth Johnson conseguiu achar uma história adequada que funcionou perfeitamente em função das limitações técnicas da época, e teve enorme habilidade na sua condução bem como na linguagem utilizada para contá-la, conseguindo nos entregar um filme denso, tenso em alguns momentos e, também, melancólico, sem que isso prejudique o resultado final! Muito pelo contrário, tanto que esse filme teve uma continuação chamada “MORTE EM FAMÍLIA”, no mesmo ano de 1977, cujo resultado satisfatório culminou na criação da série O INCRÍVEL HULK no ano seguinte (que já foi tema de análise aqui do site tempos atrás)! Para aqueles que hoje em dia torcem o nariz para esse filme do Hulk, tentem encará-lo como uma versão alternativa do Multiverso, onde sua existência seria perfeitamente plausível! A verdade é que esse filme teve – e acredito que ainda tem – sua relevância por ter marcado uma época! E a comprovação dessa importância se evidencia até mesmo na criação de uma tira de jornal com histórias do Hulk baseadas justamente na série que esse longa-metragem originou, produzidas por ninguém menos que o cocriador do personagem Stan Lee, juntamente com seu irmão Larry Lieber e o desenhista Rich Buckler. Essas tiras saíram no Brasil no suplemento dominical “O Globinho” do Jornal O Globo e nas edições ALMANAQUE DO HULK #5-7 da Editora RGE (antecessora da Editora Globo)!

Para aqueles que já viram e conhecem o filme, é uma ótima oportunidade de rever e relembrar; para aqueles que nunca viram, é uma chance de conhecer esta versão do gigante verde do “Multiverso”, se abrir para essa versão que, não obstante as limitações técnicas, marcou época e reside na memória afetiva de muitos quarentões como eu!😉

Vida longa e próspera e até a próxima!🖖🏻

Deixe um comentário