Por Adilson Carvalho

Com o lançamento de História do Mundo – Parte II no Star Plus, o CCP começa agora uma série de artigos sobre a carreira do ilustre Mel Brooks, e para começar vamos revistar o velho oeste parodiado por Mel em Banzé no Oeste, lançado originalmente em nosso país em 12 de julho de 1974. Na ocasião, Mel Brooks havia conquistado uma vitória e uma derrota nas telas. O sucesso de Primavera Para Hitler (The Producers) em 1967 foi seguido do fracasso de Banzé na Rússia (Twelve Chairs) em 1970. Alguns anos depois, Brooks conseguiu do estúdio da Warner Brothers a chance de filmar Banzé no Oeste (Blazing Saddles), a história de Andrew Bergman sobre um xerife negro contratado por um especulador desonesto para expulsar cidadãos de uma cidade somente de brancos que fica no caminho de uma ferrovia. A história foi roteirizada pelo próprio Mel Brooks com Richard Pryor (1940-2005), que a princípio interpretaria o xerife mas os executivos da Warner não aceitaram pois o talentoso Pryor já vinha com problemas com álcool e drogas. Assim, o papel foi para Cleavon Little (1939-1992), que em cena demonstrou química humorística com Gene Wilder (1933-2016), no papel do pistoleiro Jim. Brooks conseguiu manter Pryor como roteirista junto dele, de Andrew Bergman e Alan Uger e Norman Steinberg mas ainda assim os problemas continuaram com os censores da Warner cortando 80 por cento do roteiro, e exigindo de Mel que reescrevesse tudo, considerado como ofensivo demais.

Mel usou uma técnica interessante inserindo diálogos aleatórios em meio às falas indesejadas de modo que quando submetidas à análise ficassem diluídas. Entre as falas estavam a menção à palavra “nigger“, constantemente usada no filme e a sequência de flatulência, tudo mantido por Brooks de forma hábilmente disfarçada. O truque deu certo e o filme tornou-se um grande êxito comercial arrecadando 47,8 milhões de dólares só no mercado americano. O elenco ainda trouxe Madeleine Khan (1942-1999), atriz recorrente nas comédias do período, roubando a cena como uma cantora cópia de Marlene Dietrich (1901-1992) e Slim Pickens (1919-1983), um ator veterano no gênero que entrava em praticamente todos os westerns e que todos reconhecem da cena final de Dr. Fantástico, cavalgando uma bomba nuclear). O filme era uma comédia sobre o racismo na América, sem fazer concessões e isto incomodou não somente aos executivos mas também a atriz Hedy Lamarr (1914-2000) cujo nome foi parodiado por Brooks como Hedley Lamarr, papel entregue a Harvey Korman (1927-2008). A atriz processou Mel Brooks pela ousadia com o resultado sendo decidido fora dos tribunais. Mel ainda assinou a trilha sonora do filme e batizou o filme como Blazing Saddles, algo como “Selas em Chamas” depois de ter tomado um banho e pensado no título aleatoriamente.

Revisto hoje, dificilmente o filme de Mel seria feito pois os tempos são mais sensíveis e o politicamente correto impera em Hollywood com ofensas sendo sentidas naquilo que antes era permitido. Ainda assim, Banzé no Oeste permanece na lista dos 100 filmes mais engraçados de todos os tempos pelo AFI (American Film Institute) e a canção “I’m Tired” como uma das melhores usadas em filmes. Não perca o próximo artigo “As Loucuras de Mel” que nos levará à Transilvânia.