Por Adilson Carvalho

A estreia no Star Plus de O Estrangulador de Boston abre o baú da memória para a primeira versão cinematográfica do fato entitulada O Homem que Odiava as Mulheres (The Boston Strangler) lançada nos cinemas um ano depois que Albert De Salvo confessara ter matado 13 mulheres entre 1962 e 1964 entrando para a história como um dos mais cruéis serial killers dos EUA. O diretor Richard Fleischer (1916 – 2006) teve em mãos o roteiro de Edward Anhalt a partir do livro de Gerold Frank. Boston está aterrorizada por um serial killer que ataca mulheres levando a polícia a uma apurada investigação que leva à captura do encanador Albert DeSalvo, mas suas falhas de memória dificultam a apuração dos crimes. O papel ficou com Tony Curtis (1925-2010), que surpreende com sua atuação. Com a imagem marcada pelas comédias românticas e papéis de galã, o ator foi recusado por Richard Zanuck, o chefão da 20th Century Fox, que considerava nomes como Robert Redford ou Warren Beatty para o papel. Não se dando como derrotado, o ator contratou um maquiador e um fotógrafo, enviando para Zanuck as foto nas quais está irreconhecível. Bastou para que Tony fosse contratado para o filme. O fato de que seu personagem demora quase uma hora para aparecer em cena aumenta ainda mais o suspense em torno de si.

Quando as filmagens começaram, o verdadeiro Albert De Salvo havia fugido da prisão, sendo capturado pouco tempo depois. Contracenando com Curtis, estão os excelentes Henry Fonda (1905 – 1982) e George Kennedy (1925-2016) como os policiais em seu encalço. Mas o filme é de Tony, o ator não só convence como um assassino psicótico como constrói uma postura e olhar totalmente diferentes do que era associado à sua imagem, cumprindo o objetivo do ator de se mostrar capaz de atuar em papéis desafiadores. Outro triunfo do filme é ter sido o primeiro a usar o recurso de split image, ou seja várias imagens simultaneamente exibidas na tela, algo que Brian De Palma usaria bastante em alguns de seus filmes. Toni Curtis, cuja carreira estava em declínio na época, ganhou um novo frescor em Hollywood e foi indicado ao Globo de Ouro de Melhor Ator, embora não tenha ganhado. Albert de Salvo foi morto na cadeia em 1973, e até hoje seu nome é mencionado como um dos piores assassinos em série da era.