Por Adilson Carvalho

Em 1976, o produtor Dino de Laurentis e o diretor John Guilhermin resolveram se aventurar a refilmar a história de Kong com várias modificações em relação ao original: Não há menção à Ilha da Caveira, a expedição que leva os personagens à ilha em que vive King Kong busca reservas desconhecidas de petróleo. Não há Carl Dehnam nem Ann Darrow, personagens do original aqui substituídos pelos personagens Jack Prescott (Jeff Bridges), Fred Wilson (Charles Grodin) e Dwan, esta vivida pela então estreante Jessica Lange, aos 27 anos. Os bastidores de produção foram conturbados com um cronograma apressado para estrear no Natal de 1976. Dino De Laurentis acreditava ter adquirido os direitos de refilmagem da RKO, estúdio responsável pelo filme original, de 1933. A Universal, contudo, alegava ter adquirido os mesmos direitos antes. O assunto foi resolvido na justiça com Laurentis garantindo sua realização, mas com parte dos lucros indo para a Universal, que desistira de fazer sua própria versão da história, como inicialmente planejado.

Reza a lenda que De Laurentis teria tentado contratar Ray Harryhausen, o mestre do stop motion, mas este teria recusado devido ao prazo extremamente apertado para a pré-produção. Assim, o Gorila deixa de ser uma miniatura em stop-motion, empregando um gorila mecânico de mais de 12 metros (que chegou a ser enviado ao Brasil para promover o filme) construído por Carlo Rambaldi, além de gigantescos braços hidráulicos e até mesmo um ator vestido de gorila (Rick Baker), não creditado. As atribulações não paravam por aí já que os membros do elenco adoeceram: Charles Grodin perdeu a voz, Ed Lauter e Jeff Bridges ficaram doentes e não puderam gravar por vários dias. O filme envelheceu mal diante da tecnologia digital, como a luta entre Kong (Baker) e uma cobra mecânica gigante, que hoje é risível, ou a pesada fantasia usada por Baker que deixa hoje visíveis os olhos do ator. Mas De Laurentis era uma raposa e se aproveitou de uma boa campanha publicitária para atrair o público, convidando o público em geral a comparecer na filmagem em Nova York para gravar a cena final, que se desenrola com Kong escalando o World Trade Center (aquele mesmo destruído em 11 de setembro de 2001) , em vez do Empire State do original.

Ao final, o filme custou cerca de US$ 24 milhões, 9 acima do orçamento pretendido, e sendo lançado em 17 de dezembro de 1976 nos Estados Unidos. De Laurentis estava tão confiante em seu lançamento que dizia que sua versão de King Kong seria um sucesso ainda maior que Tubarão, de Spielberg, um ano antes. O filme foi indicado para três Oscars técnicos e chegou a ganhar o de melhor efeitos especiais para Carlo Rambaldi. Rick Baker celebrou o trabalho do maquiador ao ponto em que a Academia criou então a categoria melhor maquiagem, que o premiou diversas vezes como em Um Hóspede do Barulho (1987) e Ed Wood (1994). Onze anos depois, DeLaurentis realizou uma infeliz sequência entitulada “King Kong Lives”, dirigida também por John Guilhermin, mas é melhor nem mencionar o que foi isso.