Por Adilson Carvalho

A trajetória de Bonnie Parker (1910-1934) e Clyde Barrow (1909-1934), casal de gangsters que promovia saques e assassinatos nos anos 30 foi mais um triunfo do gênero dos estúdios Warner. Na época de sua realização vários detratores o acusaram de violência excessiva, o que não o impediu de ganhar o prêmio de roteiro original da Crítica de Nova York, além de dois Oscars nas categorias de melhor fotografia e melhor atriz coadjuvante para Estelle Parsons. O sucesso de público e crítica colocou a moda dos anos 30 em evidência e renovou a narrativa cinematográfica na virada da década. Um coquetel delirante de sangue e balas, o filme explora a onda de crimes do casal Bonnie (Faye Dunaway) e Clyde (Warren Beatty) já dramatizado em Gangsters em Fúria (1958), de William Witney, com Dorothy Provine e Jack Hogan. Os roteiristas Robert Benton e David Newman, jornalistas da renomada revista Esquire, fizeram ampla pesquisa mas modificaram a natureza sexual de Clyde, que era homossexual na vida real, e mantinha uma menáge a trois com Bonnie e C.W Moss. As plateias de 1967 não aceitariam esta abordagem, embora realista, e assim Bonnie e Clyde foram retratados como um casal apaixonado de homicidas, tendo C.W Moss (Michael J. Pollard) como um fiel escudeiro.

Benton e Newman queriam Francois Truffart ou Jean Luc Goddard para a cadeira de diretor, até que os direitos fossem comprados por Warren Beatty que assumiu o co-protagonismo e a produção do filme, contratando Arthur Penn (1922-2010), com quem Beatty trabalhou em Mickey One (1965). Shirley MacLaine foi pensada inicialmente para o papel de Bonnie, mas sendo irmã de Warren Beatty na vida real, não ficaria de bom tom que fizessem papel de amantes. Warren pensou em sua namorada, a atriz Natalie Wood (1938-1981) para o papel, mas ela havia tentado o suicídio e foi hospitalizada às pressas. Foi Penn quem convidou Faye Dunaway para o papel, na época uma atriz pouco conhecida, vinda de pequenos papeis. Rodado no Texas com orçamento modesto de US$ 2 milhões e meio de dólares, o filme desafiou a liga dos moralistas da época que não digeriu bem a combinação atípica de humor negro e violência explícita. A irmã de Bonnie, Billy Jean Parker, chegou a processar Warren Beatty em um milhão de dólares pela ousadia da adaptação.

O filme revelou dois talentos como coadjuvantes, os atores Gene Hackman como Buck Barrow, o irmão mais velho de Clyde e Gene Wilder (1933-2016) em rápida mas marcante passagem nas telas como uma vítima de sequestro. A Warner tinha tão pouca fé no filme que ofereceu a Beatty apenas 40% da bilheteria do filme, que lucrou mais de US$70 milhões. Em uma das filmagens em externas, Gene Hackman notou que era observado por um homem que disse “Buck jamais usaria um chapéu assim“, e para espanto do ator era um parente dos verdadeiros Clyde e Buck Barrow. A verdadeira Blanche Barrow também se ofendeu pela forma como foi retratada no filme e processou os produtores também. O icônico crítico Roger Ebbert (1942-2013) estava trabalhando há meros seis meses como crítico de cinema quando assistiu Bonnie & Clyde – Uma Rajada de Balas, chamando-o de sua primeira obra prima assistida. O filme mantem o impacto de sua exibição e permanece como um dos grandes filmes de seu gênero e uma aula de narrativa cinematográfica consolidando o papel dos estudios Warner como realizadores ousados.

No próximo artigo, façam-me feliz pois Dirty Harry está chegando.