Por Adilson Carvalho

Stan Lee procurava espelhar o mundo real sempre que possível e há exatos 60 anos buscou inspiração na figura do milionário inventor Howard Hughes (1905-1976), contextualizando o novo herói no delicado momento do conflito do Vietnã.Novamente pensando em criar algo que fosse realista, um herói com uma espécie de calcanhar de Aquiles mas abordando o avanço tecnológico observado na vida real . Assim surgiu a figura de Tony Stark, ferido na guerra do Vietnã com uma condição cardíaca fatal a não ser que uma placa metálica inventada pelo gênio científico de Stark o mantivesse vivo. Daí a criação de uma armadura high tech o leva a repensar seus atos, levando a se tornar o Homem de Ferro, estreando na revista Tales of Suspense #39 (março de 1963), com desenhos de Don Heck que utilizou o cinza e um visual que lembrava o homem de lata de O Mágico de Oz, modificado pouco depois para um modelo vermelho e amarelo, mais arrojado e elegante que a usada na primeira aventura.

O nome do herói foi escolhido depois de Lee repassar uma lista de metais, que conferisse ao personagem um senso de poder. Stan Lee explorou o clima de guerra ligando a origem do Homem de ferro ao conflito no Vietnã, onde o milionário Tony Stark é gravemente ferido por uma granada. Para manter os estilhaços afastados de seu coração, enquanto era mantido prisioneiro nos campos do líder Vietcong Wong Chu, criou uma armadura com a qual conseguiu fugir para a liberdade. De volta aos Estados Unidos, Stark repensou a política armamentista que era a plataforma de sua empresa, a multinacional Stark Enterprises. Fazendo constantes atualizações em sua criação, Stark torna-se um herói – fazendo de sua tecnologia, o super poder necessário para combater as forças do mal, que nos idos dos anos 60 eram espiões comunistas, soviéticos (O Homem de Titânio, o Dínamo escarlate) ou chineses (O Mandarim). Na prática, a figura do herói Tony Stark servia como propaganda do capitalismo, já que seus adversários traziam ideologias socialistas que se encaixavam no clima de guerra fria, então vigentes. O charme do personagem, no entanto, sempre foi o contraste entre o herói, um vingador indestrutível e um homem que carrega suas fragilidades, seu sentimento de culpa pelo uso bélico de sua tecnologia – o que encontra ecos hoje no terrorismo mundial que substituiu a guerra fria como grande inimigo – e sobretudo pela crise de alcoolismo conforme mostrado no arco de histórias publicado na revista “Iron Man” de 1979 por David Micheline, Bob Layton & John Romita Jr, e que ficou conhecido como “O Demônio na Garrafa”. Nele, Justin Hammer – um empresário rival – consegue controlar a armadura do homem de ferro fazendo-o matar uma importante figura política e destruindo a imagem pública do herói, o que o leva à sarjeta. O arco foi polêmico na época por trazer a figura de um super-herói como um alcoólico e depressivo, o que já era para a Editora Marvel comum, mostrar heróis com falhas humanas. Embora Stark venha a se recuperar, sua relação com o álcool voltaria a ser explorada em outras histórias.

Da galeria de personagens, em Tales of Suspense #50, surgiria o Mandarim, que se tornaria o arquiinimigo de Stark. Nas primeiras histórias desse período surgiriam Happy Hogan e Pepper Potts (guarda costas e secretária, apaixonada por Stark), o Gavião Arqueiro, a Viúva Negra e os vilões Dínamo Escarlate e Homem de Titânio, tendo esse inclusive se tornado canção de Paul McCartney & The Wings em 1975 (Magneto and Titanium Man). Com a saída de Don Heck, Gene Colan passa a fazer os desenhos do Homem de Ferro, mas Lee deixa o título em Tales of Suspense #99 (1968), sendo a revista rebatizada The Invincible Iron Man #1 com Archie Goodwin e Gene Colan, a partir de maio de 1968. Na semana que vem vamos rever as adaptações do personagem para as telas.