Poema de Sérgio Cortêz
“Dublê De Corpo”

Sim, não mais seguirei estradas tortas
nem vou bebericar agrotóxicos da ilusão
ou mesmo quebrantar o coração:
no peito, veneno na surdina funesta.
Houve uma fresta e por ela tu passaste,
mas mergulhaste comigo, sem ter fim,
nos mais profundos olhares desditosos.
Sim, não mais far-me-ei tua intenção
que não satisfaço teus gostos.
No meu rosto, a herança triste
de quem inexiste para ti
e se faz infortúnio que importuna
na fortuna da tua beleza:
mas não serei arestas do teu passado.
E repensado o porvir se não sou do teu agrado,
se para ti a estética é estática, feita de mídia,
não me faço de bom grado, e sim logrado:
far-me-ei dublê de corpo às tuas vaidades.
E quanto à perfeição grega que desejas,
hei de possuí-la de forma sobeja:
músculos, carne, pelos e cabelos cacheados…
Sim, este ator que está em cena
ganha somente a tua pena,
tua comiseração e frigidez:
o amor fica para o dublê…
Publicado no livro “Ovo À Milanesa” (1994).
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