OPINIÃO: HALLE BAILEY É ARIEL E PONTO FINAL.

Por Adilson Carvalho

Desde que a atriz e cantora Halle Bailey, de 23 anos, foi anunciada como intérprete da princesa Ariel, a mídia explodiu com uma assustadora quantidade de comentários racistas que ainda ecoam, e com maior intensidade, com a estreia do filme de Rob Marshall. Apesar de toda a tecnologia, as pessoas ainda alimentam pensamentos medievais que desdenham do talento da jovem atriz e a julgam não pelo seus dotes musicais ou interpretativos mas pela cor de sua pele. O argumento de muitos é que a imagem de Ariel, no live action A Pequena Sereia, impressa na memória afetiva do público é o desenho de 1989, de uma sereia de cabelos ruivos e pele clara. Entendo que a identidade visual de um personagem é um forte elemento em uma adaptação, mas por este mesmo fato esquecemos que se trata exatamente disso, de uma adaptação. Antes da animação de 1989, Ariel nem sequer era conhecida do grande público, a não ser os leitores da obra original de Hans Christian Anderson. E esquecemos que a figura de uma sereia é mítica, ou seja, não são reais, então por quê razão não podemos abrir nossas mentes e aceitar que Halle Bailey possa interpretar esse mito com a força de seu talento? Seria a cor de sua pele mais importante que todos os atributos que um ator tem para representar um papel ? Será que a cegueira medieval é maior que a capacidade nossa de entender a estupidez do racismo ? Aposto em Halle Bailey e não vejo nenhum porém em sua escolha, e o único inconveniente aqui é a miopia discriminatória. Lembro bem de uma cena de diálogo entre os saudosos Sidney Poitier e Roy Glenn no terço final do clássico Advinhe Quem Vem Para Jantar (1967). Eles interpretam pai e filho, sendo que o Sr. Prentice (Glenn) não aceita que seu filho John Prentice (Poitier) se case com uma mulher branca (Katherine Hoghton). Em determinado momento do embate entre pai e filho, John diz “Esta é a diferença entre nós pai. O senhor se vê como um homem de cor. Eu me vejo apenas como um homem“. Seria ótimo se entendêssemos isso, e pudéssemos viver apenas como pessoas, independente da cor de nossa pele. Proponho um daltonismo voluntário em favor de uma natureza humana mais igualitária. Melhor sorte para Halle Bailey em seu papel na refilmagem de A Cor Púrpura, que chega às telas em dezembro desse ano. Melhor sorte para todos nós.

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