Por Adilson Carvalho

Algumas canções tornam-se tão icônicas que são automaticamente associadas a seus intérpretes originais, mesmo que venham a ser regravadas por outras vozes. È o caso desta canção gravada por Barbra Streisand em 1973, e lançada em setembro do mesmo ano para seu 15º álbum de estúdio, de mesmo nome. Escrita por Alan Bergman, Marilyn Bergman e Marvin Hamlisch para ser o tema melancólico de um relacionamento amoroso sem final feliz retratado no filme Nosso Amor de Ontem (1973), dirigido por Sidney Pollack e estrelado por Streisand ao lado de Robert Redford. O roteiro do filme espelhava a vida universitária de seu autor Arthur Laurents, quando este se envolveu com o Comitê de Atividades Antiamericanas. Este foi criado em 1938 para investigar qualquer atividade suspeita de ser simpatizante do comunismo.
No roteiro do filme, que teve participação não creditada de Francis Ford Coppola e Dalton Trumbo, a ativista da história é a personagem Katie Morosky, vivida pela própria Barbra Streisand, em papel feito sob medida para seu talento e postura empoderada, que vive tumultuado romance com o militar com ambição de ser escritor Hubbell Gardiner, papel de Robert Redford. A diferença ideológico de ambos acaba sendo o obstáculo intransponível para o sentimento que ambos tem um pelo outro. De acordo com o livro ‘The Way They Were: How Epic Battles and Bruised Egos Brought a Classic Hollywood Love Story to the Screen‘ (‘Nosso Amor de Ontem: como batalhas épicas e egos machucados trouxeram uma clássica história de amor de Hollywood para as telonas’, em tradução livre), a publicação do escritor e jornalista Robert Hofler revela que Redford, hoje de 86 anos, chegou a vestir duas cuecas iguais às usadas por atletas para rodar sua primeira sequência íntima com Streisand. Segundo a referida fonte, o ator tinha receio de se envolver com a atriz, e portanto precisava se proteger, já que estava bem casado e era pai de quatro filhos. Além disso, reza a lenda de que enquanto Streisand estava empenhada em viver um romance com Redford nos bastidores, ele parecia muito pouco à vontade em contracenar com ela, que na época era mais famosa por seus filmes musicais do que por ser intérprete de papéis mais densos.

O filme foi indicado a cinco Oscars, ganhando por melhor canção original. Esta chegou ao topo das paradas de sucesso nos Estados Unidos e Canadá, e seu tom nostálgico embalou muitos relacionamentos marcados por oposições e lembranças doloridas, com seus primeiros versos cravados na memória auditiva. No cinema, a canção foi usada também em Quero Ser Grande (1988), cantada por Tom Hanks, em Corra que a Polícia Vem aí 2 1/2 (1991), cantada por Priscila Presley, e em várias séries famosas da TV como Mork & Mindy (1980), The Fresh Prince of Bel Air (1992), duas vezes em Os Simpsons (2002 e 2018), duas vezes em The Nanny (1994 com Fran Drescher fazendo uma divertida paródia de Barbra Streisand, e em 1999 no último episódio) e mais recentemente em Stranger Things (2017) no episódio The Gate. Fica sobretudo a indelével voz de la Streisand, e toda sua potência vocal entoando um dos temas de despedida mais emocionantes, que certamente toca a cada um de nós com um triste rompimento de emoções de outrora.