Por Adilson Carvalho

A Disney fez de Frozen – Uma Aventura Eletrizante, um dos grandes triunfos de sua história, um primor não só na qualidade da animação como também no roteiro. Baseado no conto “A Rainha da Neve”, do escritor dinamarquês Hans Chrtistian Andersen ( o mesmo autor de A Pequena Sereia) , a história toca em pontos como o medo e a vontade de aceitação no mundo, mas trata essencialmente de amor de forma diferente do habitual em se tratando dos clichês do gênero. Anna é um heroína, destemida , desafia mil perigos em nome de uma causa diferente da simples luta por um grande amor. Este, aparece em segundo plano através da inocência com a qual conhece e se enamora do mal intencionado príncipe Hans, pois o amor que enfim vem a buscar e salvar é o amor fraternal, representado por Elsa, sua irmã que quando perde de vez o controle de seus poderes, provoca os eventos que se sucedem e que a levam a sentir livre pela primeira vez. Apesar de seus poderes se relacionarem com o frio intenso e o gelo, sua busca por liberdade é contagiante e calorosa. Tanto ela quanto o boneco de neve Olaf buscam superar a limitação imposta por sua própria natureza e mostram que suas atitudes mais do qualquer outra coisa os tornam mais humanos, mais calorosos que a ambição desenfreada, o medo e a paranoia determinantes nas ações dos vilões que ameaçam tomar o reino de Arendella. Dessa forma, o desenho inova ao mostrar motivações com as quais podemos nos identificar mais do que simplesmente as regras de um conto de fadas convencional em que a luta do bem contra o mal é parte indissociável da receita. Quem nunca se sentiu deslocado como a rainha Elsa ou precisou crescer subitamente e deixar a inocência de lado como a princesa Anna.

Na história original de Andersen, a Rainha da neve congela seu reino e sequestra uma das crianças, herdeiras de um poderoso mestre que poderia ameaçar seu poder, cabendo a uma menina corajosa resgatar seu irmão e convencer a rainha da neve a interromper o inverno eterno que assola a região. Uma animação russa bem mais próxima do texto de Andersen foi exibida há um ano em nossos cinemas e passou desapercebida. A Disney adaptou a obra de forma a aproveitar alguns elementos da história para criar algo novo tão contemporâneo quanto o medo do que é diferente e a necessidade de aceitação. Enfim, diferente em se tratando do que se espera geralmente de um produto Disney e focado em um público mais amplo, não apenas as crianças mas também os adultos que podem se identificar ora com Elsa, ora com Anna, ou simplesmente se deixar levar por uma história de amor verdadeiro e se surpreender com o que vai descobrir no final.

Três anos depois dos eventos do filme original, Elza e Anna decidem embarcar em uma viagem para descobrir a origem dos poderes de Elza e desvendar o mistério do desaparecimento de seus pais. Acompanhando as irmãs de Arendele estão Kristoff, a rena Sven e o boneco de neve falante Olaf, que graças ao poder da magia mantem sua forma física permanentemente, não importando se é ou não um inverno congelante. Para quem gostou do primeiro filme está tudo lá, belas canções, a união entre duas irmãs enfrentando adversidades e o espírito edificante nas falas. Quando, após um breve flashback inicial, reencontramos os personagens, estes se encontram no mesmo ponto do final do filme original, mas Elsa ouve um chamado misterioso que a levará a confrontar verdades que desconhece. Quando Anna diz a Olaf que algumas coisas mudam, outras são para sempre, temos a certeza de que essas verdades, no roteiro de Jennifer Lee, trarão mudanças significativas para todos, muito além da sensação de brincar na neve ou de ver uma porta abrir.

Essa jornada de descoberta traz novas canções para transmitir esse sentimento de mudança, não de envelhecimento, mas de amadurecimento, como a ótima “Into the Unknown”, ouvida aos 18 minutos iniciais que servem de prólogo para a aventura, e que para muitos lembrará a rainha da neve cantando “Let it go”. Kristoff tem seu momento quando canta “Lost in the Woods” com direito a uma referência visual da banda Queen. Mas quem rouba a cena é Olaf que, além de alívio cômico, tem seu momento de importância para a fluidez da narrativa ao resumir os eventos pregressos para o povo da floresta. A história contada por Lee, com contribuição de Marc Smith, Chris Buck, Kristen-Anderson Lopez e Robert Lopez, consegue encontrar uma justificativa para a sequência, enriquecendo a história que se conhece e fazendo uma respeitável adaptação da história original saída do livro The Snow Queen do escritor dinamarquês Hans Christian Anderson (1805-1875), publicado originalmente em 1844