Por Mauricio Rocha

Hoje não falarei de um filme especifico, darei uma opinião pessoal sobre o que acho do cinema atual. A greve em Hollywood me deu muito o que pensar. Eu poderia muito bem ser o chato em escrever que estão reclamando de barriga cheia, etc e tal. Mas, não! A greve em Hollywood tem fundamento e é preciso compreender que isso pode impactar até mesmo aqui. Contratos abusivos ainda existem no audiovisual. Basta ver o que as grandes empresas/produtoras fazem com determinados artistas. Não estamos mais na antiga Star System de . Estamos em uma época onde o serviço de streaming praticamente está suplantando o cinema. Há mais conforto em ver um filme em casa do que se locomover até um cinema, pegar chuva ou sol, condução pública (em especial aos finais de semana onde os horários são reduzidos) e ainda gastar uma soma considerável em ingresso e pipoca e refrigerante para assistir a um filme e de repente sair um tanto… decepcionado da sessão.
Mas, o que eu penso sobre o cinema, até pode gerar um debate ou uma discussão. Até porque, opiniões diferentes, ocasionalmente causam discussão. Ou melhor: discussões bobas. Por exemplo: uma pessoa tem a maior admiração por um determinado cineasta que muitas vezes é aclamado com um dos maiores de todos os tempos como Stanley Kubrick ou Alfred Hitchcock. O outro, simplesmente, não acha isso. Eu particularmente, admiro ambos e tenho nos dois, dois grandes mestres da sétima arte. Mas em compensação, há alguns grandes diretores que não sou muito fã. Eu conheço pessoas que odeiam Elia Kazan por conta do McCartismo. Até mesmo, quem ache o Stanley Kubrick chato. Eu acho as obras de Kubrick, em especial, Spartacus e Laranja Mecânica, tal qual, Vidas Amargas e Sindicato de ladrões do Kazan, grandes obras primas do cinema. Também há quem despreze Woody Allen por causa das polemicas de sua vida pessoal. Independentemente do que se pense sobre Woody Allen, ele é um gênio do cinema em matéria de criatividade, apesar de não o achar tão engraçado quanto alguns o acham. Comparações existem, claro. Colocar Woody Allen numa balança do humor onde há nomes anteriores aos dele como Charles Chaplin, Buster Keaton e Jacques Tati (um inglês, um estadunidense e um francês) penso que seja injusto. O estilo do Allen é totalmente diferente do estilo destes três citados. O próprio estilo de Chaplin e Keaton são opostos: Chaplin um sonhador, otimista e romântico de carteirinha, mesmo quando tudo acaba por dar errado e o Keaton um surrealista a nível de Buñuel. Só que cômico.
Dito isso, o que vejo do cinema moderno é que não há mais aquela magia havia nos clássicos. Por mais que o CGI seja “encantador”, vezes encanta, vezes deixa a desejar. O problema do cinema é que elitizaram a sétima arte. Digo, aqui no Brasil. Os ingressos são caros e muitas vezes, os filmes não valem o valor gasto na obra que o espectador vai para prestigiar. Claro, estou sendo saudosista ao dizer que não há aquela magia de ir aos antigos cinemas de rua e assistir aos clássicos como Os Dez Mandamentos, filme que o pessoal saia do cinema e ficava semanas falando sobre. Assim caminha a humanidade, onde se via James Dean pela última vez nas telas. Não se cantarola mais no cinema que nem o público que via Gene Kelly cantar e dançar em Cantando na chuva. Não, não há mais aquela magia. O que tem hoje em dia, é uma geração que se acostumou a ver filmes com efeitos puramente artificiais. Não se vê multidões em filmes como DeMille fazia, ou mesmo sendo impossível de repetir, como na cena inicial de Gandhi, onde, conta-se o maior número de figurantes já reunidos para o cinema. Hoje é tudo artificial, digitalizado. Não há quase nada natural, puro. Um fato que incomoda profundamente a audiência nos filmes atualmente, são se prenderem mais a quererem transformar um filme em um debate filosófico ou ideológico do que se preocuparem com a própria arte. Arte é arte e é preciso respeita-la como tal.
Dito isso, atualmente, se fala muito em inteligência artificial, um dos motivos da greve em Hollywood. Não sei para onde o cinema está indo, mas, do jeito que estão as coisas, daqui alguns anos, alguém terá a brilhante ideia de juntar astros que já não estão mais entre nós e fazer um filme com eles artificialmente. Já imaginou ver Marlon Brando atuando de novo? John Wayne num faroeste com algum ator atual? Não é impossível, tendo como referência o que já fizeram com atores e atrizes como Peter Cushing, Carrie Fisher e o próprio Mark Hamill em Star Wars. Ou como fizeram com Al Pacino e Robert DeNiro em O Irlandês e mais recente o Harrison Ford em Indiana Jones e a Relíquia do destino. Acho curioso isso, mas, ao mesmo tempo… assustador. Não sei se desrespeitoso, mas, vejo como uma homenagem, como no caso do Christopher Reeve em The Flash. Sim, foi o único momento do filme que me emocionei.
O que está acontecendo com o cinema atualmente, é que o cinema ainda tem sua magia, sua poesia, todos os elementos que fazem do cinema o que ele é: a sétima arte. Felizmente, isso sempre terá. Mas, não deixemos jamais tal magia se perder. Vida longa ao cinema!
Mauricio Rocha, 25 de julho de 2023.