IN MEMORIAN: LENY ANDRADE E DÓRIS MONTEIRO

Por Paulo Telles & Adilson Carvalho – Equipe CCP

Esta semana foi de grande perda não somente para a Música Popular Brasileira, como também para o mundo das artes e de nossa cultura nacional. Morreram na última segunda (24) as cantoras Dóris Monteiro (1934-2023) e Leny Andrade (1943-2023). Ambas cariocas, elas brilharam intensamente nos palcos e em muitos shows pelo Brasil afora.

As lendárias e queridas Dóris Monteiro e Leny Andrade.

Dóris Monteiro era descrita pelos fãs e críticos musicais como a cantora que tem a bossa de quem já nasceu sabendo. Dóris começou a despontar para o público aos 15 anos, cantando em programa de calouros no rádio, em francês. O ano era 1949 e o samba-canção consagrava cantores com vozes de alta potência e repertório de dor de cotovelo. Dóris, porém, tinha a voz suave e emprestava charme e frescor às canções, privilegiando também letras mais alegres e firmando-se como precursora de um estilo que viria a ter destaque também na bossa nova, além de acumular gravações de sucesso nas décadas seguintes – especialmente nos anos 1960 e 1970. É considerada uma das mais expressivas cantoras da transição do samba-canção para a bossa nova. Com mais de 20 LPs e mais de 20 discos de 78rpm gravados, Dóris se mantinha ativa, fazendo shows. Em 2020, regravou a música Fecho Meus Olhos, Vejo Você no álbum Copacabana – Um Mergulho nos Amores Fracassados, com base no livro Copacabana – A Trajetória do Samba-Canção (1929-1958), lançado em 2017.

Leny Andrade começou a carreira cantando em boates, morou cinco anos no México e passou boa parte da vida morando nos Estados Unidos e Europa. Participou de programas de calouros em rádios e ganhou uma bolsa de estudos para o Conservatório Brasileiro de Música. Estreou profissionalmente como crooner da orquestra de Permínio Gonçalves e a cantar nas boates Bacará e Bottle’s Bar, no Beco das garrafas, reduto de boêmios e músicos do movimento musical urbano carioca surgido em 1957, com a bossa nova. Em 1965 alcançou grande sucesso com o espetáculo Gemini V atuando com Pery Ribeiro (1937-2012) e o Bossa Três na boate Porão 73, lançado um disco gravado ao vivo. Leny, por muitos é considerada a maior cantora brasileira de jazz.

Quando Leny Andrade começou a fazer sucesso no cenário brasileiro, Dóris Monteiro já era conhecida como cantora de rádio. Elas tornaram-se amigas e, nos últimos anos, tiveram alguns reencontros. Em 2017, gravaram as músicas da edição do show de 100 anos de Dalva Oliveira. Dóris deu voz ao samba Zum zum, enquanto Leny cantou Há um Deus. Já em abril de 2019, a dupla se encontrou na premiação Troféu Feira do Vinil do Rio, no qual foram homenageadas.

Ambas as artistas foram veladas juntas em cerimônia aberta ao público no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, na Cinelândia, nesta terça-feira (25). Dóris tinha 88 anos, Leny 80. Enquanto o velório de Dóris acontecia de 9h às 13h, o de Leny foi realizado das 10h às 13h. Ambas foram cremadas. Contudo, a arte destas duas grandes estrelas, espíritos superiores que levaram através de seus talentos a cultura e a educação, jamais será esquecida, cujo legado é pétreo, tamanha a importância de sua contribuição para nossa MPB.

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