Por Adilson Carvalho

Um dos aspectos mais interessantes da ficção científica é a capacidade de prever o que está por vir. O Nautilius de Jules Verne antecipou o surgimento do submarino, as aventuras de Flash Gordon de Alex Raymond fizeram o mesmo com o laser e a mini saia, e entre tantas que poderíamos tratar temos um lado assustador do futuro quando constatamos que vários dos fatos de hoje apareceram em divagações literárias do passado como um alerta para as gerações por vir. É nesse panorama que lembramos do clássico No Mundo de 2020 (The Soylent Green), uma narrativa noir distópica há muito não exibida na TV, e fora das plataformas de streaming aqui no Brasil.

Adaptado do livro do escritor americano Harry Harrison (1925-2012), o filme foi dirigido por Richard Fleischer e traz no elenco os nomes de Charlton Heston, Edward G. Robinson, Leigh Taylor Young, Chuck Connors e Brock Peters. Lançado nos cinemas em 1973, o filme nos leva ao ano de 2022, em uma Nova Iorque distópica contabilizando cerca de 40 milhões de habitantes. Para alimentar as inúmeras pessoas pobres e desempregadas, existem tabletes de diversas cores chamados Soylent, o mais popular é o da cor verde chamado de Soylent Green. Soylent Green e supostamente produzido através da industrialização de plancton e algas. Somente os ricos têm acesso a comidas raras, como carnes, frutas e legumes. Quando um rico empresário das indústrias Soylent Corporation é assassinado em seu luxuoso apartamento, o detetive policial Robert Thorn (Heston) começa a investigar. Ele de imediato suspeita do guarda-costas do empresário, que alega ter saído na hora do crime. Após interroga-lo, Thorn vai ao apartamento dele e encontra coisas suspeitas, como uma colher com restos do caríssimo morango. Enquanto Thorn persegue o guarda-costas, seu idoso parceiro Sol começa a investigar os registros e papéis do empresário morto. E acaba descobrindo uma verdade estarrecedora sobre o tablete verde.

O filme trata de vários assuntos que assombram o mundo atual como a superpopulação, o efeito estufa, o desmatamento, a poluição e o suicídio assistido, algo que já é legalizado em países como Canadá e Austrália. O videogame Computer Space, que aparece em uma das cenas, foi o primeiro fliperama operado por moedas da história, desenvolvido dois anos antes. O filme foi o último do ator Edward G. Robinson (1893-1973), que estava quase que 100 por cento surdo durante as filmagens, e muitas vezes não ouvia Fleischer gritar “Corta“, nem conseguia ouvir Heston falando. Curiosamente o nome Soylent é um composto nutritivo desenvolvido com a intenção de substituir todas as necessidades alimentícias do ser humano. Soylent foi desenvolvido pelo engenheiro de software Rob Rhinehart, iniciando em 2013 para economizar dinheiro, reduzir tempo de preparação da comida, e garantir a melhor nutrição. A vida imita a arte de forma assustadora.