Por Leo Banner

Meus estilos preferidos de filmes são ficção-científica e terror, e isso não quer dizer em absoluto que eu não curta outros gêneros. No que se refere às HQs essa premissa também se confirma, por isso mesmo adorava as antologias de terror da saudosa revista KRIPTA da editora RGE (antecessora da editora Globo) de meados da década de 1970 e começo da de 1980, que até tiveram algumas (infelizmente poucas )histórias republicadas pelas editoras DEVIR e MYTHOS alguns anos atrás. E foi exatamente esse interesse, aliado à ânsia por conhecer mais amiúde alguns lançamentos de HQs japonesas, que me levou a ler TOMIE, mangá de terror escrito e ilustrado por JUNJI ITO, originalmente publicado de forma serializada no Japão entre 1987 e 2000, trazido ao Brasil pela editora Pipoca e Nanquim em 2021 em dois belos e caprichados volumes, com formato padrão e papel pólen bold de boa gramatura.

Como já mencionei em outro post, nunca fui grande consumidor de mangás, mas como apreciador inveterado de quadrinhos, gosto de ampliar meus horizontes e sempre diversificar as possibilidades. TOMIE é o primeiro mangá de JUNJI ITO, aquele que o consagrou como um mangaká de terrror, e não é difícil entender a razão disso quando se lê as histórias dos belos compilados da editora Pipoca e Nanquim. A trama gira em torno de TOMIE, uma menina de beleza excepcional, com uma singela pinta embaixo do olho esquerdo que é capaz de despertar as mais hediondas compulsões no interior do coração dos homens. Tomie se apresenta de forma inocente, mas ao contrário do que se possa imaginar, ela não é uma assassina serial nem nada do tipo, mas sua simples presença vai fazendo aflorar nos homens que a cercam o que de pior pode existir na natureza humana, levando-os a cometer as mais inomináveis atrocidades. Por que? Não se sabe, e isso em nenhum momento é explicado, não sendo algo a se estranhar uma vez que a lógica não se configura como fator intrínseco às histórias de terror, e aqui não é diferente. E de fato não é necessária qualquer explicação lógica, pois o melhor de tudo é ler o mangá e sentir toda aquela tensão trazida pela presença de Tomie, cujas histórias nos remetem a um ciclo aparentemente interminável de acontecimentos que se repetem, ainda que por mais contraditório que possa parecer, de forma diferente, causando ao leitor aquela sensação de perturbação e desconforto, em maior ou menor grau, a depender de como as situações vão afetá-lo no decorrer da leitura! Talvez seja muita viagem minha, mas é quase como uma metáfora a inevitabilidade dos ciclos da vida e a determinados acontecimentos, onde nada ou muito pouco se pode fazer para evitá-los. Não é possível uma definição categórica, cabe a cada pessoa fazer sua própria interpretação, suas próprias digressões e conclusões, mas uma coisa eu posso dizer: ainda que não seja nenhuma obra-prima (me perdoem os adoradores de JUNJI ITO) é um lançamento que vale a pena ler e conhecer, se deixar envolver pelo terror do talentoso mangaká.

O texto não é nada primoroso, mas as tramas são conduzidas de forma muito satisfatória, cabendo à arte de Ito, com um traço bem detalhado quando a situação exige, nos entregar as cenas e situações mais perturbadoras onde as palavras não podem fazê-lo. Predominante as histórias se iniciam com aquele traço leve que vai se tornando gradativamente mais carregado na medida que os acontecimentos vão se desenrolando. JUNJI ITO atualmente é uma mania nacional, tendo muitos de seus trabalhos publicados atualmente no Brasil não apenas pela Pipoca e Nanquim, mas também por outras editoras, como por exemplo a Devir. Foi divulgado há poucos dias que o famoso mangaká virá ao Brasil pela primeira vez para participar da CCXP23. Vamos aguardar.
Gostei e recomendo. Brevemente voltarei com mais resenhas sobre mangás e também de histórias de Junji Ito.
Avaliação: 3,2/5.
Vida longa e próspera e até a próxima!🖖🏻