Por Adilson Carvalho.

Uma das máximas da ficção científica é que não estamos sozinhos no universo, e somente a prepotência humana se coloca em uma posição de poder absoluto. Após o fim da segunda guerra, o mundo vivia uma realidade ideológica bipolar, a guerra fria. O poder assustador da bomba atômica criada por Robert Oppenheimer assombrava os sonhos de um futuro melhor e o destino da espécie humana tremia na corda bomba. É nesse mundo que literalmente o mundo parou, ao menos na ficção O Dia que a Terra Parou (1951), escrita por Edward North e dirigida por Robert Wise, adaptada do romance Farewell to the Master de Harry Bates, publicada na revista pulp Astounding Science Fiction. No livro Gort se chama Gnut e é o foco da história sendo que Klaatu morre logo no início da história. O filme mostra uma nave espacial aterrizando em Washington, DC trazendo o alienígena Klaatu (Michael Rennie) e seu robô Gort. Eles trazem um ultimato aos líderes da Terra para que acabem com as guerras e a corrida armamentista, o que estaria preocupando os habitantes de outros planetas.

Logo no desembarque, Klaatu é baleado por um soldado que o julgava inimigo. Klaatu se recupera, foge e procura o professor Barnhardt (Sam Jaffe), um físico residente em Washington. Quando apresentados, Klaatu revela a sua identidade e explana as suas preocupações ao cientista: as armas nucleares e o desenvolvimento dos veículos espaciais, aliados à natureza violenta dos humanos, estariam preocupando os habitantes de outros sistemas estelares. Klaatu pede ao professor que reúna membros importantes da comunidade científica internacional, para que eles sejam os portadores da sua mensagem. Para que tenha crédito, decide dar à humanidade uma demonstração de força — no dia seguinte, todos os aparelhos elétricos da Terra param de funcionar ao mesmo tempo, exceto nos lugares em que isso poderia causar dano, como nos hospitais e aviões em voo.

Apesar de ter sido filmado em um momento político diferente, o filme de Wise mantem ainda impactante sua mensagem anti belicista, embalado pela trilha sonora hipnótica de Bernard Herrmann, que serviu de inspiração para o compositor Danny Elfman seguir sua carreira. O filme funciona também como um retrato das paranóias da sociedade macartista, o que levou por exemplo o ator Sam Jaffe a entrar para a lista negra ficando um longo tempo sem trabalhar devido à sua postura liberal. Em 1995, foi incluído no catálogo de filmes do Registo Nacional dos Estados Unidos. A frase “Klaatu Barada Nikto” , usada como comando vocal para ativar Gort, foi usada em vários filmes e produtos da cultura pop, entre eles Contatos Imediatos do 3º Grau (1978) e em Star Wars, os guardas de Jabba the Hutt chamam-se Klaatu, Barada e Nicto. O papel de Klaatu ficou com Michael Rennie, seu único papel de protagonista. O ator era completamente desconhecido na época, e por isso foi escolhido para o papel do alienígena, tendo sido considerado os nomes de Claude Rains (O Homem Invisível) e até mesmo Spencer Tracy. Em 2008, o filme ganhou uma refilmagem homônima estrelada por Keanu Reeves (John Wick) e Jennifer Connely (Labirinto), mas trocando a mensagem pacifista por um discurso ambientalista, mais em sintonia com os tempos, o que mostra a força atemporal desta história sensacional.