Poema de Sérgio Cortêz
“Pano de Prato”

Depressão em forma de orgasmo
sarcasmo, desgraça da vida
sofrida, seca, trabalha e pensa
não pensa:
é só um pano de prato.
A mão que lhe afaga é suave
ou quase, a mão da senhora calejada
amada, por um homem que não lhe toca
marasmo:
é só um pano de prato.
A alça que lhe prende é de madeira
besteira, sua vida ali está presa
surpresa, ele vai ao chão e não é amparado
magoado:
é só um pano de prato.
A criança que lhe pisa é herança
esperança, á água limpeza, a dor
pregador:
é só um pano de prato.
O gato que lhe solta pelos o despreza
reza, ao deus dos panos um amparo
raro, um olhar que aprecie sua beleza
o fato:
é só um pano de prato.
E o tempo há de vir e apodrecer-lhe
e ver-lhe: jogado um monturo de um muro
apuro: será apenas mais um maltrato
mas é grato:
é seu destino de pano de prato.
Publicado no livro “Ovo À Milanesa” (1994).
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