Por Leo Banner

Recapitulando: Na última história Blueberry precisou de toda sua astúcia para escapar das armadilhas de Quanah Caolho, índio beligerante cujo objetivo é fomentar a guerra iminente entre o homem branco e os pele-vermelhas. Ao chegar em Camp Bowie acompanhado do Tenente Graig, Blueberry além de entregar o carregamento de munições ao General Crook, responsável pelas operações contra os apaches naquela região conflagrada, explica detalhadamente ao oficial comandante que foram os mescaleros os responsáveis pelo assassinato da família Stanton e o rapto do menino Stanton, que fora resgatado são e salvo pelo Tenente com a ajuda de Crowe, que desapareceu em seguida. Blueberry se oferece para tentar contatar Cochise e desfazer o mal entendido, mas Crook o informa não ser capaz de fazer nada para impedir o avanço das tropas pois já tinha suas ordens, e apenas uma ordem em contrário do Presidente dos Estados Unidos poderia mudar tal situação. Dispondo de dez dias até a organização completa das tropas, o tenente Graig se oferece para ir uma cidade com telégrafo disponível para obter a autorização presidencial para Blueberry implementar sua tentativa. E assim retomamos nossa análise do penúltimo capítulo da saga Forte Navajo com
O CAVALEIRO PERDIDO
Publicada originalmente na França na revista Pilote em 1965 em tiras semanais, em álbum em 1968 e no Brasil pela primeira vez pela editora Abril em 1990. Ciente dos planos de Blueberry, Quanah Caolho intercepta o tenente Graig que retornava para Camp Bowie com uma mensagem cifrada proveniente do alto-comando norte-americano endereçada ao General Crook. Após quase morrer ao ser torturado por Quanah Caolho, Graig é resgatado por Blueberry e a mensagem cifrada chega do General Crook, que recebe ordens de permitir que Blueberry tente um cessar-fogo com Cochise. Blueberry, então, junto do mineiro Jimmy MacClure, inicia sua jornada tentando encontrar Crowe, ex-militar mestiço que possui grande prestígio junto a Cochise. Depois de conseguir encontrá-lo e cruzar a fronteira com o México, Blueberry e MacClure são capturados por tropas mexicanas lideradas por Pedro Luiz Armendariz, governador de Sonora, que se comprometeu com Quanah Caolho de oferecer armas e munições de última geração às tribos indígenas beligerantes.

A PISTA DOS NAVAJOS
Publicada na França em formato de álbum em 1969 e no Brasil pela primeira vez em 1991. Nessa conclusão do primeiro ciclo de guerra das aventuras de Blueberry, Quanah Caolho realiza uma conferência com várias tribos indígenas dizendo-lhes ter liquidado Blueberry e que agora os peles vermelhas poderiam se lançar à guerra contra os casacas-azuis sem intromissões e com chances de vitória, uma vez que os índios teriam acesso aos armamentos mais modernos que seriam disponibilizados por Armendariz. Tendo conseguido escapar das garras das milícias mexicanas com uma improvável ajuda de renegados confederados, Blueberry, MacClure e Crowe retomam a missão de contactar Cochise e tentar impedir a guerra cada vez mais iminente. Após descobrir a espúria aliança entre Quanah Caolho e Armendariz, Blueberry traça um plano de ação que pode ter consequências explosivas. Essa edição encerra o primeiro grande arco de histórias do Tenente Blueberry, dando-nos uma excelente amostra da engenhosidade e inteligência de Blueberry para lidar com as situações mais inusitadas e improváveis, assim como também de seu grande caráter e senso de justiça. Alguns podem se sentir incomodados não exatamente com a conclusão dessa história, mas com a forma com que foi feita, podendo parecer acelerada e apressada. Ressalto aqui mais uma vez que a forma de publicação dessas histórias era na semanária e então revolucionária revista Pilote, para, algum tempo depois, virem em formato de álbum. Não se deixem levar pela falta de splash Pages impactantes, concentrem-se na riqueza da narrativa de Jean Giraud e no magnífico texto de Jean-Michel Charlier, pois vocês não se decepcionarão. Acreditem, já vi comentários de “youtubers” que nunca haviam lido Blueberry dando razão àqueles que amam essa obra.

Antes de terminar essa análise, vale a pena pontuar um detalhe que considero extremamente relevante em relação à arte. Na história O CAVALEIRO PERDIDO, tivemos aproximadamente 10 páginas ilustradas por Joseph Gillain, vulgo Jijé, o mentor de Jean Giraud. Por quê? Porque Giraud precisou se ausentar do seu posto pois, depois de mais de dois anos trabalhando ininterruptamente nas tiras de Blueberry, o artista chegou num grau de esgotamento físico e mental que não foi possível agir de outra forma. Para não perder os prazos e suprir a lacuna sem perder a identidade visual – uma vez que Giraud se inspirava no estilo de Jijé quando o auxiliava na clássica tira JERRY SPRING – Gillain assumiu as ilustrações das aventuras de Blueberry durante a ausência de Giraud. Para maiores detalhes, os extras da Edição Definitiva de Blueberry são mais do que indicados – além de serem uma leitura extremamente interessante e aprazível – mas a partir desse episódio, depois de retornar às tiras do Tenente com os roteiros de Charlier, Giraud foi descobrindo o surgimento de sua outra persona artística – MOEBIUS – e é possível perceber as sensíveis alterações que vai sofrendo em seu estilo a partir do álbum O HOMEM DA ESTRELA DE PRATA, que vai se distanciando gradativamente do de Jijé, assumindo cada vez mais suas próprias e inigualáveis características, que o tornaram um artista excepcional e único.

Com o fim da análise desse primeiro ciclo de histórias do FORTE NAVAJO, espero ter contribuído de alguma forma na decisão de quem nos honra com sua presença nesse espaço no sentido de adquirir essa maravilha da Nona Arte publicada com todo capricho e esmero pela Editora Pipoca e Nanquim nesse belíssimo encadernado em capa dura e papel offset. Em breve retorno com a análise de O HOMEM DA ESTRELA DE PRATA e o início do segundo ciclo de guerras indígenas envolvendo o Tenente Blueberry.😉
Avaliação: 4,5/5.
Vida longa e próspera e até a próxima!