Por Adilson Carvalho

Para quem ama a Hollywood Clássica é triste perceber como o canal TCM (Turner Classic Movies) desce ladeira abaixo em sua programação com irritantes reprises dos mesmos filmes a cada semana, revezando horários, como se isso disfarçasse a estupidez de selecionar um filme qualquer no horário das 20 hs e já no dia seguinte reprisá-lo duas horas antes. Além disso, filmes como Che – O Argentino, Che – A Guerrilha, A Casa dos Espíritos, Antes do Adeus, Lolita, Adeus Lênin e Presságios de um Crime, por exemplo, são exibidos a cada semana há mais de um mês. O acervo à disposição do canal TCM é mil vezes maior do que faz parecer esta pálida escolha de títulos, principalmente levando-se em consideração filmes do passado áureo das décadas de 20, 30, 40, 50, 60, 70, 80 ou títulos mais recentes como os da década de 90, muitos dos quais não são exibidos há muito tempo nem mesmo no Telecine Cult, que traz a mesma proposta de resgatar a era de ouro do cinema, um nicho que é mais significativo do que transparece. O que ocorre é uma tentativa de implosão do canal por parte do grupo Warner, que detêm os direitos do TCM. O canal surgiu em 1994 nos Estados Unidos, e chegou ao Brasil em 2004 oferecendo um cardápio farto de filmes e séries clássicas. Diferente dos Estados Unidos, a grade do TCM Brasil foi farta com o resgate de séries de TV. Entre os títulos que o canal já passou estão Bonanza, Magnum, A Feitiçeira, Kojak, Buck Rogers, Agente 86, A Ilha da Fantasia, Chips, Combate, Além da Imaginação, Batman, Chaparral, Kung Fu entre outras. Os filmes exibidos, na maioria com a dublagem clássica, o que reforçava o laço da memória afetiva com o qual o público já os assistira antes. A cada mês, o canal chegava a selecionar especiais com musicais clássicos estrelados por Fred Astaire, Gene Kelly, Esther Williams, as obras primas de monstros sagrados como John Ford, Alfred Hithcock, Nicholas Ray, Blake Edwards, Charles Chaplin, Frank Capra, Michael Curtiz, filmes de terror da Universal estrelados por Boris Karloff, Bela Lugosi, Vincent Price, comédias românticas com Doris Day, Tony Curtis, Rock Hudson, Natalie Wood, além de astros como Errol Flynn, Humphrey Bogart, Vivian Leigh, Elizabeth Taylor, Paul Newman, Jane Fonda, James Stewart, Tyrone Power, Clark Gable, Robert Taylor, Ava Gardner, Charlton Heston, Marilyn Monroe, Rita Hayworth e muito mais de um imenso panteão de estrelas. Em 2009, a Turner comprou da Claxson o canal Retro, incorporando assim um acervo grande de seriados em seu lineup. Contudo, o canal nunca exibiu a maior parte dos seriados e filmes que adquiriu ao comprar o Retro. Nova reformulação foi feita pelo canal a partir de 2009 quando este abandonou filmes produzidos antes dos anos 80, o que gerou várias criticas ao canal. Nos Estado Unidos, cineastas como Steven Spielberg, Martin Scorcese e Francis Ford Coppola se manifestaram contra uma possível extinção do canal já que todos os estúdios estão mirando no streaming e deixando a desejar na TV. Aqui no Brasil, o cenário é pior já que não temos ninguém com força para defender um canal cuja importância cultural é enorme e não explora seu potencial, deixando inclusive títulos nacionais clássicos fora de sua grade como Bye Bye Brasil, o Beijo da Mulher Aranha, a Dama da Lotação, Dona Flor de seus Dois Maridos, Terra em Transe, O Pagador de Promessas e outros. Existe espaço para a diversidade de filmes de várias épocas, nacionais e internacionais, não somente americanos mas também Fellini, Goddard, Truffaut, Kurosawa, Herzog, afinal de contas o cinema é uma arte sem fronteiras, mas infelizmente vítima de interesses opostos à apreciação real da sétima arte.