Por Adilson Carvalho.

Muitas vezes temos a sensação de que caminhamos para uma realidade em que as emoções são irrelevantes, e que nos tornamos frios e insensíveis à emoção do amor. Pois, imagine se tal transformação ocorresse como resultado de uma invasão de seres alienígenas capazes de entrar nos corpos humanos quando estes estão adormecidos.  Os habitantes da fictícia cidade de Santa Mira, na California são pouco a pouco substituídos por duplicatas nascidos de enormes vagens vindas do espaço e desprovidas de qualquer sentimento. Quando um homem percebe o comportamento estranho das pessoas e descobre a substituição, ele passa a ser perseguido e precisa encontrar um meio de derrotar os alienígenas. A história do livro de Jack Finney The Body Snatchers, publicado na revista Collier’s em 1954, serviu de perfeita alegoria para as paranoias comunistas que assombravam a sociedade americana do pós guerra e foi a única incursão do diretor Don Siegel no terreno da ficção científica. Vampiros de Almas (1956) não utilizou efeitos especiais, monstros, naves extraterrestres ou armas cósmicas apenas a ambientação e o poder da sugestão conduzido pelo roteiro. Os personagens que conduzem a trama são o Dr. Miles Bennell (Kevin McCarthy) e Becky Driscoll (Dana Wynter), que resistem para não se tornarem “seres insensíveis”. O roteirista Daniel Mainwaring, que fora um dos caçados pelo macartismo, fez da história uma metáfora para a perseguição ideológica que dominava os Estados Unidos na época.

O filme teve várias refilmagens desde então, sendo a melhor o filme Invasores de Corpos (1978), de Philip Kaufman. Este conseguiu o feito de adaptar à obra como uma sequência aos eventos do filme Siegel, mas deslocando a história de Santa Mira para a cidade de San Francisco, na Califórnia. Estrelado por Donald Sutherland, Brooke Adams, Jeff Goldblum e Leonard Nimoy, marcado pela atuação em Star Trek como o Sr. Spock. O filme ainda teve uma aparição especial de Kevin McCarthy como Dr. Bennell gritando enlouquecidamente “eles estão chegando, protejam-se” para os motoristas em uma estrada, além do próprio Don Siegel como um motorista de taxi. O tratamento de Kaufman serviu como uma eficiente variação do mesmo tema, não só respeitando como complementando a história original.

A mesma sorte não teve o diretor Abel Ferrara em Invasores de Corpos –  A Invasão Continua (1993), mais uma vez deslocando a história para outro cenário, desta vez uma base militar. O resultado foi uma versão bem distante do livro de Finney, com personagens diferentes até mesmo das versões anteriores, mas com alguns bons momentos. Em 2007 foi a vez de Oliver Hirschbiegel dirigir uma quarta adaptação do livro apenas chamada Invasores, estrelada por Nicole Kidman (que usa o mesmo sobrenome do personagem de Donald Sutherland no filme de 1978) e Daniel Craig. As filmagens foram muito atribuladas com interferência do estúdio que rejeitou o corte inicial contratando as irmãs Wachowski, de Matrix, para reescrever partes do roteiro, que foram entregues para James McTeigue dirigir. Mais uma vez um filme bem distante do texto original ou das primeiras adaptações, que diluiu a história e a deixou insossa, sem as leituras nas entrelinhas que poderiam ser feitas em outros contextos. Quem sabe se algum estúdio ainda vai reutilizar a obra de Finney, cujo interesse ainda pode ser redescoberto por uma nova geração.