Por Adilson Carvalho

Kenneth Branagh fez um excelente trabalho na adaptação de “Assassinato no Expresso do Oriente” em 2017. Iniciado assim sua pretensão de recriar o Agathaverso (Lembremos que há várias adaptações da escritora para cinema e TV) apresentado-a para uma geração mais jovem que não assistiu os filmes estrelados por Peter Uistnov ou a série da ITV com David Suchet. O lançamento de Morte no Nilo (Death on the Nile), o 33º livro da Rainha do Crime, foi adiado sucessivas vezes até chegar às telas em fevereiro desse ano. Primeiro devido à pandemia; depois o ator Armie Hammer, intérprete de Simon Doyle, foi denunciado por abuso sexual e canibalismo. A segunda incursão de Branagh como o detetive Hercule Poirot tem tudo para agradar aos fãs de filmes de mistério. A história mostra uma viagem pelo Nilo à bordo de um navio a vapor onde o casal Linnet Ridgeway (Gal Gadot de “Mulher Maravilha“) e Simon Doyle (Armie Hammer de “Cavaleiro Solitário“) passam a lua de mel, perseguidos pela insistente Jackie (Emma McKay de “Sex Education“) que foi noiva de Simon antes, e amiga de infância de Linnet. Esta, dona de uma imensa fortuna e cercada de desafetos, é assassinada e cabe a Poirot desfazer a teia de mentiras que envolve a investigação enquanto paisagens épicas, vistas panorâmicas do deserto egípcio e das majestosas pirâmides de Gizé desfilam diante de todos. A história já havia ganhado as telas em 1978 com elenco estelar que incluia nomes como David Niven, Bette Davis, Angela Lansbury entre outros. Diferente do livro, o filme traz um vislumbre do passado de Poirot como forma de explicar suas atitudes e mesmo o seu bigode característico. O crime leva um tempo para capturar a atenção do público, mas quando o faz mostra o porquê de Agatha Christie ter sido uma escritora tão fantástica. Mais do que estabelecer as regras clássica do “whodunit” (quem matou?), Agatha é uma excelente observadora do comportamento trabalhando sentimentos como ganância, traição, inveja, ódio capaz de promover uma divertida caça ao assassino. Se o livro é melhor, sem dúvida, e existem liberdades – como sempre em se tratando de material adaptado – que ao leitor mais fiel da escritora não agradarão, principalmente no passado de Poirot. Claro que a essência do mistério está la, e Branagh é hábil em traduzir para as telas um belo vislumbre do charme dessa narrativa cheia de truques de sombras e fumaça. O diretor irlandês está de volta em sua terceira incursão no universo agathachristiano na adaptação de O Dia das Bruxas (A Haunting in Venice). Como diria Poirot “mais um mistério para as células cinzentas“