PRELO & PELÍCULA O CORCUNDA DE NOTRE DAME

Por Adilson Carvalho

Victor Hugo, o pai do Quasímodo

Será que existe lugar para o amor altruísta em um mundo materialista, cada vez mais cego para a essência do ser humano ? Victor Hugo (1802-1885) retratou essa questão na Paris medieval, mas sua atualidade ecoa até hoje, e por isso um dos grandes clássicos, na mira da Disney para um remake em breve. Originalmente batizado Notre-Dame de Paris, lançado em 1831, narra a história do amor altruísta do deformado sineiro da catedral de Notre Dame, Quasimodo, pela bailarina cigana Esmeralda, sendo esta cobiçada pelo arquidiácono Frollo. A bela cigana, no entanto, s[o tem olhos para o mulherengo capitão da guarda real. Considerado, junto a Os Miseráveis, como uma das maiores obras de Victor Hugo, a narrativa de Notre Dame de Paris definiu as bases do romantismo francês. Com uma descrição realista da Paris medieval e seu submundo, a história traça um paralelo entre a beleza exterior e a beleza da alma, com um olhar crítico da sociedade francesa. Parece que a histórica catedral, situada na Île de la Cité em Paris, rodeada pelas águas do rio Sena, e construída de 1163 a 1345, possui o verdadeiro protagonismo da história de Victor Hugo. Somente em 1833 quando o livro foi editado na Inglaterra que passou a ser chamado de O Corcunda de Notre Dame. O livro foi responsável por valorizar a arquitetura da catedral e seu estilo medieval.

Lon Chaney e Patsy Ruth Miller (à esquerda) e Charles Laughton com Maureen O’Hara (à direita)

No cinema contabiliza-se dezenas de versões da obra de Victor Hugo desde a época do cinema mudo. A mais antiga é o curta-metragem mudo francês Esmeralda de 1905 dirigido por Alice Guy-Blaché e Victorin-Hippolyte Jasset. Nele há dois personagens no filme, Esmeralda (Denise Becker) e Quasimodo (Henry Vorins). Seus 10 minutos de projeção são uma raridade. Em 1911 um segundo filme mudo francês, dirigido por Albert Capellani aprtoveitou também os personagens do bispo Frollo e do capião Phebo, estrelado por Henry Krauss e Stacia Napierkowska. Na Inglaterra, a primeira versão foi de 1922 com Sybil Thorndike e Booth Conway. Do período mudo, no entanto, a versão mais impactante do período foi a de 1923, dirigida por Wallace Worsley para o Universal Studios trazendo Lon Chaney em uma impactante interpretação como Quasímodo. “O Homem de Mil Faces”, como Chaney ficou conhecido, era um mago inovador da maquiagem e aterrorizava o público com criações macabras e bem construídas, e com Quasímodo não foi diferente. O papel exigia que seu olho direito ficasse coberto por maquiagem, simulando um calombo sobre ele, como era descrito no clássico de Victor Hugo. Por ter coberto o olho ao longo de semanas, Chaney passou a sofrer de uma grave miopia, que exigiu o uso de óculos de lentes bem grossas até o fim de sua vida. Foi Chaney também quem inspirou a criação do vilão Cara de Barro nas hqs de Batman.

Anthony Quinn e Gina Lollobrigida (à esquerda) e Mandy Patinkin e Salma Hayek (à direita)

No cinema falado a personificação mais celebrada de Quasímodo é a de Charles Laughton (1899 – 1962) na versão dirigida por William Dieterle e indicado ao Oscar na categoria de Melhor Trilha/Banda Sonora (Alfred Newman). Laughton brilhou em sua atuação e teve a fabulosa Maureen O’Hara (1920 – 2015), então aos 19 anos, como Esmeralda. Em 1956 foi feita na França uma nova versão tendo Anthony Quinn e Gina Lollogrigida nos papeis centrais. Em 1982, Leslie Ann Down e Anthony Hopkins fizeram os papeis de Esmeralda e Quasimodo na versão feita para TV de O Corcunda de Notre Dame. Em 1997 outra versão para a TV adaptando a obra de Victor Hugo trouxe Mandy Patinkin como o Corcunda e Salma Hayek como Esmeralda. Indicada a várias prêmio Emmy, esta nova versão chegou a ser exibida em cinemas brasileiros, um ano depois da bem sucedida animação da Disney.

A versão Disney de 1996 com voz de Tom Hulce

Curiosamente, Patinkin havia sido a escolha inicial para dublar Quasímodo para a Disney, mas depois de desentendimentos com a produção, Tom Hulce veio a ser escalado para o papel. Terry Gilliam (As Aventuras do Barão de Munchausen) tinha planos para rodar uma versão própria da obra de Victor Hugo, com Gerard Depardieu, mas acabou desistindo depois de toda a projeção que as duas versões (a animada e o live action) fizeram. Com adaptações para o rádio, a Broadway, TV e cinema não é difícil prever que teremos uma nova versão dessa fabulosa história que impressiona e me faz lembrar de uma frase de outra obra literária magnífica, uma que disse “O essencial é invisível aos olhos”.

Deixe um comentário