Por Adilson Carvalho

A Disney sempre chama muito a atenção a cada versão live action de seus clássicos, e com A Pequena Sereia (Little Mermaid) não seria diferente. Lamenta-se contudo que a escolha da jovem Halle Bailey tenta ocupado mais a mídia e as redes sociais que o encanto da história de Hans Christian Anderson. Ariel (Halle Bailey) é uma sereia princesa de dezesseis anos de idade insatisfeita com a vida no fundo do mar e curiosa sobre o mundo na terra. Ela se apaixona pelo príncipe Eric (Jonah Hauer King), um humano e faz um acordo com Úrsula, a bruxa do mar (Melissa McCarthy) para transformar-se em humana. A atriz Halle Bailey faz muito bem o papel seja em sua atuação carismática seja com seus dotes vocais, e isso é o que deveria importar, mesmo que este não seja o melhor clássico transformado em live action. A previsibilidade da história é compensada pelas belas imagens e o talento de Bailey. Sereias são seres míticos, então por que não uma seria negra? Talento não é determinado por questões étnicas, que somente importam para os míopes que ainda alimentam pensamentos medievais. Ainda no elenco temos Jacob Tremblay (Extraordinário), Awkawfina (Shang Chi e a Lenda dos dez Anéis) e Javier Bardem (Piratas do Caribe A Vinganca de Salazar). mas pela cor de sua pele.

Entendo que a identidade visual de um personagem é um forte elemento em uma adaptação, mas por este mesmo fato esquecemos que se trata exatamente disso, de uma adaptação. Antes da animação de 1989, Ariel nem sequer era conhecida do grande público, a não ser os leitores da obra original de Hans Christian Anderson. E esquecemos que a figura de uma sereia é mítica, ou seja, não são reais, então por quê razão não podemos abrir nossas mentes e aceitar que Halle Bailey possa interpretar esse mito com a força de seu talento? Seria a cor de sua pele mais importante que todos os atributos que um ator tem para representar um papel ? Será que a cegueira medieval é maior que a capacidade nossa de entender a estupidez do racismo ? Aposto em Halle Bailey e não vejo nenhum porém em sua escolha, e o único inconveniente aqui é a miopia discriminatória. Lembro bem de uma cena de diálogo entre os saudosos Sidney Poitier e Roy Glenn no terço final do clássico Advinhe Quem Vem Para Jantar (1967). Eles interpretam pai e filho, sendo que o Sr. Prentice (Glenn) não aceita que seu filho John Prentice (Poitier) se case com uma mulher branca (Katherine Hoghton). Em determinado momento do embate entre pai e filho, John diz “Esta é a diferença entre nós pai. O senhor se vê como um homem de cor. Eu me vejo apenas como um homem“. Seria ótimo se entendêssemos isso, e pudéssemos viver apenas como pessoas, independente da cor de nossa pele. Proponho um daltonismo voluntário em favor de uma natureza humana mais igualitária. Melhor sorte para Halle Bailey em seu papel na refilmagem de A Cor Púrpura, que chega às telas em dezembro desse ano. Melhor sorte para todos nós. Disponível a partir de 6 de setembro.