CLÁSSICO REVISITADO: AO MESTRE COM CARINHO

Por Adilson Carvalho

Aproveitando o dia dos professores, vamos lembrar do clássico Ao Mestre Com Carinho (To sir with Love) que completa esse ano 50 anos de seu lançamento. O filme, escrito e dirigido por James Clavell, é parcialmente baseado em fatos reais, no caso as experiências vividas por E.R. Braithwaite (1912 – 2016), falecido em dezembro passado. Eustace Edward Ricardo Braithwaite deu baixa na força aérea, pela qual foi piloto na segunda guerra, e matriculou-se na Universidade de Cambridge, alcançando um doutorado em física. Em seguida, Braithwaite foi lecionar em uma escola do East End Londrino. Sua experiência docente, ele registrou em um livro auto-biográfico publicado em 1959. O livro foi devidamente elogiado e premiado, chegando à adaptação para o cinema filmada sete anos depois trazendo Sidney Poitier. Seu personagem foi rebatizado de Mark Tackery, um engenheiro desempregado que aceita um posto como professor na North Quay, uma escola no subúrbio operário inglês que recebera alunos indesejáveis, os rejeitados socialmente. Tackery aceita o emprego como forma temporária enquanto não é chamado por um grande empresa.  Na escola, Tackery é recebido com hostilidade pelo alunos liderados por Denham (Christian Roberts) e Pamela Dare (Judy Geeson) que rejeitam qualquer tentativa do professor de lhes ensinar. O que se segue é um cabo de guerra entre o professor e os demais alunos: Potter (Christopher Chitel), Williams (Michael Des Barres) e a carismática Barbara Pegg (Lulu).

Gradativamente, Tackery conquista a atenção a medida que transforma suas aulas em lições de vida, levando os alunos a passeios no museu, conversando com eles sobre seus medos e esperanças, e ensinando – os a ter respeito próprio ainda que a realidade social e familiar de cada um seja desfavorável. Mesmo o brigão Denham acaba se rendendo à humanidade e boa vontade de Tackery. O filme demorou quase um ano para ser lançado pelo estúdio da Columbia, devido ao seu conteúdo anti-racial em plena época de luta pela igualdade dos direitos civis nos Estados Unidos. Martin Luther King era então a figura real que sintetizava essa luta. Em 1963 sua marcha pela igualdade culminou com o clássico discurso “I Have a Dream” (Eu tenho um sonho), em 1964 King recebera o Nobel da paz, e ainda assim os conflitos raciais ainda eram assustadores. Apesar disso, o filme foi bem recebido, e era um negro afinal quem trazia a luz do conhecimento e a educação para uma escola predominante branca. Esse discurso racial tornou-se o tom principal do filme, principalmente quando a mãe de um aluno de cor morre e os colegas se sentem intimidados a comparecer no funeral devido ao sentimento racista imposto socialmente. É Tackery quem lhes inspira a quebrar com essa atitude estúpida e a demonstrar respeito e amizade. O autor do livro não ficou muito contente com a abordagem do roteiro que considerava sentimental demais, e com a decisão da Columbia de cortar o romance inter racial, contido no livro, entre o professor negro e uma professora branca. No filme, Tackery (Poitier) e Gilliam (Suzy Kendall) compartilham uma afeição platônica, uma forte amizade e nada mais. No rastro do sucesso de livro e filme, Braithwaite realizou trabalho social com crianças de cor, chegou a visitar a África do Sul que na época era regida pelo Aparthaid  escreveu outros livros (romance e contos) chegando a tornar-se consultor e embaixador das Nações Unidas.

O filme de Clavell marcou uma geração com sua mensagem de tolerância e igualdade étnica. A sequência final em que os alunos homenageiam Tackery em sua despedida fez muita gente chorar. A canção tema “To sir with love” foi um sucesso nas paradas musicais, cantada pela atriz e cantora, de origem escocesa, Lulu. Em 1996 houve uma sequência Ao Mestre com Carinho 2 (To sir with love 2), feita para TV, com Sidney Poitier reprisando seu papel, além de rápidas aparições de Lulu e Judy Geeson.

Lamentável o fato de que no Brasil, nós professores tenhamos perdido tanto do respeito e do valor de outrora. Esqueceram que antes de alguém se tornar médico, engenheiro ou advogado, todos tiveram um professor a lhes guiar pela escuridão da ignorância. Como a letra da canção diz “nos levar do giz ao perfume, escrever no céu com letras garrafais o amor” e, como os Portugueses sabiamente batizaram esse clássico em terras lusitanas “O Ódio que gerou o Amor”. Assim ainda fosse, não haveriam barreiras que não poderíamos derrubar. Graças a Deus, no entanto, pude fazer parte deste abençoado grupo de profissionais que vivem cada dia defendendo a mais nobre das causas: Transmitir o conhecimento. Não é fácil, mas tentamos.= It isn’t easy, but I ‘ll try

Este texto é dedicado ao meu saudoso amigo Altair Monteiro dos Santos, e aos meus mestres … com carinho.

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