HQ TERRITÓRIO NEUTRO: BLUEBERRY – EDIÇÃO DEFINITIVA VOL. #1, PARTE 4: O CAVALO DE FERRO

Por Leo Banner

Aqui retomamos a última parte da nossa análise de BLUEBERRY EDIÇÃO DEFINITIVA VOL. #1 da Editora Pipoca e Nanquim. Depois da conclusão do primeiro ciclo de histórias, TEMPESTADE NO OSTE, vamos falar a respeito do segundo ciclo das chamadas “guerras indígenas”, que se inicia nesse primeiro volume. Antes, porém, há a história

O HOMEM DA ESTRELA DE PRATA: Publicada originalmente na França pela Dargaud na revista Pilote em tiras semanais, e em 1969 no álbum L’HOMME À L’ÉTOILE D’ARGENT, que, salvo engano, foi – além de FORTE NAVAJO – a história de Blueberry mais publicada no Brasil, pois além de estar nessa fabulosa Edição Definitiva da Editora Pipoca e Nanquim, já havia sido publicada por aqui duas vezes pela Editora Abril em O HOMEM DA ESTRELA DE PRATA em fevereiro de 1976 e em TENENTE BLUEBERRY #1 de março de 1992, dessa vez em nova tentativa de publicação mensal do personagem em formato magazine, preto-e-branco e papel jornal. Trata-se de uma história autocontida em que o vilarejo de Silver Creek, incrustado no interior do Amazonas, é assolado pela cobiça dos irmãos Bass que tencionam controlar totalmente todas as atividades do povoado através de inúmeras ilegalidades. Após o assassinato do xerife da cidade, o tenente Blueberry é designado para ocupar o posto tendo a ajuda de Jimmy Mac Clure e de uma professora do povoado. Ainda que seja uma interessante adaptação do filme Onde Começa O Inferno (Rio Bravo), faroeste de 1959 dirigido por Howard Hawks e estrelado por John Wayne e Dean Martin, está longe de ser a melhor história do encadernado, mas tem seus encantos e suas qualidades. A maior delas é o início – ainda que de forma bem sutil nesse primeiro momento – das sensíveis mudanças no estilo de arte de Jean Giraud, que começa a se desvencilhar do de Jijé para incorporar o estilo de sua outra persona artística chamada Moebius. De qualquer forma, ainda que destoe em termos de qualidade, a trama cumpre bem seu papel de preparar terreno para o arco seguinte que se inicia com

O CAVALO DE FERRO: Publicada originalmente pela Dargaud na revista Pilote de forma semanal, e em 1970 no álbum LE CHEVAL DE FER, essa história marca o começo do segundo ciclo das chamadas “guerras indígenas”, e havia sido publicada no Brasil pela primeira vez em TENENTE BLUEBERRY #2, da Editora Abril, em abril de 1992. Tomando um dos momentos mais essenciais da história norte-americana, a trama tem como pano de fundo a acirrada competição entre duas companhias – a Central Pacific e a Union Pacific – com o objetivo de unir o Atlântico ao Pacífico por meio de uma ferrovia que ligará o país de leste a oeste. Cada ferrovia parte de um extremo, a Central Pacific do oeste e a Union Pacific do leste. Tendo em vista o misterioso massacre de bisontes ocorrido na área das ferrovias que serviriam de alimento para as tribos Cheyennes e Sioux, o General Dodge, diretor da Union Pacific, convoca o Tenente Blueberry, considerado especialista para tratar de assuntos indígenas, para tentar aplacar a fúria das tribos por conta do massacre desarrazoado dos bisontes a fim de não interferirem com o progresso do avanço da linha férrea sob seu comando. Ladeado pelo sempre leal Jimmy Mac Clure e agora também por Red Neck, Blueberry tem de lidar com situações envolvendo os membros da Union Pacific – especificamente com Jethro Diamond, também conhecido como Jethro Steelfingers – de modo a evitar um violento confronto que pode resultar num banho de sangue entre civis e índios.

O HOMEM DO PUNHO DE AÇO : Foi publicada originalmente no álbum L’HOMME AU POING D’ACIER, saindo pela primeira vez no Brasil em TENENTE BLUEBERRY #3 de 1992 da Editora Abril. Nesta história, a Union Pacific se vê numa situação delicada. Com os índios cada vez mais enfurecidos por conta de acontecimentos causados por um bando de malfeitores, a Union Pacific se encontra isolada e sem recursos para manter seus funcionários. Suspeitando de pessoas que integram sua própria equipe, o General Dodge pede a Blueberry em segredo que vá até a estação central da UP e providencie a transferência dos recursos necessários à continuidade das atividades da construção da ferrovia. No entanto, Jethro Steelfingers tem outros planos para satisfazer seus próprios interesses. Esse álbum tem uma boa sequência de ação no melhor estilo cinematográfico que o coloca como um dos melhores desse segundo arco.

NA PISTA DOS SIOUX: Publicado originalmente no álbum LA PISTE DES SIOUX e no Brasil pela primeira vez em TENENTE BLUEBERRY #4, de 1992, a trama nos mostra Blueberry tendo que lidar com as consequências de suas próprias escolhas na escolta do numerário para a Union Pacific bem como das ações perpetradas por Jethro Steelfingers para impedi-lo a todo custo. Aqui é possível ver a história enveredar por uma série de acontecimentos que trarão repercussões de médio e longo prazo para todos os envolvidos, mas ainda que não seja a conclusão do segundo ciclo (que só se dará na primeira história da próxima EDIÇÃO DEFINITIVA), tem-se a conclusão de algumas situações e personagens, assim como o surgimento de novas circunstâncias que colocarão Blueberry e seus amigos em situações ainda mais complicadas. Nas histórias aqui mencionadas é possível perceber, como já dito, a evolução do estilo de Jean Giraud e seu gradual desvencilhamento do de seu mentor Jijé ao adotar um nanquim mais pesado em algumas cenas, bem como tracejados, pontilhismos e hachuras sobretudo nas cenas de maior amplitude e escala, conferindo-lhes um alto grau de magnitude e profundidade. E se percebemos essa sensível e gradativa evolução na esplêndida arte, o progresso na prosa de Jean-Michel Charlier se mostra muito mais contundente a partir da história O CAVALO DE FERRO, estabelecendo e determinando os acontecimentos da trama ficcional em fatos reais e personagens históricos com maestria singular poucas vezes observada na Nona Arte.

Esta história marca não apenas o fim da análise desse primeiro volume de BLUEBERRY – EDIÇÃO DEFINITIVA, como também marcou o fim do título TENENTE BLUEBERRY da Editora Abril – que nem sequer se preocupou na época em publicar a conclusão desse segundo arco, deixando-o em aberto até hoje para os leitores brasileiros – relegando o personagem a um limbo editorial sem quaisquer outras publicações nacionais até a equivocada tentativa da Panini em 2006 de publicar um arco de histórias muito a frente na cronologia do personagem, que também não seguiu adiante. No entanto, a despeito do descaso de décadas com o personagem – finalmente corrigido pela editora Pipoca e Nanquim – , essa EDIÇÃO DEFINITIVA de BLUEBERRY traz uma das maiores pérolas dos quadrinhos franco-belgas cuja leitura se recomenda veementemente, pois vale a pena conhecer. Além de histórias magistralmente escritas e belamente ilustradas, o repertório de material extra, que inclui vários textos com detalhes e inúmeras curiosidades de bastidores e fotos, enriquece a experiência de leitura dessa obra que certamente será capaz de provocar uma indiscutível conexão entre o leitor e a obra. De qualquer forma, finalmente agora teremos a chance de ver não apenas a conclusão desse segundo ciclo como também sua continuação, pois já se encontra em pré-venda BLUEBERRY EDIÇÃO DEFINITIVA VOL. #2 da Editora Pipoca e Nanquim. Esperamos que essas singelas resenhas possam ter contribuído na escolha de quem nos brinda com sua atenção no sentido de adquirir essa verdadeira maravilha impressa em celulose.

Avaliação: 5/5.

Vida longa e próspera e até a próxima!🖖🏻

Você encontra os quadrinhos de Blueberry na Metrópolis Quadrinhos. A Metropolis Quadrinhos fica na Rua Dias da Cruz, 203 – Loja 11 Galeria – Méier, Rio de Janeiro – RJ. Telefone: (21) 2595 1242.

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