Por Adilson Carvalho

Não há quem nunca tenha passado por uma fase difícil na vida. Imagine então que em seu momento de maior desespero, um anjo desce à Terra para ajudá-lo. Assim é o clássico A Felicidade Não se Compra (It’s a Wonderful Life) – um típico filme para uma noite de Natal – que completa agora quase oitenta anos de seu lançamento original. Falar de A Felicidade Não se Compra é falar de dois nomes emblemáticos da clássica Hollywood: O diretor Frank Capra e o ator James Stewart. Capra foi um dos mais importantes diretores de sua geração, sempre explorando o sonho americano, o homem comum em modernas fantasias urbanas. James Stewart um ícone do cinema que retomava então sua carreira após o fim da segunda guerra, na qual lutara. O filme, o favorito de Capra, foi gravado em 90 dias, o primeiro e único que o próprio diretor viria a financiar com seus próprios recursos. A história mostra a pacata cidade de Bedford Falls, onde o bondoso empresário George Bailey (Stewart), um homem de boa vontade que sempre ajudou a todos, se vê em sérios apuros financeiros, endividado e nas mãos do cruel banqueiro Henry F. Potter (Lionel Barrymoore). Acuado por seus credores e vendo sua esposa e filhos vulneráveis a tudo, George decide cometer suicídio, se jogando do alto da ponte. Nesse momento seu ato é contido por Clarence, um espírito desencarnado que para merecer suas asas de anjo precisa salvar George de sua decisão fatal. Clarence (Henry Travers) mostra então a George como seria a vida de todos na cidade se ele não tivesse existido, uma realidade de pesadelo onde o Sr.Potter oprime a vida de todos na cidade. George percebe o quanto sua vida é essencial para todos e desiste de seu desejo fatal, reconhecendo que sua vida é maior que os problemas que carrega. De volta ao mundo real, George recebe a ajuda de todos que ele no passado ajudara e consegue assim pagar suas dívidas, num gesto de bondade coletiva que contagia a todos ao redor.

Tentem assistir ao filme sem chorar ao final, é um desafio. O filme consegue tocar individualmente cada um que já passou por tristezas na vida e revigora nossa força interna e capacidade de superação. Apesar de mensagem tão positiva o filme foi um fracasso de bilheteria em 1946, só sendo finalmente reconhecido quando foi redescoberto pelas reprises televisivas. Ainda assim foi indicado ao Oscar em várias categoria e chegou a ganhar o Golden Globe de melhor diretor. Para a atualidade, o filme de Capra ficou em 11º lugar na escolha do AFI dos 100 melhores filmes. A banda McFly chegou a adaptar as falas de George Bailey para sua esposa, interpretada por Donna Reed (esta em seu primeiro papel de protagonista nas telas), o que mostra que a força de determinados filmes não acaba com a passagem do tempo. James Stewart tinha 38 anos na época das filmagens. O ator reprisou o papel em uma adaptação do filme feito para o rádio dois anos depois. O papel de George Bailey chegou a ser pensado para Cary Grant (antes de Frank Capra assumir o projeto) e Henry Fonda se interessou pelo papel que ficou com Stewart, conforme vontade de Frank Capra desde o começo. O filme é o único na história a ser baseado em um conto escrito em um cartão de natal por Philip Von Doren e consegue manter forte seu discurso anti-materialista e uma bela mensagem de que “Nenhum homem é um fracasso”, conforme dito no filme que também era o favorito de seu protagonista. Uma lição que também tento incutir em minha vida, pois esta é tão maravilhosa quanto seu título original. Há quase 80 anos!!!
Prezado,
Assiti, por indicação do meu irmão Jurandir Bernardes de Lima(in memorian), de codinome Faroeste, a dois filmes de Frank Capra: A felicidade não se compra e A mulher faz o homem. Em ambos percebo, uma grande dose de humanização dos seus personagens como se fosse mesmo uma tentativa de resgate do ser humano pela perda do Paraíso, ou seja, trazer o homem de volta ao seu original estado de pureza outrora perdido com sua expulsão do Paraíso. Posso estar enganado mas, em A felicidade não se compra, por exemplo, há uma tentativa desse resgate quando o personagem principal George Bailey (Stewart) corre desesperado pela cidade pedindo ajuda e ninguem o reconhece e mostra como aquele lugar se tornara diferente e caótico(assistam ao filme, vale muito à pena)!
Agora, que estou tencionando me impor um grande desafio(espero que se concretize), quero assiti a mais alguns filmes da filmografia desse grande diretor para poder tecer comentários com mais propriedade sobre ele e seus filmes.
Mariano Bernardes de Lima
marianobernardes1951@gmail.com
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“Em ambos percebo, uma grande dose de humanização dos seus personagens como se fosse mesmo uma tentativa de resgate do ser humano pela perda do Paraíso, ou seja, trazer o homem de volta ao seu original estado de pureza outrora perdido com sua expulsão do Paraíso” (Mariano Bernardes Lima)
Quero parabenizar por tamanho brilhantismo em seu comentário, Mariano. Era exatamente isso que Capra propôs em seus filmes, mas ao fazer esta proposta, ele pensou no ideal norte-americano, em uma época em que a nação tentava se recuperar da grande crise de 1929, e na iminência de uma nova guerra mundial. Visto aos nossos dias por um crítico jovem e sem ótica, inspira a esta muita ingenuidade para não dizer “caretice”. Quando eu falo sobre cinema ou filmes clássicos e antigos para alguém com idade para ser meu filho, eu proponho que ele, por alguns momentos, “mergulhe” na época do filme. Para ver a FELICIDADE NÃO SE COMPRA e entendermos sua mensagem, é preciso não só mergulhar no costume e na época de sua história e de seus personagens, mas entender quem foi Frank Capra, filho de imigrantes italianos que se instalaram na América do Norte, e que fez dos Estados Unidos o seu lar. Capra prestou homenagens a América e rotulou personagens íntegros (para não dizer “imaculados”). Como seres bons, são sofredores, tais como Gary Cooper e James Stewart (O GALANTE MR.DEEDS – A MULHER FAZ O HOMEM e A FELICIDADE NÃO SE COMPRA), prontos para sacrificarem suas próprias vidas pela Justiça. Este artigo, escrito pelo colega Adilson Carvalho, é uma epopeia de lembranças e avaliações deste grande clássico do cinema mundial, uma obra prima inesgotável.
PAULO TELLES – CRÍTICO E COLABORADOR
https://cineretroboavista.blogspot.com/
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