Por Adilson Carvalho.

O entrevistado especial do cinemacompoesia é a jornalista e crítica de cinema Renata Boldrini. Apresentadora do Telecine, já viajou o mundo encontrando grandes nomes do showbizz, como Brad Pitt, Beyoncé, Arnold Schwarzenegger, George Clooney, Tom Cruise, Bruce Willis e Angelina Jolie. Cobriu importantes festivais, como os de Cannes, Veneza, Paris, Los Angeles e Havana, além de ser a apresentadora oficial do festival de cinema de Gramado desde 2007. Com muito orgulho converso agora com Renata Boldrini.
Adilson: Como começou esse amor pelo cinema? Em que momento a cinéfila Renata Boldrini decidiu ser jornalista e crítica?
Renata: Falar de cinema é sempre uma delícia, mas até começar a trabalhar na Rede Telecine em 1996, eu não era cinéfila. Eu gostava, conhecia alguma coisa mas não era uma ratinha de cineclube. Eu fui aprendendo tudo isso depois que entrei para o Telecine. Tive um professor na faculdade, que era um cinéfilo, e me deu uma chuva de informações sobre cinema, sobre os grandes clássicos, que me recomendou livros para ler e filmes para ver. Aí eu fui começando a estudar, a ver muitos filmes, e foi aí que me apaixonei completamente pelo cinema, por essa arte que é tão completa, né. Outra coisa, é que não sou crítica de cinema. isto foi uma decisão minha. Sou uma jornalista especializada em cinema, e como tal consigo falar somente dos filmes que gosto, o que é uma grande diferença entre o que faço e o papel de um crítico. Claro que tem filmes que não gosto, mas deixo isso para a conversa entre os amigos. Quando falo de um filme gosto de falar de um filme que eu gosto, de que as pessoas gostem. Muita gente fala que eu falo bem de tudo que vejo, mas não é isso, mas o fato de que eu somente vejo o que eu gosto. Isto é libertador para mim.
Adilson: O cinema clássico carrega uma aura inegável. De fato, você acha os filmes antigos melhores que o atual? Ou, poderíamos dizer tão bom quanto?
Renata: Acho que é tão diferente e mesmo muitos dos filmes atuais se tornarão clássicos no futuro. Eram outros tempos, era uma época em que muita coisa na linguagem cinematográfica era experimentava e hoje bebemos muita desta fonte, e com isto se inova muito pouco hoje em dia, um movimento novo, uma linguagem completamente nova. Veja os exemplos de Spielberg, Scorcese e Tarantino que fazem filmes e bebem de toda esta fonte de referências do cinema clássico, e transformam filmes atuais em clássicos. Não posso falar que um é melhor e outro pior. Tudo está conectado na verdade e cada filme é produto de sua própria época.
Adilson: Tem sido difícil avaliar os rumos da atual greve de roteiristas e atores em Hollywood. Quanto tempo a indústria cinematográfica conseguirá se reestruturar após seu fim com as questões envolvendo o uso de inteligência artificial e o avanço cada vez maior do streaming?
Renata: Já está impactando uma vez que muitos filmes adiaram suas datas de estreia por causa da greve. O estúdio esta perdendo dinheiro quando adia a estreia de um filme, filmes que iam começar a ser rodados e foram paralisados, e quando você lança um filme e não consegue apoio de um tour de imprensa do qual eles precisam para lançar um filme, e os atores fazem aquele circuito de divulgação pelo mundo inteiro, dando entrevistas, isto tudo alimenta o lançamento de um filme, especialmente nas primeiras semanas quando ele precisa dizer a que veio. Quando um filme é bem sucedido, ele já se paga ali nas primeiras semanas de exibição. Quando você não tem isso, o impacto para os estúdios é muito negativo. Só assim mesmo eles conseguem forçar os estúdios a ceder às suas exigências. Lá nos Estados Unidos, os sindicatos são muito fortes mesmo. Aqui no Brasil não é assim, e os sindicatos aqui são até mal falados. Mesmo alguém como Tom Cruise, que está no topo da cadeia alimentar, entende que a maioria dos atores talvez nunca chegue lá, e ele respeita isso e abraça isso. Os grandes astros são os primeiros que param em prol da classe, lá isto funciona. E é um absurdo que um estúdio ganhe com a voz e o rosto de um ator recriado com Inteligência Artificial enquanto que o ator nada ganha. Isto precisa ser discutido. Eles estão reivindicando coisas absolutamente legítimas.
Adilson: O Oscar vem tentando se adaptar aos novos tempos procurando destacar a diversidade étnica em filmes como Parasita e apelando para a cultura pop como o caso de Tudo todas as coisas ao mesmo tempo. Mas ainda assim muita coisa ainda não mudou. O que está faltando para o Brasil levar um Oscar premiar? Temos atores maravilhosos, diretores talentosos e ainda assim não alcançamos a honraria.
Renata: O Brasil já teve Fernanda Montenegro concorrendo como melhor atriz e já tivemos indicação para o prêmio de melhor filme estrangeiro. Mas entre as categorias principais é muito raro. A Academia está um pouco mais aberta, então é possível que em algum momento a gente chegue bem perto disso. Mas o Brasil não precisa estar lá, o Oscar é uma festa americana, enquanto nosso país ainda precisa firmar seu público aqui dentro. Sim temos filmes com capacidade de chegar ao Oscar, mas não devemos esquecer que nos Festivais Internacionais, que eu frequento, todos são muito receptivos às nossas produções, e festivais de importância maior que a do Oscar. Já estivemos no Festival de Veneza, em Cannes. Aposto que a maioria dos realizadores preferem ganhar a Palma de Ouro em Cannes que um Oscar. Um realizador brasileiro não vai mudar sua vida ganhando um Oscar, mas vai mudar ganhando em Cannes. Mesmo um ator ou diretor americano que tenha vencido um Oscar, não teve necessariamente a vida modificada por ter recebido um Oscar.

Adilson: Quem são seus ídolos do cinema?
Renata: Existem muito atores que eu admiro e acompanho. O grande cineasta de quem eu sou super tiete é o Quentin Tarantino, o próprio Scorcese, Spielberg, a Sofia Coppola que faz um cinema lindo. São tantos que não consigo categorizar, por exemplo Woody Allen, Cate Blanchett (adoro tudo que ela faz), Chris Nolan, Wagner Moura, são pessoas que me levam ao cinema sem que eu precise ler o script.
Adilson: A premiação de Mussum o Filmis em Gramado aponta mais uma cinebiografia de sucesso e ultimamente grandes filmes do gênero vêm sendo feito aqui no Brasil como Elis, Tim Maia, Erasmo Carlos. Teremos também Nosso Sonho, sobre Claudinho & Bochecha, além de outros. Seriam as cinebiografias o nicho que vai levar nosso cinema a ser levado mais a sério?
Renata: Acho que fazemos muito bem isso. Já tivemos Elis, Tim Maia, Cazuza, todos figuras que o público tem muito carinho e isso atrai as pessoas para as salas de cinema. Vi a pre estréia de Nosso Sonho e o filme está uma graça, uma história de amizade que realizam seu sonho, uma história linda, teremos em breve também Meu Nome é Gal. As pessoas vão curtir muito a Sophia Charlotte, que praticamente encarna a Gal, é impressionante e depois teremos o filme do Mussum, com o Ailton Graça, que eu assisti no Festival de Gramado. Emocionante. O Ailton Graça está idêntico ao Mussum desde a primeira cena que faz parecer que é uma imagem de arquivo, mas era o Ailton interpretando. Ele é mais parecido com o Mussum do que o próprio Mussum. Ele mereceu o prêmio em Gramado. Eu curto muito as cinebiografias.

Adilson: Que som você gosta mais e qual você odeia?
Renata: Gosto muito de ouvir é minha filha me chamando, dizendo que me ama. O que eu menos gosto e ouvir é gente comendo pipoca de boca aberta no cinema. Isto me sobe na espinha.
Adilson: qual profissão você jamais teria?
Renata: Medicina. Não tenho condições de entrar em uma sala de cirurgia por exemplo.
Adilson: Qual profissão além do jornalismo você gostaria de experimentar?
Renata: Eu queria ser arquiteta ou historiadora.
Adilson: O que você gostaria de ouvir de Deus ao chegar no paraíso?
Renata: Eu queria ouvir Deus me dizer que tive uma boa passagem por aqui, que fui uma boa filha, que fiz a coisa certa.