Por Adilson Carvalho
“Acho que esta é apenas mais uma causa perdida, Sr. Paine. Vocês não sabem nada de causas perdidas. O Sr. Paine sabe. Ele disse uma vez que eram as únicas causas pelas quais valia a pena lutar e lutou por elas uma vez. Pela única razão pela qual qualquer homem luta por elas. Por causa de uma única e simples regra. Amar o próximo. E neste mundo atual de grande ódio, um homem que conheça essa regra tem uma grande confiança. … Todos vocês pensam que estou enganado. Bem, eu não estou enganado. E vou ficar aqui e lutar por esta causa perdida. Mesmo que esta sala fique cheia de mentiras como estas. E os Taylors e todos os seus exércitos venham a marchar para este sítio. Alguém me vai ouvir.” Esse belíssimo discurso só poderia sair mesmo de um filme de Frank Capra, e dito por ninguém menos que James Stewart em sua interpretação de Jefferson Smith, um homem comum, honesto e de boa vontade, eleito senador, e se descobrindo vítima de um esquema corrupto que remonta aos altos degraus do poder.

A Mulher Faz o Homem (Mr. Smith Goes to Washington) foi o 24º filme que Capra fez para o estúdio da Columbia, vencedor do Oscar na categoria melhor roteiro adaptado (apesar de não ser uma adaptação) e melhor história original. Foi também indicado nas categorias de melhor filme, melhor direção, melhor ator (James Stewart), melhor ator coadjuvante (Claude Rains e Harry Carey), melhor direção de arte, melhor edição, melhor trilha sonora e melhor som. O filme tem a marca de Frank Capra, histórias em que um Davi (Stewart) enfrenta um Golias (toda a máquina política corrupta do país), e assim perpassa pela própria alma da América. O belíssimo roteiro de Sidney Buchnan para a história de Lewis R. Foster despertou sentimentos antagônicos, sendo aplaudido pelo público, que via em Jefferson Smith (Stewart) a encarnação de tudo que fazia dos Estados Unidos um país livre, lembrando que o país estava recém saído da depressão, e o mundo mergulhava na Segunda Guerra. Enquanto alguns elementos no senado americano achavam um ultraje a denuncia de que havia corrupção no Congresso, na Europa os países fascistas e nazistas odiaram o filme porque mostrava a democracia como um regime funcional. As cenas que James Stewart passeia pelos Monumentos de Washington foram gravadas sem a permissão do governo, aumentando ainda mais a insatisfação de alguns escalões do poder. Já a cena câmera do Congresso foi feita em estúdio, recriada pelo diretor de arte Lionel Banks.

O filme foi planejado para ser uma continuação de O Galante Mr. Deeds (1936), com Gary Cooper novamente no papel, e sendo chamado de “Mr. Deeds Goes to Washington“. Como Gary Cooper estava indisponível para o filme, Capra conseguiu James Stewart emprestado pela Metro. Segundo Jean Arthur, Stewart era um dos primeiros a chegar no estúdio para gravar e encarava o papel como o melhor dos papéis. Também veio a se tornar o filme favorito de Jean Arthur, que nos bastidores não se deu muito bem com seu co-astro. Em 1941, a Columbia foi processada por Louis Ullman e Norman Houston, ambos alegando que este filme foi plagiado dos seus respectivos trabalhos escritos, mas a Columbia ganhou o caso.

O filme permanece como um dos melhores de seu período de produção, uma das obras primas de seu diretor, e uma inspiração, que muito bem poderia despertar em alguém o mesmo espírito que Jefferson Smith, em seu longo monólogo final. Corrupção no Brasil não falta para ser combatida.
Na segunda feira vamos falar de uma mulher inesquecível dos anos 40, e um streap tease feito somente com luvas. Já identificou que filme é ?