Por Adilson Carvalho

Um dos heróis mascarados mais famosos do cinema está ganhando uma roupagem nova em série da Prime Video, somando-se à uma longa lista de adaptações iniciadas quando, há 104 anos, o escritor americano Johnston McCaulley publicou o pulp A Maldição de Capristano publicada em cinco partes na revista pulp All-Story Weekly. O herói foi inspirado em um notório fora da lei chamado Joaquin Murieta, que defendia os indíos locais na California espanhola, e também na figura do personagem Pimpinela Escarlate, da escritora britânica Emma Orczy. na história, o fidalgo Don Diego Vega se torna o Señor Zorro (A Raposa em Espanhol) no povoado de Los Angeles, na Califórnia para vingar os indefesos, para punir os políticos cruéis e para ajudar os oprimidos. Um ano depois. Embora as histórias de McCulley fixassem as aventuras de Zorro na Los Angeles sob o domínio mexicano (entre 1821 e 1846), a versão popularizada pelo cinema trazia Zorro ativo durante a época em que a California era colónia da coroa espanhola.

O sucesso foi tão imediato que em 1920 os astros de cinema Douglas Fairbanks e Mary Pickford selecionaram a história como a imagem inaugural para o seu novo estúdio, o United Artists, adaptando para The Mark of Zorro (1920), que se tornou um sucesso comercial. A intensa demanda pública provocada pelo filme, levou McCulley a publicar mais três novelas seriadas The Further Adventures of Zorro (1922), Zorro Rides Again (1931), e The Sign of Zorro (1941); ignorando que, no final de A Maldição de Capristano, o Zorro revela a sua identidade secreta ao público. Fairbanks compra os direitos de The Further Adventures of Zorro (1922) e decide misturar a história com o romance Don Q’s Love Story, de Hesketh Hesketh-Prichard. O resultado foi o filme Don Q Son Of Zorro (1924), em que Fairbanks interpreta Cesar, o filho de Don Diego, e pelo qual Fairbanks nada pagou a McCaulley.

Novas histórias de Zorro prosseguiu em intervalos irregulares: o terceiro romance, Zorro Rides Again (não confundir com o seriado cinematográfico de 1937) foi publicado em 1931, nove anos após o segundo. Então, entre 1932 e 1941, McCulley escreveu quatro contos e dois romances serializados. Mais tarde vieram mais 52 contos com o personagem para a West Magazine. Já Zorro Rides the Trail!, publicado na revista Max Brand’s Western Magazine em 1954, é a última história a ser publicada durante a vida do autor e a penúltima história em geral. O último, The Mask of Zorro (nenhuma relação com o filme estrelado por Antonio Banderas em 1998), foi publicado postumamente em Short Stories for Men em 1959. Todas essas histórias ignoram a revelação pública de Zorro sobre sua identidade. Em 1939, Bob Kane se inspirou no Zorro, como parte da inspiração para criar o Batman. Na origem do personagem,, os pais de Bruce Wayne são assassinados por um assaltante quando a família deixa uma exibição do filme The Mark of Zorro (1940), estrelado por Tyrone Power.

Em 1940, Tyrone Power, aos 26 anos, estrelou a primeira versão falada de A Marca do Zorro, dirigido por Reuben Mamoulian. O famoso duelo entre Tyrone (Zorro) e o Capitão Esteban (Basil Rathbone) foi encenado com realismo pelo mestre de esgrima de Hollywood Fred Cavens. O filho de Cavens, Albert Cavens, fez de duplo para Tyrone Power nas partes mais extravagantes do duelo (na maior parte das vezes de costas para a câmara). Basil Rathbone, um campeão de esgrima na vida real, não gostava do sabre (a arma de eleição neste filme), mas mesmo assim fez toda a sua própria esgrima. As filmagens rápidas de esgrima foram feitas a 18 ou 20 fotogramas por segundo (em vez dos normais 24 fotogramas por segundo) e todos os efeitos sonoros foram pós-sincronizados. Em 1957, um ano antes da morte de Johnston McCaulley, a Disney adquiriu os direitos do personagem para um seriado televisivo que durou até 1961, com 78 episódios gravados, estrelado por Guy Williams como Don Diego / Zorro, Britt Lomond, Geoffrey Lewis, Gene Sheldon e destaque para Henry Calvin como o Sargento Garcia. O sucesso do Zorro da Disney levou à publicações de várias hqs desenhadas por Alex Toth, o ilustrador e animador que criou personagens míticos de Hanna-Barbera como Space Ghost, Herculóides, Homem Pássaro, Galaxy Trio e Jonny Quest.

Em 1974 A Marca do Zorro foi refilmado para TV com Frank Languella e Ricardo Montalban nos papeis de Tyrone Power e Basil Rathbone. A fantástica trilha sonora de Alfred Newman foi então reutilizada. Em 1981 George Hamilton fez uma paródia entitulada As Duas Faces do Zorro (Zorro, The Gay Blade), onde o ator vive um papel duplo , interpretando Don Diego de la Vega (Zorro) e seu irmão gêmeo gay, Ramón de la Vega. Entre 1990 e 1993, Duncan Regehr interpretou o herói de capa e espada em uma nova série filmada em Madrid, Espanha. Zorro ou Zorro – A Lenda Continua teve 88 episódios. Em 1995, a série da Disney com Guy Williams foi colorizada por computador e exibida com sucesso no Brasil (Exibido pela Rede Record), apresentando o personagem para uma nova legião de fãs, e abrindo espaço para a chegada do bem sucedido A Máscara do Zorro (1998), produzido por Steven Spielberg, dirigido por Martin Campbell (007 Cassino Royale), e trazendo Anthony Hopkins como uma versão envelhecida de Don Diego, que treina seu substituto (Antonio Banderas), apaixonado por Elena (Catherine Zeta Jones), filha do Zorro original.

O filme foi um grande sucesso e gerou a continuação tardia A Lenda do Zorro (The Legend of Zorro), reunindo Antonio Banderas e Catherina Zeta Jones. Em 2005, a escritora chilena Isabel Allende, autora de A Casa dos Espíritos, publicou Zorro – Começa a Lenda, como uma biografia do herói mascarado, incorporando detalhes de uma variedade de obras que apresentam o herói pulp, incluindo o filme A Máscara do Zorro de 1998. Com tanto sucesso e outras cem mil adaptações aqui não mencionadas povoando teatro, literatura, TV e cinema, certamente podemos dizer que o Z não marca apenas a justiça, mas também o sucesso de gerações. Volte aqui na semana que vem para conferir algumas das produções europeias do Zorro.