ENSAIO: BELLA BAXTER E OUTRAS POBRES CRIATURAS

Por Adilson Carvalho

A história de Pobres Criaturas (Poor Things), que chega às telas badalado pelas premiações de janeiro (Golden Globe e Critical’s Choice), na verdade é inspirada em Frankenstein, de Mary Shelly, mais especificamente colhendo elementos de partes específicas do clássico livro. A versão mais prestigiada da obra de Shelley foi realizada pela Universal, um estúdio menor no início da década de 30. Um roteiro preliminar foi planejado para ser dirigido por Robert Florey (Os Assassinos da Rua Morgue) e repetindo Bela Lugosi no papel do monstro, e com roteiro supostamente fiel ao livro. O projeto foi cancelado em favor de uma versão embebida de atmosfera expressionista e conduzida tal qual um pesadelo com direção de James Whale e com Boris Karloff (então um ator de segundo escalão) como o monstro. Como Whale não aproveitou muitos elementos do livro original, a história tomou um novo rumo quando Whale foi chamado pela Universal para dirigir “A Noiva de Frankenstein” (The Bride of Frankenstein) em 1935.

O resultado foi bem melhor e Karloff está mais a vontade no papel, além de Elsa Lanchaster no papel título, ainda impressionante à luz de hoje. A atriz disse na época, que a sua atuação de cuspir e assobiar foi inspirada nos cisnes do Regent’s Park, em Londres, que ao seu ver eram “criaturas realmente muito desagradáveis”.Elsa Lanchester tinha apenas 1,80 m, mas para o papel foi colocada em saltos que a tornavam com 1,80 m de altura. Eram 3 horas para aplicar a maquiagem no rosto da atriz e as ligaduras foram-lhe colocadas com tanta força que não conseguia mexer-se e tinha de ser carregada pelo estúdio e alimentada por uma palhinha. O resultado foi eficiente e Elsa alcançou prestígio no gênero.

Em décadas futuras a ideia de criar uma mulher ou recriá-la foi relegada à comédia seja ela feita de megabites como em Mulher Nota Mil (Weird Science), de 1985, com Kelly Le Brock, ou no terrir A Noiva de Chucky (The Bride of Chucky), de 1998. Mas, foi feita uma tentativa de maior seriedade em A Prometida (The Bride) de 1985, com Sting e Jennifer Beals vivendo Eva. O filme acabou recebendo uma indicação ao Framboesa de Ouro na categoria de Pior Atriz (Jennifer Beals). Mas a mais clássica criação imagética de uma mulher ainda permanece sendo Maria (Brigitte Helm), a androide feminina, em Metrópolis, de Fritz Lang (1927). Entre essas outras certamente serão verificadas e ainda inventadas nas telas, e Bella Baxter (Emma Stone) já figura entre as mais adoráveis, ou deveria dizer assustadoras ?

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