CLÁSSICO REVISITADO: NASCE UMA ESTRELA 1954

Por Adilson Carvalho

Depois de uma bem sucedida produção em 1937, Nasce Uma Estrela ganhou uma segunda versão ainda mais pungente com direção do renomado George Cukor. Depois da dissolução da“Selznick International Pictures” , que detinha os direitos do filme, estes foram vendidos para Sid Luft, então marido de Judy Garland. Luft conseguiu convencer George Cukor a assumir a cadeira de diretor e fazer dessa adaptação um filme musical com roteiro assinado por Moss Hart. Este teve a ideia triunfal de usar a música como fio condutor da história de Norman (James Mason) e Vicky (Judy Garland). Uso criativo do Cinemascope, o filme foi preparado para ser o retorno ao estrelato de Judy, que estava há alguns anos afastada das telas depois do fim de seu longo contrato com a MGM. George Cukor, que em 1932 dirigira “Hollywood” , filme com mesma temática, aceitou o cargo, que havia recusado em 1937, conduzindo com seu habitual toque tendo uma filmagem atribulada pelos problemas com sua estrela. Judy, então aos 32 anos, encarnava na vida real os conflitos de sua persona abalada pelos vícios e excessos, mas imprimiu na tela uma atuação pungente, intensa, entoando com sua belíssima voz canções como “The Man That Got Away” e “ Gotta Have me Go With You”.

Produzido por cinco milhões de dólares, com esplêndida fotografia de Sam Leavitt, o filme quase teve Cary Grant no papel de Norman Maine, mas este teve receio de contracenar com as inconstâncias de Judy Garland. Apesar do sucesso, Cukor nunca chegou a ver seu filme pronto. Assim que encerrou as longas filmagens, o diretor viajou para a Europa em busca de locações para seu próximo projeto. Nesse meio tempo a Warner cortou 27 minutos de sua metragem original de 181 minutos além de adicionar a canção “Born in a Trunk”. Somente em julho de 1983, a Academia de Artes e Ciências de Hollywood relançou o filme restaurando 19 minutos das cenas não utilizadas, mas Cukor falecera pouco antes. O sucesso de público e crítica levou Judy a ser indicada ao Oscar de melhor atriz mas perdeu para Grace Kelly no que é considerado uma das maiores injustiças da história. Quando a vitória de Grace era anunciada, os repórteres estavam no quarto de hospital em que Judy estava internada; todo o mundo incluindo a própria acreditando no favoritismo, mas enfrentando uma decepção que abriu mais uma chaga no coração da estrela, um sentimento de rejeição que ela nunca conseguiu superar. Apesar da excelente refilmagem estrelada por Barbra Streisand (1983) e Lady Gaga (2018), o filme de Judy Garland permanece como uma obra excepcional, principalmente pela atuação de entrega de Mason e Garland, com sua performance impactante mesmo tendo passado 70 anos.

Deixe um comentário