Por Paulo Telles & Adilson Carvalho

Don Murray, que estrelou o clássico Nunca Fui Santa (1956) ao lado de Marilyn Monroe, morreu aos 94 anos na última sexta-feira (2/2). Seu filho, Christopher, confirmou a notícia ao New York Times, embora detalhes sobre a causa e o local da morte não tenham sido divulgados.
Nascido em Hollywood, Califórnia, Murray começou sua carreira no teatro, onde chamou a atenção do diretor Joshua Logan. Sua estreia no cinema em Nunca Fui Santa foi como par romântico de Marilyn Monroe, interpretando Bo Decker, um ingênuo cowboy cuja paixão pela loira cativou o público. A performance não só estabeleceu Murray como um talento promissor em Hollywood, mas também demonstrou sua capacidade de trazer profundidade e vulnerabilidade a seus personagens, que seria explorada ao longo de sua carreira. Foi durante a produção que o ator veio a conhecer a atriz Hope Lange (1930-2003), uma das coadjuvantes do filme, com quem se casou em 1956, vindo a ter com ela dois filhos, Christopher e Patricia. Murray e Lange separaram-se em 1961.
Em seu segundo filme, Despedida de Solteiro (1957), Murray demonstrou sua capacidade de mergulhar em personagens emocionalmente complexos, interpretando um jovem noivo que enfrenta uma série de dilemas pessoais e sociais na véspera de seu casamento. A comédia de Delbert Mann destacou a habilidade do ator em retratar vulnerabilidades masculinas, uma capacidade rara em Hollywood na época.

Ele rapidamente expandiu seu repertório com personagens desafiadores em filmes como Cárcere Sem Grades (1957), de Fred Zinnemann, onde interpretou um veterano da Guerra da Coreia lutando contra o vício em drogas. Em Almas Redimidas (1961), de Irvin Kershner, viveu um padre às voltas com gangues de rua.
Don Murray também foi um bom nome dos westerns como Caçada Humana (1958), de Henry Hathaway, vivendo um cowboy fugitivo, e Fama a Qualquer Preço (1959), de Richard Fleicher, onde interpretou um vaqueiro que acaba se tornando um respeitado senador que se dedica a defender uma prostituta (Lee Remick) nas mãos de um inescrupuloso negociante (Richard Egan).
Murray ainda brilhou em outros gêneros, como Fuga de Berlim Oriental (1962), de Robert Siodmak; O Gênio do Mal (1964), de Robert Mulligan, no papel de um delegado, e até em épicos peplum (espadas & sandálias), como A Rainha dos Vikings (1967) e chegou também a protagonizar um dos cinco filmes da antiga franquia do Planeta dos Macacos em A Conquista do Planeta dos Macacos (1972).

Murray também foi atuante na TV a partir de 1968, estrelando ao lado de Otis Young (1932-2001) a série Os Violentos (The OutCasts). A série durou apenas uma única temporada e versava sobre dois homens que se tornam improváveis amigos depois da Guerra Civil Americana, um sulista (Murray) e um negro ex- escravo que lutou pelo Norte (Young), e ambos a viver como aventureiros justiceiros e caçadores de recompensa.
Após uma pausa, Murray voltou ao cinema em 1986 a convite de Francis Ford Coppola, para interpretar o pai de Kathleen Turner, em Peggy Sue – Seu Passado a Espera. Mas a participação no filme foi uma rara exceção, já que Murray se dedicou principalmente à televisão nos últimos anos, onde atuou sem parar até 2001, quando decidiu se aposentar, aposentadoria esta que foi interrompida em 2017 quando resolveu trabalhar para David Lynch, aos 88 anos, em Twin Peaks: O Retorno. E as últimas palavras do protagonista Dale Cooper (Kyle MacLachlan) para Bushnnell Mullins, personagem de Murray na série, serviriam perfeitamente de despedida para o ator: “Você é um bom homem, Bushnell Mullins. Não esquecerei tão cedo sua gentileza e decência.”
Referências Básicas: Site Terra.com.br