MARATONA CCP NETFLIX LOCKE & KEY

Por Adilson Carvalho

Nos.dias de Carnaval vamos rever a  história de “Locke & Key”, adaptada de uma hq criada por Joe Hill e Gabriel Hernandez. A família Locke, depois do assassinato do patriarca Rendell Locke (Bill Hecke), se muda para a mansão da família na cidade de Matheson, no estado de Massachussets. A viúva Nina (Darby Stanchfield) reconstrói sua vida com os filhos Tyler (Connor Jessup), Kinsey (Emilia Jones) e Bode (Jackson Robert Scott) com muitas dúvidas e um alcoolismo mal resolvido. Uma série de eventos sobrenaturais surge à medida que os filhos descobrem várias chaves mágicas, cada uma destrancando um portal ou despertando uma habilidade mágica. O desafio que os aguarda é proteger as chaves mágicas de uma entidade maligna, a misteriosa Dodge (Laysla de Oliveira).

Tyler (Connor Jessup), Kinsey (Emilia Jones) e Bode (Jackson Robert Scott

Produzida por Andy Muschietti e Barbara Muschietti, diretores do mega sucesso “It – A coisa”, a série passou por uma série de mudanças até que chegasse à Netflix. Publicada em 2008  pela IDW editora, e no Brasil pela Geektopia, selo da Novo Século. A hq original e seu autor ganharam vários prêmios internacionais como o British Fantasy Awards e o Eisner Awards, levando a Universal a anunciar em 2014 uma trilogia de filmes que teria produção de Alex Kutzman e Roberto Orci (Star Trek) mas acabou não acontecendo. Até mesmo Steven Spielberg teve o nome associado a uma possível adaptação. O roteiro escrito pelo trio, com colaboração do próprio Joe Hill, consegue explorar bem os elementos sobrenaturais contidos e inserí-los no drama de uma família que precisa se refazer de uma tragédia, cada um transtornado pelo trauma da morte do patriarca da família, assassinado pelo atormentado Sam Lesser (Thomas Mitchell Barnett). Apesar de constantes inserções de flashbacks que diluem o ritmo da trama principal, o roteiro consegue prender a atenção conforme a teia de mistérios constrói um suspense gradativo cheio de referências à cultura pop. O Esquadrão Savini, formado pelos amigos de Kinsey, homenageia o famoso técnico de efeitos especiais que dirigiu o remake do clássico “A Noite dos Mortos Vivos” em 1990. A procura pelas chaves mágicas lembram a busca pelas jóias de poder de Thanos nos filmes da Marvel com Dodge, a canadense de descendência brasileira Laysla de Oliveira de 28 anos, fazendo uma versão feminina mas não menos ameaçadora do vilão Thanos. Há até mesmo ecos visíveis de “As Crônicas de Narnia” seja na existência de portais mágicos ou na presença dos irmãos que assumem o papel de guardiões das chaves. A mansão que habitam, cheia de mistérios, parece se tornar um personagem vivo na história, uma ambientação essencial para o rumo desta.

Laysla de Oliveira

O elenco jovem consegue imprimir credibilidade em cena. Connor Jessup como o irmão mais velho que se culpa pela morte do pai, Emilia Jones faz a irmã do meio que procura se livrar do próprio medo, mas quem rouba a cena é Jackson Robert Scott no papel de Bode, o irmão mais novo. Ele é o catalisador da história, desde o início da história quando liberta Dodge de sua prisão no poço, e ao longo dos 10 episódios quando vai descobrindo o poder das chaves e toma a dianteira para enfrentar sua inimiga. O ator, de 11 anos, é bem lembrado como o pequeno Georgie de “It – A Coisa” e já demonstra domínio de cena suficiente para ir longe em sua carreira. Entre o elenco recorrente temos os rostos conhecidos de Aaron Ashmore (Jimmy Olsen em “Smallville”) e Steven Williams (Arquivos X) como o professor Joe Ridgeway da Matheson Academy. Claro que há várias diferenças entre a hq e a série da Netflix, não apenas o desenrolar da luta entre os irmãos Locke e Dodge, mas até mesmo no nome da fictíca cidade Matheson, homenagem ao escritor Richard Matheson, autor de “Eu Sou a Lenda”. Na história original a cidade se chama Lovercraft, nome de outro renomado escritor do gênero, o norte americano H.P.Lovercraft. No último episódio que o motorista da ambulância é o próprio autor Joe Hill fazendo uma aparição rápida. Hill é o filho do escritor Stephen King, e já demonstra ter herdado o talento do pai para surpreender com histórias que exploram o fantástico. 

A segunda temporada da série trouxe algumas revelações e preparou o terreno para a terceira e derradeira fase que chega à Netflix. A ameaça de Dodge (Laysla de Oliveira) parece ter acabado, o que deixa os irmãos Locke com a guarda baixa, já que não desconfiam que ela não só está viva como também agora ocupa o corpo de Gabe (Griffin Gluck), que planeja criar uma nova chave capaz de dominar aqueles em que foi inserida. Enquanto Bode (Jackson Robert Scott), Kinsey (Emilia Jones) e Tyler (Connor Jessup) desfrutam de uma vida aparentemente normal, sua mãe Nina (Darby Stanchfield) inicia um relacionamento com o Professor Josh Bennet (Brendan Hines), que parece saber algo sobre o passado das chaves mágicas. Seu interesse no passado da gruta torna-se a ponte do roteiro para introduzir o vilão Frederick Gideon (Kevin Durand), que no passado foi o primeiro possuído pelo demônios da fenda dimensional. O início da temporada é morno no entanto, demorando para conduzir a trama ao momento que os irmãos descubram o plano de Dodge/Gabe. As muitas idas e vindas no tempo para mostrar a origem das chaves diluem demais a narrativa, embora o roteiro desenvolva melhor os personagens do Tio Duncan (Aaron Ashmore) e Eden Hawkins (Halle Jones). O romance entre Tyler (Connor Jessup) e Jackie (Genevieve Kang) também pouco contribui até o final dos primeiros episódios, quando o roteiro muda a direção conduzindo a uma tragédia que determinará o início da 3ª temporada. O desfecho da temporada final foi mais fraco, talvez por ter que amarrar todas as pontas soltas e restar pouca novidade a ser desvendada. Ainda assim, a temporada final fez um encerramento tradicional e correto com alguns dos personagens, mas não poupou o coração de Tyler (Jessup), nem dos fãs com o destino final de uma querida personagem (SEM SPOILER). Emilia Jones provou seu talento e fez sucesso no filme No Ritmo do Coração. Joe Hill deve estar satisfeito. Assista as três temporadas de Lock & Key na Netflix e se encontrar uma chave mágica por aí, cuidado.

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