CAMAROTE CCP – STAR + : LA LA LAND CANTANDO ESTAÇÕES

Por Adilson Carvalho

Todos sabemos das atribulações da vida, e de como muitas vezes parece até criminoso ter um sonho que se quer realizar, mesmo quando a realidade ao nosso redor parece dizer “Não”. Alguns filmes tem essa capacidade de inspirar nosso espírito a continuar a acreditar no que nosso coração diz. É para quem busca essa mensagem que “La La Land – Cantando Estações” se transforma em uma agradável experiência cinematográfica.

Confesso que quando o assistir, tentei esquecer da avalanche de prêmios recebida começando no Festival de Veneza, passando pelo Golden Globe, SAG Awards, Bafta e no Oscar. Os superlativos quase sempre impedem a construção de uma visão mais imparcial e o filme de Damien Chazelle tem o desafio de se dirigir a uma geração para a qual o musical é de difícil apreciação. Apesar de não ser o melhor do gênero, o filme de Chazelle consegue cumprir sua missão: entreter e arrancar de nós a vontade de crer que nossas vidas podem ser algo mais além do mundano. O filme tem outros atrativos, no entanto: Serve de um divertido cartão postal de Los Angeles, como um tour por lugares icônicos para a história de Hollywood. Em dado momento, Mia (Emma Stone) está conversando com Sebastian (Ryan Gosling) quando ela aponta para um prédio e revela “foi naquela janela que Humphrey Bogart e Ingrid Bergman” filmaram uma cena em Casablanca”. Em outro momento, o casal faz uma romântica visita ao planetário do Griffith Observatory (recriado em estudio, apesar das tomadas reais do exterior), o mesmo onde se passa parte da ação de “Juventude Transviada”, clássico de James Dean.

Mia abandonou a faculdade  e quer ser atriz enquanto Sebastian alimenta o sonho de ter um clube para tocar jazz, sendo ele um excelente pianista clássico, que possui um banquinho que – como o próprio afirma – pertenceu a Hoagy Charmichael grande nome do jazz. Ryan Gosling passou seis semanas aprendendo a tocar piano, conseguindo arrancar elogios do cantor e compositor John Legend, que aparece no filme como guitarrista da banda de Sebastian. O filme é cheio de referências, prato cheio para os que as reconhecerem a medida que a história segue o passar dos meses, representado pelas estações do ano.As coreografias são dignas de elogio a começar pelo numero que abre o filme gravado sob um sol de 42ºC na auto-estrada de Los Angeles. O diretor se posicionou embaixo de alguns carros para dar instruções aos dançarinos e abre o filme mostrando que apesar dos constantes engarrafamentos da cidade, esta ainda pode inflamar o espírito e nos convencer ao ver a encantadora Emma Stone e o carismático Ryan Gosling dançando no alto de uma colina tendo os céus como cenário natural. Não perca seu tempo comparando La La Land aos musicais clássicos que homenageia. Tudo bem que Gosling e Stone não são Gene Kelly e Cyd Charisse e nem precisam. O cinema mudou, as plateias mudaram e os ícones serão sempre sagrados, exemplos a serem seguidos, a inspirarem jovens atores a fazer algo como Chazelle se arriscou. O roteiro é dele e foi escrito em 2010, antes mesmo dele dirigir “Whiplash – Em Busca de Perfeição” (2014) que curiosamente trazia no elenco J.K.Simmons que em La La Land faz o patrão descontente de Sebasitian.

Voltando aos recordes de premiações e indicações. Foram 14 indicações ao Oscar ganhando 6: Melhor design de produção, direção, fotografia, trilha sonora, música original e atriz para Emma Stone. O filme faz juz a estas por justamente se propor de forma honesta a homenagear a arte cinematográfica, as belos pontos turisticos de Los Angeles, e a apostar na simplicidade de uma história que não guarda rebuscamentos, nem os promete. Mesmo o amor que nasce entre Mia e Sebastian é um clichê assumido, mas não o foco maior do filme, ao menos para mim, até mesmo o relacionamento de ambos serve a algo maior, a concretização do sonho de ser algo mais do que a vida parece impor. O escapismo pretendido se alcança com a certeza final de que Hollywood é – conforme Luçinha Lins cantou – um apaixonante sonho de cenário.

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